O local faz parte da luta que culminou com a proclamação da Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975, e reza a história que se destacaram na acção, entre outros, os nacionalistas, Paiva Domingos da Silva, Imperial Santana, Virgílio Sotto Mayor e Neves Bendinha (já falecidos).

Neste monumento estão erguidos, há 15 anos, as esculturas de Paiva Domingos da Silva e Imperial Santana, dois comandantes de referência da luta armada de libertação nacional contra a ocupação colonial portuguesa de Angola.

Quem por lá entrar para ter o contacto com a história, não irá gostar da imagem que aquele espaço, que guarda uma das histórias mais marcantes de Angola, agora apresenta, como o Novo Jornal constatou.

O local, que também era escolhido por muitos casais, sobretudos os recém-casados, para sessões fotográficas e de consulta para muitos estudantes, está a degradar-se de forma acelerada.

Os espaços reservados para jardins agora só conservam erva seca, o único sítio que se pode estar no Marco Histórico e que ainda funciona é um restaurante que está sob gestão privada.

Os repuxos de água há muito que deixaram de funcionar. A tubagem dos mesmos fazem um contraste com o capim que invade todos os cantos, o mosaico que cobre o monumento está quase todo partido ou deteriorado.

As paredes do monumento há muito que precisam de pintura e os nomes de "Gangues" são agora as marcas mais evidentes nas paredes do Marco Histórico do 4 de Fevereiro.

Parte das placas de bronze que guardavam os nomes daqueles que com catanas desencadearam os ataques à Cadeia de São Paulo e à Casa da Reclusão para libertar os presos políticos, que eram acusados pelas autoridades coloniais de actividades revolucionárias, foi roubada há já dois anos e até aqui nada se sabe.

O Novo Jornal soube no local que os seguranças que o monumento tem e que, em determinadas alturas, impedem o pior, pertencem ao restaurante.

"Mesmo assim é muito complicado. Temos que chamar a polícia quase sempre para intervir em muitas situações uma vez que os marginais saltam o muro para virem fazer coisas menos boas", contou um dos seguranças, sob anonimato, que acrescentou: "O Marco Histórica do Cazenga só é valorizado pelas autoridades quando se aproxima o dia 4 de Fevereiro e mais nada".

Entretanto, por de trás do monumento existe uma esquadra policial que cobre a zona do Zamba I e arredores mas nem por isso os marginais deixam de fazer estragos.

Responsabilidade é do Governo

Em conversa com o Novo jornal, o administrador do Cazenga, Albino da Conceição, realçou que o avançado estado de degradação que o Marco Histórico do Cazenga apresenta não é problema da sua administração e que muito já falou para que gestão do monumento passe para a sua esfera.

O responsável salientou que a gestão do Marco Histórico do Cazenga é da responsabilidade do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente.

"Por não ser da nossa responsabilidade não podemos fazer absolutamente nada para reabilitá-lo ou para o colocarmos a funcionar como deveria de ser. O restaurante que ainda funciona dentro do monumento foi cedido a um agente privado pela gestão anterior do município", disse.

Sobre o assunto o Novo Jornal contactou Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa (GCII) do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente, mas este remeteu o assunto para o gabinete de turismo e cultura do município do Cazenga.

Daniel Pimpão, o responsável deste gabinete disse ao Novo Jornal que a administração municipal apenas controla o monumento por estar na sua zona de jurisdição, mas que não tem gestão da infra-estrutura, tal como afirmou o administrador do Cazenga.

"Nestes últimos meses até fazíamos a manutenção, mas não é da nossa responsabilidade. É mesmo do Ministério da Cultura, Turismo e Ambiente", afirmou, acrescentando que era um esforço muito grande que a administração fazia para manter limpo o local.

"Rainha do 4 de Fevereiro" exige reposição das placas roubadas no marco histórico

Em declarações à Angop, em Fevereiro do ano passado, a sobrevivente do "4 de Fevereiro", Engrácia Francisco Cabenha, a única mulher a integrar o grupo de 3.123 nacionalistas que atacou as cadeias coloniais em 1961, dando início à luta armada de libertação nacional, exigia a reposição da placa de bronze com os nomes dos nacionalistas participantes no ataque.

A rainha realçou que a placa de bronze que contém os nomes dos nacionalistas que lutaram por essa causa, está desaparecida desde 2018.

"Isso em nada prestigia a história de Angola. Esperamos que os culpados sejam encontrados e responsabilizados e que se reponha placa de bronze no local", apontou.

De recordar que o monumento foi inaugurado a 19 de Setembro de 2005, em homenagem aos heróis tombados pela causa da independência.

O Marco Histórico do Cazenga custou ao Governo cerca de cinco milhões de dólares e possui uma escultura de 24 metros de altura, duas estátuas, de seis metros cada, simbolizando as figuras dos comandantes Paiva Domingos da Silva e Imperial Santana empunhando catanas, em posição de ataque. Uma grande catana faz parte igualmente do monumento.

Comporta ainda três painéis em alto e baixo-relevo descrevendo os assaltos às cadeias e esquadras policiais e três placas em bronze contendo os nomes dos principais intervenientes naquelas acções.