O presidente do MPLA, e também Presidente da República, referiu-se, no discurso de abertura do CC, à manifestação do fim-de-semana, organizada pela sociedade civil e que contou com o apoio da UNITA e do Bloco Democrático, com críticas à forma como esta foi organizada contrariando as disposições inseridas no decreto Presidencial para o controlo da Covid-19.
Neste discurso, onde João Lourenço focou a sua atenção nos episódios recentes, gerados pela manifestação, que foi reprimida pela polícia, dando origem à detenção de 103 jovens, que estão em julgamento sumário no Tribunal Provincial de Luanda, ficou claro que o líder do MPLA e Chefe de Estado viu de forma negativa o apoio conferido pelo maior partido da oposição aos promotores do protesto.
O Presidente da República considerou, embora falando na qualidade de líder partidário, e citado pela Angop, como "tristes" os episódios de violência verificados no contexto da manifestação que o Movimento Revolucionário e o Movimento para a Cidadania organizaram para exigir medidas contra o desemprego, contra o aumento do custo de vida e pela marcação das eleições autárquicas.
Considerou "reprovável" o envolvimento da UNITA e dos seus dirigentes, incluindo deputados à Assembleia Nacional, "devidamente identificados", sublinhando que esse comportamento deve "merecer o mais veemente repúdio da sociedade angolana" e devem assumir as responsabilidades, nomeadamente no que diz respeito ao fisco de novos contágios..
Sociedade angolana que o líder do MPLA e chefe do Executivo convocou para não "permitir que partidos políticos com assento parlamentar incitem jovens à desobediência civil" e deixou claro que no seu entender o maior partido da oposição deve assumir as consequências da sua "irresponsabilidade".
E fez questão de sublinhar a ideia de que o direito à manifestação em Angola não é ficção, porque o País já assistiu a manifestações pacíficas, protestos e reivindicações, sem problemas, mas abriu um parêntesis para o período que o País e o mundo atravessam graças à pandemia da Covid-19, cujas medidas de controlo à sua expansão impõem "restrições temporárias" a esses direitos.
Aviso directo à direcção da UNITA
Apontando as baterias à UNITA, de forma concreta e intencional, o presidente do MPLA disse que existe a possibilidade de o comportamento dos dirigentes do partido do "Galo Negro" poder levar à obrigação de um novo período de "estado de emergência".
João Lourenço deixou ainda entender que os dirigentes da UNITA não respeitam o investimento que o País está a fazer no combate à pandemia, desde "hospitais de campanha" aos "materiais de biossegurança e laboratórios de biologia molecular".
E deixou, mais na vertente política um recado, procurando demonstrar aquilo que entende ser a estratégia da UNITA, que é a garantia de que, se o presidente do maior partido da oposição, Adalberto da Costa Júnior, pretende forçar negociações bilaterais a partir de uma situação de "ingovernabilidade do País", isso "não é concretizável" no contexto político actual onde, lembrou João Lourenço, citado pela Lusa, "as instituições democraticamente instituídas têm um funcionamento pleno".
E deixou ainda a garantia de que quaisquer tentativas de replicar o que se passou em Luanda nas restantes províncias, contará com a atenção das autoridades competentes que vão manter-se empenhadas em garantir a ordem pública.
Mas criticou a acção policial com um aviso às chefias nacionais da PN. "Aproveitamos esta oportunidade para lamentar as detenções de jornalistas devidamente credenciados e no pleno exercício das suas funções, situação que espero não voltar a acontecer".
A Saída
No mesmo discurso, o líder do MPLA pediu à juventude para não se deixar manipular por quem não pode resolver os seus problemas, deixando entender que apenas o seu Governo o pode fazer "na medida do possível" e com a colaboração da economia privada.
"A juventude tem responsabilidades para com o país e o país tem igualmente responsabilidade para com a juventude", disse João Lourenço, citado pela Lusa, frisando que apesar da pandemia da Covid-19, o executivo "apostou seriamente na produção interna de bens de consumo agrícola e industrial de primeira necessidade, não só para aumentar a oferta interna e reduzir as exportações, mas também para garantir mais postos de trabalho para os cidadãos e em particular para a juventude".
O Presidente da República apontou como saída para os problemas que a sociedade atravessa actualmente a "abertura de novas unidades de produção industrial, por parte de empresas que antes importavam para comercializar, mas que face às políticas do executivo de incentivo à produção passaram a produzir esses mesmos bens em território nacional, que é bastante encorajador".
"O esforço que o executivo e o sector empresarial privado vêm fazendo na manutenção e criação de emprego está visível aos olhos de todos, mas o pleno emprego não se alcança em períodos de crise económica e de pandemia mundial profunda, este milagre não foi ainda realizado por ninguém, portanto, não é de se esperar que venha a acontecer em Angola do dia para a noite", concluiu.