Na carta de demissão, o ministro congolês comparou a resposta ao vírus a uma «guerra», defendendo que as linhas de comando devem estar "claramente identificadas e definidas".
Para o também médico, não faz sentido "haver mais um centro de decisão, sob o risco de criar confusão, que pode ser prejudicial ao combate" à epidemia.
O anúncio de que o combate ao Ébola passou a estar sob a alçada do Presidente Félix Tshisekedi surgiu três dias depois de a OMS ter elevado a epidemia ao nível de "urgência de saúde pública de interesse internacional", num comunicado da presidência.
Segundo o documento, citado pelas agências internacionais, o comité de especialistas vai assegurar a coordenação de combate ao Ébola "sob a direcção do professor Jean-Jacques Muyambe Tamfum", actual director do Instituto Nacional de Investigação biomédica de Kinshasa.
O médico congolês "fez parte da equipa que investigou o primeiro surto conhecido da doença do vírus Ébola em 1976", lê-se no site da OMS.
Esta quarta-feira, do Banco Mundial chega a oferta de mais um financiamento, na ordem dos 300 milhões de dólares, que se juntam aos 100 milhões já desembolsados pela instituição através do seu fundo de emergência em caso de pandemia, mas surge também o apelo "ao reforço de recursos da comunidade internacional para evitar que esta crise se agrave dentro do país e alastre além-fronteiras", feito pela directora-executiva do Banco Mundial, Kristalina Georgieva, citada num comunicado da instituição.
Já depois da Organização Mundial da Saúde (OMS) elevar, na semana passada, o nível de alerta da epidemia para "emergência de saúde pública internacional", decisão tomada depois de se confirmar que a doença já tinha chegado à cidade mais povoada e estratégica de todas as afectadas até agora, e que estará a 20 quilómetros da fronteira com o Ruanda, o que aumenta o risco de uma propagação da epidemia, as autoridades sanitárias divulgaram o último boletim sanitário, que revela que "o número acumulado de casos é de 2.592, dos quais 2.498 são confirmados e 94 são prováveis".
No total, na RDC foram registadas "1.743 mortes (1.649 confirmadas e 94 prováveis) e 729 pessoas curadas", desde Agosto de 2018.
Os avisos da Organização Mundial de Sáude também já chegaram a Angola, para que o país possa dar resposta a eventuais casos de Ébola nas zonas fronteiriças vindos da República Democrática do Congo (RDC), depois de ter sido declarado o Estado de Emergência Internacional no país vizinho.
"Temos que estar preparados porque somos um país ao lado da RDC e por continuidade junto da emigração das pessoas também devem estar alertas, é necessário prestar atenção para que não se registem casos de contaminação", disse à Lusa o representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Angola, Hernando Agudelo.
Segundo Hernando Agudelo, o Governo de Angola, que partilha uma extensa fronteira com a RDC, tem já elaborado um Plano Nacional de Contingência onde se identificaram os diferentes pilares de uma resposta eventual ao surto.
"O Governo (angolano) está preparado, agora há algumas acções que ainda têm de ser feitas e estamos a trabalhar nesse sentido", frisou, referindo que a organização apoia as autoridades angolanas com "treinamentos para reconhecer a doença".
"Foi feito um treinamento a nível das províncias fronteiriças com a RDC para, primeiro estarem em alerta para que não se passe um caso de ébola sem darem conta e outras acções", explicou.
Tedros acrescentou que as restrições de viagens ou comerciais "não servirão qualquer propósito útil", destacando que já foram feitos 75 milhões de despistes do Ébola em cruzamentos fronteiriços.
"A OMS não recomenda restrições a viagens ou comércio, que, em vez de travarem o Ébola, poderão dificultar o combate à doença", forçando as pessoas a recorrerem a atravessamentos de fronteira informais e não controlados, aumentando o potencial da doença para se espalhar, reforçou o líder da OMS.
A avaliação da OMS indica que o risco de a epidemia continuar a espalhar-se na RDC e na região "permanece muito alto", mas o risco de se expandir para fora dessa região "permanece baixo", continuou Tedros.
"Embora não existam evidências de transmissão local de Ébola em Goma, RDC ou no Uganda, estes dois episódios significam uma preocupação crescente com a expansão geográfica do vírus", disse o responsável da OMS, referindo-se aos casos mais recentes: um sacerdote em Goma e uma mulher que foi para o Uganda.
Para Hernando Agudelo, a vasta fronteira que Angola partilha com a RDC "é motivo de alerta", mas, observa que o problema está a uma distância de quase 2.000 quilómetros e que o contacto com a pessoa contaminada é a principal via de contágio do ébola.