Tchissola Figueiredo pediu - "partilhem, por favor" - e, nas últimas 20 horas, cerca de 22 mil pessoas fizeram-lhe a vontade. Com um número crescente de partilhas no Facebook, onde lançou o seu apelo, a jovem de 17 anos tornou-se o rosto da revolta dos alunos do Colégio Turco, encerrado desde a passada sexta-feira por ordem do Ministério das Educação.

Vestida com a farda do colégio - que descreve como "uma das melhores escolas que está a promover o nosso país e a melhorar a qualidade de ensino" -, a estudante começa por dizer que gravou a mensagem, com mais de nove minutos de duração, "para explicar muitos rumores e especulações" que têm circulado nas redes sociais sobre os motivos do encerramento da instituição.

Apesar de sublinhar que até agora ninguém explicou as razões que conduziram a este desfecho, insistindo na pergunta "Qual o real motivo por detrás do fecho da nossa escola?", Tchissola considera que as leituras políticas são descabidas.

Em causa está a alegada pressão que o governo turco estaria a exercer sobre as autoridades angolanas no sentido de fechar o colégio por suposta ligação ao clérigo muçulmano Fethullah Gulen, que está a ser acusado pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan de ter engendrado a frustrada tentativa de golpe de Estado na Turquia, a 15 de Julho de 2016.

"Esse movimento [lançado por Fethullah Gulen] não tem nada de errado, é um movimento humanista, que tem como objectivo mostrar ao mundo que nem todos os muçulmanos são extremistas", diz a estudante, acrescentando: "Não fazemos parte do movimento, mas se fizéssemos não teria mal nenhum".

Além de reforçar a ideia de que "não há nada de errado" no Colégio Turco, a aluna da 12.ª classe lamenta a forma como a Polícia Nacional e o Serviço de Migração e Estrangeiros irromperam pelo local.

"Eles foram violentos, eles nos agrediram física e moralmente porque fizeram tudo na presença de crianças", conta Tchissola, particularmente indignada com o tratamento dado aos professores.

"Incomoda-nos estarem a tratar os nossos professores como criminosos porque somos como família", diz a estudante, adiantando que, na sexta-feira, os docentes foram informados de que teriam cinco dias para sair de Angola.

Sobre o que vai acontecer às centenas de alunos que deixam para trás, nem uma palavra.

"A minha escola dá muitas oportunidades aos estudantes"

"Facto é que o colégio foi encerrado", frisa Tchissola Figueiredo, incansável em enumerar os méritos da instituição.

"O meu colégio fez com que viajasse para representar o meu país", assinala a estudante no vídeo, enquanto exibe certificados sobre prémios conquistados no estrangeiro, nomeadamente nos EUA, Holanda e Azerbaijão.

Também galardoada em Angola, a aluna recebeu, em 2014, o prémio Angola 35 graus, que distingue o contributo de jovens até aos 35 anos para o desenvolvimento nacional.

No caso de Tchissola, o galardão foi partilhado com a colega Josefina Pazo, ambas premiadas pelo destaque académico, obtido com a conquista da medalha de prata na oitava edição da olimpíada internacional de ecologia ambiental, realizada no Azerbaijão.

"A minha escola dá muitas oportunidades aos estudantes", reforça, antes do último repto: "Partilhem para as pessoas saberem".