Este posicionamento do ministro do sector, Diamantino Azevedo, manifestado no Sumbe, Kwanza Sul, durante as Jornadas Científicas e Técnicas sobre Metodologia da Classificação e Cálculos dos Recursos Minerais Sólidos e Hidrocarbonetos, ocorre numa altura em que organismos internacionais preponderantes para o sector petrolífero, como a Agência Internacional de Energia (AIE) manifestam profundas dúvidas sobre a manutenção dos actuais níveis da produção de petróleo em Angola.
Apesar de o horizonte de produção considerado bom pelo Executivo, 1,4 milhões de barris por dia (mbpd), estar muito longe dos máximos obtidos quando o preço do barril atingiu os 147 USD, em Junho de 2008, altura em que se apontava aos 1,9 mbpd, segundo a AIE, Angola deverá ver a sua capacidade exportadora reduzida a 1,29 mbpd em 2023.
Este declínio acentuado da produção nacional de crude resulta de diversos factores, segundo o relatório da AIE "Oil Report 2018", publicado em Março deste ano, nomeadamente, entre outros, a deterioração da infra-estrutura de produção, devido ao desinvestimento das multinacionais por causa da queda abrupta do valor do barrio em meados de 2014 ou ainda a perda de vitalidade dos blocos mais antigos pela chegada ao fim do seu tempo de vida útil.
Apesar deste cenário pessimista da AIE, o ministro dos Recursos Minerais e Petróleos reafirma o empenho do Executivo em contrariá-lo, com as medidas já assumidas, como, por exemplo, a baixa de taxas na exploração de campos marginais - com stocks inferiores a 300 mil baris -, a simplificação dos procedimentos administrativos para propulsionar os investimentos necessários e fomentar a área da prospecção e exploração de novos campos petrolíferos assente na nova legislação que torna seguro a aposta na pesquisa e exploração em Angola.
Estas declarações de Diamantino Azevedo surgem numa altura em que o barril de crude em Londres (Brent) , onde é definido o valor das exportações angolanas, segue em baixa há já uma semana, caindo de quase 85 USD por barril para os 78,85 a meio da manhã de hoje.
Todavia, este valor, acima de 78 USD por barril, permanece muito acima dos assustadores, para os países petrodependentes, como é o caso de Angola, 29 USD/barril do início de 2016, e bastante folgado face aos 65 USD por barril que serviu de base para a elaboração do Orçamento Geral do Estado para 2019, que será apresentado na íntegra no final deste mês.
A evolução futura do mercado petrolífero depende de um conjunto de factores que tanto podem fazê-lo descer como subir, não havendo uma referência sólida para adivinhar o que se vai passar.
Para isso, basta ter em conta que países como a Venezuela e o Irão, dois grandes produtores da OPEP, estão com crises severas nos braços, interna, no caso da Venezuela, devido aos caos político e económico em que o país vive, e imposta de fora, no caro do Irão, por causa da saída intempestiva dos EUA do acordo nuclear e da imposição de novas sanções, por decisão do Presidente Donald Trump.
Mas há ainda por perceber se a Arábia Saudita e a Rússia vão ou não proceder a um aumento significativo da produção para satisfazer as exigências de Donald Trump, qual o impacto das novas normas ambientais que em 2020, por decisão da Organização Marítima Internacional, vão afectar o transporte marítimo mundial, com vista a diminuir o enxofre nos combustíveis dos navios, ou ainda qual vai ser o desenvolvimento na guerra comercial em curso entre os EUA e a China, podendo esta afectar a performance da economia mundial e assim o aumento ou diminuição do consumo de petróleo...
Estes são alguns dos factores que vão incidir directamente no sector petrolífero nacional que pode deparar-se em breve, se as estimativas da AIE se confirmarem, com um cenário esquisito onde a alta do valor do crude nos mercados internacionais é diluída na queda da produção nacional, impedindo Angola de gerar mais valias a partir de uma subida do preço do barril, que alguns dos maiores especialistas globais, apesar de tudo, já perspectivam poder chegar de novo aos 100 dólares.