Era, seguramente, o encontro mais aguardado em muito tempo, porque iriam estar olhos nos olhos os dois mais relevantes lideres mundiais da actualidade, depois de vários adiamentos e ataques diplomaticamente "assassinos" de Washington a Pequim e outros tantos avisos de Pequim a Washington de que os norte-americanos estavam a pisar as linhas vermelhas todas.

Por detrás, em pano de fundo de tanta tensão, só alguns exemplo, que podem ser reavivados nos links em baixo nesta página, surge a crise prolongada de Taiwan, a guerra comercial que já dura há quase uma década, a batalha global por uma nova ordem mundial que une Pequim e Moscovo contra Washington e Bruxelas... mas, no topo do bolo, a mais grave frase alguma vez proferida no xadrez diplomático jogado por estes dois gigantes.

XI Jinping "é um ditador", disse Joe Biden em Junho deste ano, num contexto de grande stresse entre ambos os países, depois de descoberto um balão "espião", acusaram os norte-americanos, meteorológico, garantiram os chineses, o que levou a uma redução das relações bilaterais ao nível do chão.

Depois, seguiu-se um período de procura de uma forma de apagar esse mau momento, especialmente do lado dos EUA, com Joe Biden e o seu secretário de Estado, Antony Blinken, a garantir ser vontade dos EUA em normalizar as relações com Pequim porque estaria mais em jogo para o mundo que as "pequenas" traquinices entre as duas maiores potências económicas mundiais.

E era neste encontro em São Francisco, à margem da Cimeira da APEC, que EUA e China poderiam desembaraçar-se dos mal entendidos e mostrar porque é que ambos têm mais a ganhar encontrando uma base de entendimento sobre matérias económicas e diplomáticas, o que, no imediato, parecia ter sido o caso, com ambos os lideres a afirmar que estavam empenhados em esbater e gerir as diferenças.

A CNN, por exemplo, noticiou que Biden e Xi saíram das várias horas de conversações optimistas e confiantes de que estariam na antecâmara de uma nova fase de relacionamento, sendo disso exemplo o combate ao tráfico de drogas, como o Fentanyl ou na área das comunicações directas entre chefias militares e avançar com uma plataforma de diálogo sobre temas económicos e criar uma abertura mais sólida para uma comunicação entre ambos, o que o norte-americano classificou como das mais importantes e relevantes conversas entre os dois.

Mas eis que... na conferência de imprensa que se seguiu, Joe Biden não se conteve e disse que o seu homólogo chinês "continua a ser um ditador" no sentido em que dirige um país comunista baseado em princípios totalmente diferentes dos que existem nos Estados Unidos.

Ou seja, Joe Biden mantém a mesma opinião sobre Xi Jinling que tinha em Julho, e disse-o de forma tão clara quanto o tinha feito então.

A resposta não veio de Xi Jinping, que optou por usar o espaço comunicacional em torno deste encontro para voltar a sublinhar que a China não pretende qualquer hegemonia no mundo, que baseia a sua cooperação na igualdade de oportunidades, e não procura qualquer conflito com os EUA.

Foi o seu Ministério dos Negócios Estrangeiros que veio a público tecer considerações sobre este novo episódio turbulento na turbulenta relação bilateral entre EUA e a China, tendo a porta-voz, Mao Ning, afirmado que se tratou de mais uma tirada "errada e irresponsável" do Presidente norte-americano.

"Trata-se de algo totalmente errado e uma irresponsável manipulação política", disse ainda esta porta-voz do Governo chinês, acusando Biden de estar a "plantar de forma desnecessária a discórdia entre os dois países".

Mao Ning disse que "o respeito mútuo é fundamental para que China e EUA possam reerguer as relações bilaterais" e deixou como expectativa de Pequim que ambos os países possam resolver os seus problemas e possam seguir em frente nesse desígnio.

Ainda é cedo para perceber se esta renovada acusação de Biden vai influenciar negativamente o passo dado no encontro em São Francisco, mas sabe-se que a China, normalmente, relativiza este tipo de atitudes nos palcos internacionais, dando primazia à diplomacia de longo prazo, visto que ambas as capitais têm neste momento um "grand jeu" em curso que também passa por África.

Xi Jinping já disse estar empenhado em desmoronar a ordem mundial baseada em regras criadas pelos EUA e aliados ocidentais após a II Guerra Mundial, que permitiram ao ocidente alargado ganhar uma hegemonia política e militar no mundo, procurando, com Moscovo, erguer uma outra ordem global baseada na cooperação entre iguais onde nenhuma potência se imponha aos outros Estados.

Para já, em África, onde China e Rússia têm conseguida ganhar terreno às antigas colónias e aos EUA nas duas últimas décadas, os EUA voltaram ao "combate" de onde saíram especialmente nos mandatos de Obama e Trump, sendo Angola palco de uma das mais visíveis reviravoltas, com Luanda a optar por estreitar laços com o ocidente, EUA em especial, e esmorece-los no campo das ligações a Moscovo e Pequim, como se percebe aqui, aqui e aqui.