Entre as várias espécies de animais que vão ser vendidos para parques naturais e jardins zoológicos de todo o mundo estão elefantes e girafas, estando na lista das vendas pelo menos 28 elefantes.

As verbas resultantes desde negócio, que, segundo o ministério do Ambiente da Namíbia, vão ser aproximadamente, em dólares namibianos, 1,1 milhões de dólares norte-americanos, vão ser aplicadas em projectos de conservação da vida selvagem, que é uma das principais atracções turísticas, sendo o sector do turismo um dos pilares da economia do país vizinho.

Recorde-se que esta atitude do Governo de Windhoek surge num contexto de seca extrema no país, tendo, por essa razão, sido declarada situação de calamidade, tendo os serviços de meteorologia apontado que em alguns locais da Namíbia a seca é já a mais severa em mais de 90 anos.

O porta-voz do Ambiente, Romeo Mayunda, citado pela imprensa namibiana, explicou a opção radical com o facto de este estar a se "um ano de particular falta de chuva", o que levou o seu ministério a vender animais de várias espécies de parques públicos e áreas protegidas, o que vai, ao mesmo tempo, "permitir arrecadar receitas para investir na melhoria desses mesmos parques e reservas naturais".

A redução de animais nos parques e reservas naturais, especialmente os de grande porte, como elefantes, búfalos e girafas, é fundamental para que as escassas fontes de alimentação que subsistem apesar da seca não se esgotem antes das próximas chuvas e conduzam milhares de animais à morte por fome e sede.

Como pano de fundo para esta decisão radical está o registo de 2018, quando, segundo o ministério da Agricultura morreram mais de 60 mil animais devido à falta de alimento e de água, situação que se pretende evitar com esta medida, que vai incluir 600 búfalos, 60 girafas, 28 elefantes, 65 órix e centenas de animais de espécies de antílopes, como cudus, gazelas e impalas.

Para se ter uma ordem de grandeza deste esforço, os 600 búfalos que deverão ser vendidos são, no total, contados no país, 960, enquanto os elefantes, serão cedidos 28 mas o país alberga cerca de 6.400, sendo que estes são especialmente procurados pêlos turistas.

A Namíbia, recorde-se, é um dos países mais expostos às secas prolongadas na África Austral, sendo uma grande parte do seu território deserto, e, apesar da sua grande dimensão, é habitado por apenas 2,4 milhões de pessoas, estando, neste momento, pelo menos 500 mil severamente afectadas pela falta de chuva.

Angola, que em uma extensa fronteira, a sul, com o norte da Namíbia, sente igualmente as agruras da seca que afecta a parte sul do continente africano e, no futuro, como o NJOnline noticia aqui, segundo estudos recentes, estes problemas vão agudizar-se.

Mas a questão da seca nesta parte do mundo é um problema que tem aumentado de intensidade, como pode ser revisitado nas notícias que podem ser encontradas aqui, aqui ou aqui.

As causas e as consequências

La Niña e El Niño são os vilões, filhos das alterações climáticas que nascem da poluição que resulta essencialmente da queima de combustíveis fósseis .

O fenómeno meteorológico que ajudou a que a África Austral, nos últimos anos, sofresse uma das mais severas secas do último século, com o sul de Angola claramente no mapa das zonas afectadas, já estava anunciado desde meados de 2018, pela Organização Meteorológica Mundial (OMM).

A OMM, agência da ONU para as questões meteorológicas, criada em 1950 e que reúne alguns dos mais respeitados meteorologistas dos 191 países que a compõem, analisou os dados actuais do clima planetário e concluiu existir uma probabilidade de 70 por cento para que as consequências do El Niño se voltassem a fazer sentir a partir de finais de 2018 e nos primeiros meses deste ano

O El Niño é resultado do aquecimento das águas do Oceano Pacífico que, por sua vez, geram correntes quentes que se dirigem para vários pontos do globo, alterando a direcção dos ventos e gerando, na sua passagem, fenómenos localizados de intensas secas, como é, usualmente, o caso da África Austral, mas também de chuvas intensas, com cheias e tempestades destruidoras.

