A SWAPO, que nas páginas sociais aparece como SWAPO PARTY-THE WINNER, viu este seu nome «reconfigurado» nestas eleições municipais.
É certo que as eleições municipais, por regra e em países onde a Democracia está bem implantada, não podem ser vistas como mostra infalível do que o eleitorado pensa dos seus representantes legislativos.
Nas autárquicas, por regra, vota-se numa personalidade - um independente, apoiado ou não por um partido, ou num candidato partidário -, enquanto nas legislativas se vota, essencialmente e de uma maneira geral, quase sempre, em partidos onde, por regra, só os primeiros nomes são conhecidos pelos eleitores.
É o caso de Angola, por exemplo, onde esta "obrigatoriedade" é quase um preceito, dado que o primeiro candidato é, em simultâneo, o proponente a ser presidente, o segundo a vice-presidente, e o terceiro é o postulante a ser presidente da Assembleia Nacional. A partir daí, haverá um ou outro que será conhecido dentro da sua área política, mas desconhecido pela maioria dos eleitores.
Ora na Namíbia, a SWAPO foi a "grande vítima" da nova geração pós-guerra. Essa não conheceu os problemas que os seus pais e avós tiveram, têm novas ideias, apresentam-se com novas visões de gestão, e também não se devem esquecer alguns problemas de gestão pouco correcta - leia-se, alguma corrupção - que existe no País - sublinhe-se, não há País algum onde não haja corrupção e onde a eternização do poder não gere mais corrupção, - e que a actual administração da SWAPO não consegue diminuir ou, pelo menos, esbater.
Por isso, na minha opinião - e até porque o povo namibiano tem mostrado um elevado grau de civismo democrático -, não surpreende a enorme queda eleitoral da SWAPO nas principais áreas urbanas. Todavia, manteve certo predomínio nas áreas rurais, em particular, na área ovambo.
Regionalmente, a SWAPO mantém a maioria dos municípios, cerca de 88, correspondendo a 56,77% das 121 regiões municipais namibianos ou, como são reconhecidas, «//Kharas constituencies». Mas, a realidade é que perdeu as principais e mais influentes áreas urbanas. Em 2015, tinha conquistado cerca de 83% das //Kharas constituencies, como se pode verificar no portal da Electoral Commission of Namibia.
A capital, Windhoek, por exemplo, foi ganha pela oposição, que vai governar, em conjunto, entre o Independent Patriots for Change (IPC), que conseguiu ganhar quatro assentos no Conselho Municipal, juntando-se aos 6 lugares obtidos pelos Independent Patriots for Change (IPC), Popular Democratic Movement (PDM), Landless People"s Movement (LPM) e pelo National Unity Democratic Organisation of Namibia (NUDO).
Segundo Armindo Laureano, num apontamento recentemente publicado na sua página pessoal de Facebook, a "//Khara" de Windhoek poderia vir a ser governada por um jovem, de 33 anos, e antigo activista. Ainda que, e face às três áreas que "determinam" Windhoek (East, West e Rural, esta, manifestamente, a maior), também poderá ser uma jovem a governar a capital namibiana.
Aguardemos pelos resultados finais que deverão ainda ser apresentados até sexta-feira (à hora em que escrevia estas letras só faltava ser escrutinado uma das //Kharas constituencies.
Ora, como escrevi logo no início, estas eleições regionais-municipais podem ser - sê-lo-ão, certamente, - uma lição para os países vizinhos, onde os chamados partidos-movimentos de libertação terão de ler com muita ponderação.
E isto deve ser bem ponderado em Angola.
(Leia este artigo na íntegra na edição semanal do Novo Jornal, nas bancas, ou através de assinatura digital, disponível aqui https://leitor.novavaga.co.ao e pagável no Multicaixa)