Se esse périplo africano do Presidente dos Estados Unidos vier a ser realizado ainda em 2023, como o próprio anunciou no contexto da Cimeira EUA/África que teve lugar em Washington, em Dezembro do ano passado, Angola deverá fazer parte do programa tendo em conta a nova realidade das relações entre Luanda e Washington.
Claramente em modo de mudança de rumo, Angola, como o Presidente João Lourenço explicou na sua deslocação no âmbito da Cimeira de Washington, está conscientemente a procurar privilegiar a cooperação com os Estados Unidos, o que significa inevitavelmente um downgrade nas relações com os "adversários" dos norte-americanos no continente, China e Rússia, sem qualquer atrito substancial nas relações, como foi posteriormente explicado, com Moscovo e Pequim.
Alias, foi neste contexto e antes desta visita de Lloyd Austin a Angola, no âmbito de uma deslocação que o levará ainda ao Djibuti e ao Quénia, que o jornal chinês The South China Morning Post publicou uma extensa peça sobre a evolução da dívida de Angola à China e a importância da parceria Pequim/Luanda para a reconstrução de Angola no pós guerra, sublinhando que o Governo chinês emprestou, através de diversas instituições, mais de 42 mil milhões USD aos angolanos e que actualmente o país deve ao gigante asiático ainda mais de 20 mil milhões USD.
Com esta passagem por África, que começou a ser preparada a 23 e terminará a 28 deste mês de Setembro, o "ministro" da Defesa norte-americano, segundo a página oficial do Departamento de Defesa dos EUA, procurará reformar as relações na área da Defesa com Angola e na "exploração das vias para fazer crescer a cooperação militar" entre os dois países, o que deverá ser seguido, como, de resto, o Presidente João Lourenço já o admitiu, da aquisição de equipamento militar norte-americano.
No Quénia, Austin debruçar-se-á sobre as questões da segurança de interesse mútuo e do contra-terrorismo, enquanto no Djibuti, onde os EUA têm uma importante base militar, o responsável pela Defesa dos EUA, terá em cima da mesa a cooperação miliar bilateral, os desafios correntes, com destaque para a crise de golpes de Estado nos vizinhos Mali, Níger e Burquina Faso, países onde a influência russa cresce de dia para dia e se expande, e a exploração de novas linhas de cooperação.
Este périplo de Lloyd Austin não pode ainda ser deslocado do contexto de reversão da política norte-americana para com o continente africano, desenhada pela Administração de Joe Biden, depois de anos, cerca de duas décadas, de alheamento da realidade africana por Washington, período durante o qual a China ocupou praticamente todo o espectro político e económico deixado no vácuo, não só pelos norte-americanos mas também pelos europeus, através de volumosas linhas de crédito sem contrapartidas fora do âmbito financeiro e económico, e de uma política de não ingerência, onde também a Federação Russa marcou pontos nos últimos anos.
E é neste contexto que, em Luanda, dois dias antes da visita de Austin, João Lourenço convocou o Conselho de Segurança Nacional (CSN) para uma reunião da Cidade Alta, onde debateu, oficialmente, segundo uma nota da Presidência, "assuntos importantes no âmbito da Defesa e Segurança do país, bem como tomou conhecimento da situação dos conflitos no mundo e do continente, mormente, os golpes de Estado e o conflito no Leste da RDC".
Nesta reunião do CSN foram ainda apreciados os "Projectos de Lei de Segurança Nacional, o Estatuto Orgânico do Serviço de Inteligência e Segurança Militar e outros assuntos de interesse da vida e funcionamento dos Órgãos de Defesa e Segurança".
Mas, naturalmente, extra-agenda, este órgão terá debatido a visita do Secretário da Defesa norte-americano, os novos azimutes da política de Defesa de Luanda, os novos alinhamentos internacionais e a questão da provável visita ainda este ano do Presidente Joe Biden ao continente africano.