Realizado pela Rede Global Contra as Crises Alimentares (GNAFC, na sigla em inglês), uma aliança da ONU com a União Europeia e agências governamentais e não-governamentais, o documento prevê "riscos significativos" para a população e considera as condições climáticas extremas como principais causas.
A emergência alimentar - ou fase 4 na classificação universal da insegurança alimentar - é a segunda mais elevada da escala, sendo que a fase 5 representa situações de catástrofe.
"Múltiplas formas de desnutrição continuam a ameaçar o bem-estar das crianças angolanas", avisa o relatório, demonstrando prevalência "muito alta" de deficiências de crescimento das crianças, com 1,9 milhões de crianças menores de cinco anos nessa condição.
"As deficiências de micronutrientes são prevalecentes, com 65 por cento das crianças a sofrer de anemia", acrescenta ainda o documento da GNAFC.
"As altas concentrações de pessoas com insegurança alimentar aguda nas províncias do sul reflectem os efeitos da redução de colheitas devido à seca em 2019 e os altos preços dos alimentos básicos", lê-se no estudo.
Cahama, Cuangar, Cunhama, Gambos (ex-Chiange), Ombadja e Quilengues são descritos como municípios já na fase 4, ou seja, de emergência alimentar.
O relatório alerta que "riscos significativos permanecem para as populações com insegurança alimentar após a pior seca em 30 anos" e que as importações de alguns cereais poderão ser mais elevadas do que a média para satisfazer as necessidades de consumo nacionais.
O documento acrescenta que os cerca de 56 mil refugiados ou requerentes de asilo, maioritariamente da República Democrática do Congo, estão em níveis piores de insegurança alimentar: em Maio de 2020, 41% dos refugiados consumiam quantidades inadequadas de comida.
"Angola tem feito progressos económicos e políticos substanciais desde o fim da guerra em 2002, mas grandes partes da população ainda vivem na pobreza e sem acesso adequado a serviços básicos", descreve o relatório, citando a Universidade de Oxford.
Angola fez parte de um conjunto de 55 países estudados, "escolhidos por consenso" entre 16 parceiros do estudo, por serem países "tradicionais" em estudos de crises, onde já existiam problemas e já estavam instalados sistemas de dados, explicou Arif Husain, economista do Programa Alimentar Mundial.