Esta decisão da Catoca, que, segundo o seu comunicado, divulgado na sua página oficial, termina hoje uma "expedição de investigação" ao rio e margens do Rio Tchikapa até à fronteira com a RDC, é a resposta ao Ministério do Ambiente do país vizinho que anunciou um processo para exigir uma compensação pelo desastre ambiental provocado por um derrame de resíduos altamente poluentes - metais pesados - da exploração mineira da Catoca, na Lunda Sul, que deixaram os rios Tshikapa e Kasai vermelhos e com graves danos na fauna e flora, que chegou ao grande rio da região, o Rio Congo.

Agora, depois de alguns media terem noticiado que a Catoca tinha admitido o colapso de um açude de contenção deste tipo de resíduos, a Catoca aparece, em comunciado publicado na sua página oficial, a querer sublinhar que essa contaminação não aconteceu e, para isso, organizou esta "expedição" ao longo do rio Tchikapa desde a Lunda Sul à fronteira com a RDC, passando pela Lunda Norte, "fazendo a monitorização in loco ao longo do percurso (...) aferindo a qualidade da água".

Segundo os media locais, este derrame, que teve lugar em finais de Julho, provocou pelo menos 12 mortos e afectou dezenas de milhares de pessoas que tinham nestes cursos de água a fonte da sua subsistência, incluindo a água para o consumo de milhares de famílias.

Face a este cenário, o Ministério do Ambiente congolês fez saber que vai accionar os mecanismos necessários para obrigar a Sociedade Mineira da Catoca a indemnizar os afectados pelo despejo de resíduos, incluindo metais pesados provenientes da actividade de exploração diamantífera, nos rios Tshikapa e Kasai, efluentes do Rio Congo.

Também o Presidente Félix Tshisekedi se pronunciou sobre este problema, lançando um apelo internacional para ajudar a diminuir o impacto desta tragédia ambiental.

Isto, porque, em finais de Julho, um açude da mineração colapsou e um volume substancial de águas alegadamente contendo químicos usados na laboração foram parar ao meio ambiente da RDC levados pelos cursos de água.

Segundo a notícia inicial sobre este problema ambiental, que foi da Reuters, as autoridades congolesas descreveram esta escorrência como uma "catástrofe" para centenas de milhares de pessoas, situação sem precedentes naquele país.

Nessa notícia, onde é citado Raphael Tshimanga, responsável pelo Centro de Investigação da Bacia do Congo, fica claro que já tinham sido registadas a morte de um número elevado de crocodilos, de milhares de peixes e ainda de hipopótamos, sendo ainda conhecida a ocorrência de inúmeros casos de diarreias e outras doenças nas comunidades afectadas, não só dos dois rios da linha da frente mas também no Rio Congo, onde desaguam o Tshikapa e o Kasai.

Foi formada uma equipa nomeada pelos dois Governos para lidar com este problema.

Segundo noticiou a VOA, os responsáveis pela Catoca, a 23 de Agosto, admitiram o problema e explicaram que se tratou de um derrame para o Rio Lova, cujo curso natural o liga aos rios Tshikapa e Kasai, em finais de Julho após o colapso de um tubo de vazão de um dique de resíduos da mina da Catoca, uma das maiores do mundo, tendo estes acrescentado que estavam a dar apoio às comunidades para mitigar o impacto da poluição.

Entretanto, o Centro de Pesquisa em Recursos Hídricos da Bacia do Congo, da Universidade de Kinshasa, anunciou que existe, consequências muito relevantes ainda por analisar, como é a questão do impacto deste derrame nos lençóis freáticos, que são essenciais à vida humana nesta vasta região.

"Não é possível ter sido a Catoca"

O propósito desta expedição agora tornada pública pela Catoca é analisar a qualidade da água deste rio "através da colecta de amostras para análise da caracterização química dos sedimentos arrastados pelas águas, avaliação do plâncton (zoo, cito e ictioplancton), monitorização da fauna (anfíbios, repteis, aves e mamíferos, etc), entre outros".

"Os resultados dessa expedição visam refutar as acusações da República Democrática do Congo, que dão conta que o vazamento terá provocado perdas humanas naquele país vizinho".

Sabino Coqueia, Chefe de Departamento de Segurança de Trabalho e Ambiente da Sociedade Mineira de Catoca, citado no comunicado agora divulgado pela empresa, nota, sem refutar ter ocorrido um "incidente" em Julho, que "não é possível que Catoca tenha feito chegar produtos tóxicos ao rio Tchicapa e adjacentes, visto que Catoca não utiliza produtos químicos no seu processo de produção e os resultados das pesquisas feitas aquando do vazamento de polpa de rejeitados confirmam isso".

"Refutamos todas as acusações, contudo no quadro da nossa responsabilidade social e devido ao forte compromisso que temos com a preservação do meio ambiente, decidimos criar uma equipa multidisciplinar, onde integram representantes de ministérios, universidades, direcções provinciais, ONGs e laboratórios independentes, que está a realizar essa expedição e muito brevemente faremos a apresentação pública dos seus resultados" acrescenta ainda Sabino Coqueia.

Ainda no mesmo documento, a Catoca avança que, "quando do incidente", foi "de imediato aplicado um plano de mitigação do impacto ambiental, monitorizando constantemente o ecossistema, a biodiversidade e a qualidade das águas do rio Tchicapa".

"Este acompanhamento permitiu observar uma melhoria acentuada e contínua da concentração de sólidos em suspensão, corroborando o que se determinou desde o início: apesar de ser um incidente desafortunado, nunca houve risco de vida para as populações", aponta ainda a empresa angolana que explora o 4ª maior mina a céu aberto do mundo num constituída pela Endima, a Alrosa (Russa) e a Lev Leviev International - LLI (China).

No mesmo documento, a Catoca garante que "está a analisar e a reforçar a estabilidade dos diques de contenção".

Além do conjunto de sistemas de protecção, já existentes, foram construídos mais dois diques e está em curso a construção de um terceiro para filtrar as partículas em suspensão, diz a empresa, que acrescenta ter, de forma a "mitigar as consequências na vida das populações que dependem da pesca praticada nos rios afectados" apoiou, até ao momento, "perto 200 famílias com bens alimentares de primeira necessidade".