Dos países de língua portuguesa, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Brasil, Timor-Leste e Portugal também votaram a favor da resolução que condena a "tentativa de anexação ilegal" da Rússia de quatro regiões parcialmente ocupadas na Ucrânia. Moçambique, tal como tinha feito na anterior votação, absteve-se. África do Sul, Guiné Conacri, Índia e Cuba também se abstiveram.
Para a embaixadora angolana junto das Nações Unidas, Maria de Jesus dos Reis Ferreira, "votou a favor da presente resolução em conformidade com as suas convicções sobre o bem fundado do princípio sacrossanto da integridade territorial consagrado na sua própria Constituição que define Angola como um Estado unitário e indivisível, cujo território é inviolável e inalienável", apesar da "estreita relação de amizade e cooperação em diversos domínios de interesse comum" com a Rússia.
Maria de Jesus dos Reis Ferreira destacou que as relações entre Luanda e Moscovo "datam desde a antiga URSS", que teve um papel determinante na luta contra o colonialismo e contra a invasão do território angolano pelo exército do regime do apartheid da África do Sul", acrescentando que, com a Ucrânia, que foi parte integrante da ex-URSS, "Angola tem igualmente boas relações diplomáticas".
"Essas relações constituem um dos factos que justificam a grande preocupação constantemente manifestada pela República de Angola sobre a guerra que opõe a Federação Russa à Ucrânia e que, para além de provocar inúmeras baixas humanas, ter gerado milhares de deslocados e refugiados jamais vistos desde a segunda guerra mundial, bem como a destruição de importantes infra-estruturas do património nacional da Ucrânia, a mesma guerra tem causado igualmente sérias consequências na paz e segurança mundiais, assim como nas economias dos países no geral", declarou a embaixadora angolana.
A diplomata repetiu "o seu apelo às partes a cessarem as hostilidades e primarem pela resolução pacífica do conflito por via do diálogo, em pleno respeito do direito internacional".
Esta resolução, para além de exigir que a Rússia recue na anexação de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporijia, declara que as acções de Moscovo violam a soberania e a integridade territorial da Ucrânia e são inconsistentes com os princípios da Carta da ONU. O documento condena os "chamados referendos ilegais" da Rússia e a "tentativa de anexação ilegal", declarando que são inválidos sob o direito internacional.
Esta resolução apoia igualmente a redução do conflito, defendendo o "diálogo político, negociação, mediação e outros meios pacíficos", com respeito às fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia e de acordo com os princípios da Carta das Nações Unidas.
De lembrar que a Rússia queria que a votação fosse secreta, na esperança de obter um maior apoio por parte de alguns dos 193 Estados-membros. Todavia, a Assembleia Geral decidiu que a votação seria pública.
Contexto da guerra na Ucrânia
A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação militar especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho, condição que evoluiu depois para a anexação de territórios no Donbass mas também as regiões de Kherson e Zaporijia, mas sim a sua desmilitarização e desnazificação e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional.
O Kremlin critica há vários anos fortemente o avanço da NATO para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.
Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro, tendo acrescido a esta reivindicação as províncias de Kherson e Zaporijia, depois da realização de referendos que a comunidade internacional, quase em uníssono, não reconhece.
Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.
Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO para expulsar as forças invasoras.
A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar para a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.
Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.
Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.
Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas de fora o sector energético, do gás natural e em pate do petróleo...
Milhares de mortos e feridos e mais de 5,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.
O histórico recente desta crise no leste europeu pode ser revisitado nos links colocados em baixo, nesta página.