Os denunciantes asseguram que a rede está a estender- se um pouco por todo o território do Talatona e o caso é do domínio da direcção municipal de saúde, que reprova a atitude e apela à denúncia aos órgãos policiais.

O comando provincial da Polícia Nacional (PN) em Luanda desdramatiza a situação e assegura que do trabalho realizado e após um acompanhamento enérgico por parte das autoridades, "os indivíduos deixaram de praticar este acto", versão que é desmentida pelos jovens denunciantes contrariam a versão da PN.

No dia 28 de Junho, a Polícia Nacional em Talatona deteve um cidadão supostamente envolvido no esquema de angariação de pacientes que chegou a ser e interrogado na esquadra do Benfica e colocado em liberdade momentos depois, soube o Novo Jornal.

Nestor Goubel, porta-voz do comando provincial da Polícia Nacional em Luanda, disse que a PN, após tomar conhecimento da situação, desencadeou "uma acção de policiamento que terminou com essas práticas".

"Foi aberto um expediente, chamou-se o individuo e a proprietária de uma das clínicas, que foram ouvidos e desaconselhados a praticar tais actos", disse o superintendente Nestor Goubel, que descartou a possibilidade de se tratar de uma rede organizada.

Sob anonimato, três cidadãos residentes no Benfica, nas imediações do Centro de Saúde Materno Infantil, contaram ao Novo Jornal que estão espantados por até ao momento os jovens se encontrarem em liberdade e a continuar a angariar clientes sob falsos pretextos, mesmo após serem detidos.

"É verdade que estes jovens andam nos hospitais e atraem pacientes para algumas clínicas privadas da zona. Questionámos e denunciámos a situação à polícia, mas até aqui não vimos a actuação policial porque as práticas ainda se mantêm", contam.

Segundo os denunciantes, isto é uma conduta que se está estender um pouco pelo município do Talatona: "Eles vão aos hospitais, aproveitam-se das enchentes e da deficiência no atendimento, iludem os utentes dizendo-lhes que podem fazer as consultas ou os tratamentos nas clínicas de forma grátis e levam as pessoas desesperadas e aflitas para as clínicas onde depois os doentes são obrigados a pagar".

Segundo os denunciantes, os jovens andam com panfletos anunciando a gratuitidade das consultas, mas quando os utentes se deslocam para as tais unidades privadas, são cobrados quer as consultas quer os exames.

"Entram, sobretudo, no Centro de Saúde Materno Infantil do Benfica, que é muito frequentado pela população do Benfica, juntam-se aos familiares ou aos pacientes e convencem-nos a ir para as clínicas como se os pacientes fossem clientes ou produtos", expuseram, dizendo que "são as clínicas que financiam estes jovens".

O director municipal da saúde de Talatona, Marcelino Silva, refere que os mesmos realizam esses actos para descredibilizar os serviços públicos de saúde.

"Eles procuram persuadir os utentes que se deslocam às instituições públicas de saúde a nível local", disse.

Marcelino Silva reprova a prática dos jovens e assegura que os indivíduos, para além de mancharem o nome das instituições públicas, colocam em risco a saúde das pessoas que são vítimas.

"Os jovens andam com muitos papéis de publicidades, entregam-nos de forma clandestina às pessoas dentro das nossas unidades, simulam visitar os doentes e convencem-nos a ir para as suas unidades de saúde", revela.

Entretanto, o Novo jornal apurou que, no mês passado, uma senhora foi alvo de agressão por parte dos jovens após suspeitar da acção dos mesmos e intervir no momento em dois deles levavam 10 utentes.

A mulher apelou às pessoas para não se deixarem levar pelas promessas destes cidadãos que suspeitou "não serem pessoas sérias".

A senhora, segundo apurou este jornal, denunciou o caso à direcção do Centro de Saúde Materno Infantil do Benfica, local onde testemunhou a situação e a direcção informou as autoridades locais.

Mulher foi vítima de difamação

Segundo os jovens que narram os factos ao Novo Jornal, a senhora que testemunhou e denunciou os factos foi alvo de ameaças e difamada pelos jovens que "seduzem" pacientes nos hospitais públicos do Benfica e os atraem para as unidades privadas em troco de recebimento de vantagem.

"Os supostos persuasores tiraram foto da mulher e expuseram-na pelos arredores da zona, sobretudo dentro de uma clínica privada, difamando-a como raptora de crianças do mercado do "areal", no Bairro do Benfica", explicaram.

O Novo Jornal apurou que o jovem detido foi ouvido por longas horas aquando da sua detenção, na esquadra do Benfica, e, segundo informações obtidas, o rapaz terá indicado outros elementos, que deveriam ter sido entregues ao tribunal para julgamento sumário, o que não aconteceu.

O Porta-voz da PN em Luanda, superintendente Nestor Goubel, afirmou que não se trata de um grupo, mas sim de cidadãos (os conhecidos "mecheiros") que se aproveitavam da situação, sobretudo da concorrência dos preços laboratoriais, face às enchentes que se verificam nos hospitais públicos.

"Abriu-se o expediente e o cidadão interrogado nunca mais voltou a fazer tais práticas. Não se trata de um grupo de pessoas que se dedicam a isso, porque fizemos um serviço policial e os jovens que realizavam essas práticas isoladas, desapareceram", reforçou.