Uíge, Kwanza Norte, Malanje, Kwanza sul, Huambo e Bié são algumas das províncias onde foi possível ao conjunto dos jornalistas que embarcaram neste périplo angolano verificar que se repete a miséria que se traduz por "bandos" de meninos de rua em busca de comida para matar a fome.

Pedro Agostinho, de 16 anos, do município do Dondo, província do Kwanza Norte, é um dos exemplos de crianças que se confrontam com a ausência de alternativa a uma vida passada na rua.

"Vim para a rua à procura de comida. Em casa não tem nada para se comer porque o pai e a mãe não trabalham", conta o jovem num português misturado com a língua kimbundu, acrescentando que às vezes dorme na rua e outras em casa.

Agostinho revela que não sabe ler nem escrever por nunca ter passado por uma escola e declara que gostaria de ir à escola porque quer ser agrónomo no futuro.

"No futuro quero ser a pessoa que cuida da agricultura como é o pai do meu amigo", sonha o jovem, sublinhado que ainda não perdeu a esperança de ser alguém no futuro.

Num meio de seis rapazes, Maria Kimbela, é a única menina e conta que não saiu de casa, mas passa a maior parte do tempo na rua para conseguir sustento para a sua avó de 82 anos de idade.

"A minha avó já é velha e não tem mais força para trabalhar, então venho aqui para pedir comida nos carros que passam para dar de comer a minha avó, conta a jovem de 20 anos, moradora da sede do Waku Kungo, província do Kwanza Sul.

A jovem perdeu a mãe em 2019 vítima de doença e conta que decidiu viver com a sua avó para fugir aos maus tratos do pai quando consome alguma bebida alcoólica.

Chico Bula, de 13 anos, mais conhecido por Puto Leva, prefere viver na rua, deixando a escola onde frequentava a 4ª classe.

"Quando o pai bebe nos bate todos de casa, por isso, eu e o meu irmão decidimos sair de casa para evitar a surra", conta o jovem da comuna do Kambambi.

À entrada da residência Solar do Kuito, local de hospedagem, na província do Bié, a caravana de jornalistas foi recebida à porta por André Cristóvão, um menino que já está nas ruas desde 2019 por alegar que não tem o que comer em casa.

De acordo com a vice- administradora para área social, política e económica, da província do Kwanza Sul, município da Cela, Palmira Feio, os meninos que ficam na rua têm famílias e muitos deles estudam.

"Temos realizado acções de sensibilização no sentido de aconselhá-los para regressarem a casa dos seus pais, mais ainda insistem em ficar nas ruas porque muitos deles conseguem dinheiro de forma fácil, por isso, não saem das ruas", explica a vice-administradora da Cela acrescentando que a campanha vai continuar para se retirar estas crianças e jovens das ruas.