Em alguns países do sul do continente africano, este fenómeno meteorológico produziu uma das mais dramáticas secas em mais de um século, como é o caso da África do Sul, com a destruição da agricultura local, a falta de água em cidades como Cape Town, mas também nos vizinhos Namíbia, Botsuana, Moçambique e no sul de Angola, obrigando os governos respectivos a criar programas de ajuda extraordinários ou a declarar o estado de emergência.

No sul de Angola, como o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários, também por causa das alterações climáticas e, muto em especial, do El Niño, tem divulgado, existem mais de 750 mil pessoas com carências alimentares, de água potável ou por causa de doenças favorecidas por situações de penúria, com cerca de 400 mil crianças a necessitar de ajuda permanente, incluindo dezenas de milhar em situação de emergência.

Apesar de nos últimos meses a situação ter melhorado em toda a extensão sul do continente africano, de acordo com o mais recente estudo da OMM, a partir de Outubro estava previsto um agravamento da situação.

Recorde-se que entre 2015 e 2016 o mundo assistiu a uma das mais intensas e impactantes "viagens" do El Niño, produzindo catástrofes em série, sejam secas no continente africano, sejam tempestades em algumas regiões da Ásia e das Américas.

Segundo referia Petteri Taalas, secretário-geral da OMM, em Setembro do ano passado, este regresso do El Niño não deverá ser de intensidade semelhante ao que ocorreu há três anos, mas "ainda assim irá provocar um impacto considerável".

Este responsável adiantou, citado pelas agências, que as alterações climáticas como um todo estão a provocar alterações ao comportamento do El Niño, mas também no fenómeno "primo" denominado La Niña, cujas dinâmicas são agora mais imprevisíveis e, nesse seguimento, também os seus resultados e impactos nas vidas das pessoas.

O La Niña opõe-se ao El Niño pela forma como evolui, resultando, não do aumento mas sim da diminuição da temperatura das águas do Pacífico, provocando, todavia, alterações em todo o mundo igualmente graves, nomeadamente nos padrões da pluviosidade e na temperatura de vastas áreas do planeta e que, segundo a OMM já está a suceder este ano.

Um dos riscos das alterações climáticas continuarem sem travão, por causa da poluição, nomeadamente dos gases com efeito de estufa e da queima de hidrocarbonetos (petróleo e gás), é que tanto o La Niña como El Niño deixem de ser fenómenos sazonais para emergirem como situações permanentes, com consequências catastróficas para a humanidade.

SADC lança alertou e pediu decisões rápidas e eficazes

Face a estes riscos, recorde-se, e no que mais importa especificamente para Angola, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, através do seu Departamento de Alimentação, Agricultura e Recursos Naturais, lançou, também em meados do ano passado, um alerta onde pedia aos países membros para providenciarem no sentido de criar stocks alimentares para ocorrer a emergências criadas pela estiagem na estão das chuvas que se aproxima, e por causa dos esperados efeitos na produção agrícola.

Domingos Gove, o moçambicano que dirige este departamento da SADC, (FANR, na sigla em inglês) desde Abril de 2018, tinha mesmo advertido, numa conferência de imprensa em Windoek, capital da Namíbia, em Agosto desse ano, que a próxima estação das chuvas (a que estamos a viver actualmente) deverá ser, mais uma vez, escassa para as necessidades agrícolas.

A África Austral vive há vários anos uma situação de prolongada seca, com picos de seca extrema em vários países, onde, por exemplo, na Namíbia ou na África do Sul, levou os respectivos governos a tomarem medidas extremas para controlar os efeitos nefastos da falta de chuva, declarando situações de calamidade e impondo regras restritivas ao consumo de água.

Por isso, Domingos Gove, em Agosto do ano passado, apelava aos agricultores da África Austral para que procurassem encontrar forma de manter em stock parte das colheitas da última campanha agrícola, não vendendo a sua produção, como forma de fazer frente às dificuldades que se avizinham, perspectivadas pelas análises dos especialistas à evolução do La Niña e do El Niño