O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano reagiu, após o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, ter vindo a terreiro dizer que o ataque com drones de Sábado, que atingiu duas importantes infra-estruturas petrolíferas sauditas, e já reivindicadas pelos rebeles iemenitas houthis, é de autoria iraniana porque "não há evidências de que tenham sido os rebeles".

"As acusações são incompreensíveis e sem sentido", disse Abbas Mousavi, admitindo que estas têm por finalidade justificar uma alegada intenção de lançar ataques, na forma de sanções, contra o Irão pelos EUA.

Mike Pompeo considerou mesmo que esta situação não tem precedentes, sublinhado dessa forma a extraordinária e perigosa situação que o mundo vive por estes dias no rescaldo dos ataques houthis que deixaram abalada toda a infra-estrutura petrolífera saudita, que ficou com 5,7 milhões de barris por dia fora dos mercados, bastante mais que metade da sua produção actual.

O líder norte-americano ensaiou mesmo um desafio para uma coligação global contra o Irão ao pedir a forte condenação de todos os países a este ataque.

Recorde-se que o petróleo caro é um dos pesadelos que o Presidente dos EUA, Donald Trump, vive actualmente porque prepara a sua campanha para as eleições de 2020, onde vai tentar a reeleição, e combustíveis com preço elevado são, na idiossincrática democracia norte-americana, uma pedra no caminho de qualquer Presidente que se quer reeleger.

Metade do crude do maior exportador mundial offline

Duas das principais infra-estruturas - refinarias - da indústria petrolífera da Arábia Saudita, o maior exportador mundial e potencialmente o líder dos produtores em todo o mundo, ficaram subitamente inoperacionais devido a ataques de rebeldes iemenitas, deixando metade da produção do país inacessível para os mercados.

O pânico tomou conta dos mercados e os analistas começaram de imediato a especular sobre uma eventual crise petrolífera, embora esse sentimento seja mitigado porque os ataques que deixaram duas das principais estruturas produtivas sauditas tenham ocorrido no Sábado, quando os gráficos do Brent londrino, que determina o valor médio das exportações angolanas, e os restantes "medidores" internacionais estão fora de serviço devido ao fim-de-semana.

O site OilPrice, por exemplo, publicou um texto do analista Michael Kern onde este admite que o barril voe para os 100 USD a partir de segunda-feira depois de ter sido conhecido o resultado dos ataques dos rebeldes houthis - que travam uma guerra contra o Governo do vizinho Iémen, um aliado dos sauditas, alegadamente apoiados pelo Irão -, sendo que, segundo os dados actuais, pelo menos metade da produção da Arábia Saudita ficou bloqueada e inacessível para os mercados.

Este ataque, para além do potencial de elevar de forma significativa o valor do barril, pode ainda revelar-se como um tremendo factor de novas e mais pesadas tensões na já de si volátil região do Médio Oriente.

Segundo a petrolífera nacional saudita, a Saudi Aramco, este ataque vai "secar" menos 5,7 milhões de barris por dia (mbpd) de um momento para o outro nos mercados, o que representa uns incríveis 5% da produção mundial, o que não deixa margem para dúvidas sobre o forte impacto esperado para segunda-feira, embora ninguém se atreva neste momento a avançar certezas.

Os ataques às infra-estruturas sauditas não são os primeiros, porque mísseis lançados de território iemenita sob controlo houthi já caíram sobre oleodutos sauditas, ou ainda contra petroleiros ao largo do Golfo Pérsico, por onde passam mais de 20 por cento do crude mundial, mas a natureza destes que ocorreram no Sábado ultrapassam em muito os anteriores, tanto em violência como nas consequências.

Recorde-se que a Arábia Saudita e a Rússia, os dois maiores potencialmente produtores mundiais, lideram uma estratégia no sei da OPEP+, organismo ad hoc que surgiu da junção de esforços de Moscovo com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para retirar, actualmente, 1,2 mbpd do mercado como forma de manter os preços do barril em alta.

E se essa estratégia apenas conseguiu evitar, para já, que o barril tombasse abaixo dos 60 USD, agora, com este surpreendente, mas não totalmente inesperado, ataque da guerrilha ao coração da indústria petrolífera saudita, ninguém pode garantir o que vai acontecer já amanhã, assim que abrirem os mercados, mas uma coisa é assegurada pelas circunstâncias: a subida do valor do barril. Só não se sabe quanto, embora já tenham sido avançadas projecções para os 100 USD.

Actualmente, os sauditas injectam pouco mais de 7 mbpd no mercado, mesmo que a sua capacidade máxima de produção possa ser alongada para próximo dos 12 mbpd (antes dos ataques).