Desde o término oficial do cacimbo (15 de Agosto) que Domingos Francisco não sabe o que é dormir tranquilamente. Com a memória ainda inundada do terror imposto pelas enxurradas que sacudiram Luanda na madrugada de 19 de Abril, esse pedreiro, de 51 anos, passa as noites a interromper o sono com várias espreitadelas pela janela, sempre que o velho tecto de zinco anuncia a chegada das chuvas, seja pelo ruído das pequenas gotas que caem do céu, seja pelo abanar das chapas que ficaram sem grampos.
"Não tem como, mano. Aqui é estado de alerta sempre", diz Francisco aos repórteres do Novo Jornal, no mesmo instante em que os convida a visitar a sua residência, uma casa cujas paredes brancas ainda conservam as marcas das águas cinzento-acastanhadas que chegaram a roçar os dois metros, estragando tudo quanto era electrodoméstico.
Aliás, no chamado bairro da Encibe, situado numa espécie de "enclave", pertencendo ao município do Cazenga, mas sendo facilmente confundido como território do Sambizanga, distrito pertencente ao município de Luanda, são cerca de 100 as casas afectadas pelas chuvas de 19 de Abril. Na altura, dados oficiais reportaram 14 mortos por toda a capital. Três das vítimas eram menores que residiam na Encibe e que Domingos Francisco conhecia muito bem: Leny, Olívia e Mamy, respectivamente, de 8, 4 e 14 anos, eram amigas de alguns dos seus sete filhos.
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