Os pescadores asseguram que a sardinha só está rara no mercado porque o Governo assim o quer, enquanto a Associação de Pesca Artesanal, Semi-Industrial e Industrial de Luanda (APASIL) alerta que as populações irão sentir a falta de outras espécies a partir de Agosto.

No princípio do mês de Março, o Governo, através do Ministério das Pescas e Recursos Marinhos, reduziu em 30 por cento, para este ano, a captura de sardinha.

A taxa autorizada para a captura de pescado, este ano, é de cerca de 400 mil toneladas para o segmento da pesca industrial e semi-industrial, apurou o Novo Jornal.

Entretanto, a população tem reclamado da falta da sardinha no mercado, facto que levou esta semana o Novo Jornal a visitar os mercados e praias e a constatar que as queixas correspondem à realidade.

Da ronda feita em diversos mercados e praias de Luanda foi possível verificar a "inexistência" da sardinha, um peixe muito consumido pelas famílias com poucos recursos financeiros.

"As chatas (rapas) é que alimentam as populações, não sei porque o governo as proibiu. Agora aí está o resultado, não há lambula no mercado e as famílias a sofrerem de fome", contou Arminda Pimentel, cujo pensamento é partilhado por muitas outras pessoas.

Nem mesmo nas praias da Ilha de Luanda, da Mabunda e de Cacuaco a sardinha, também conhecida por "lambula", é encontrada.

No mercado da Mabundo vários pescadores disseram que não conseguem capturar este peixe porque o Governo está a impedir muitas embarcações de irem para o mar.

Em unanimidade, os pescadores realçam a carência da sardinha no mercado é devida às barreiras das autoridades.

Mas, afinal, porque está difícil encontrar sardinha nas praias e nos mercados?

A resposta a essa questão vem dos próprios pescadores e da Associação de Pesca Artesanal, Semi-Industrial e Industrial de Luanda.

Segundo eles, o Governo está a criar barreiras e a deixar desempregados muitos armadores ao impedir a pesca por chatas.

António Gama, vice-presidente da APASIL, realçou que para além da redução da captura da sardinha, o Executivo também proibiu a pesca de cerco artesanal, vulgo "rapas".

Segundo este especialista do sector das pescas, o que está a faltar no mercado ainda é resultado da redução da sardinha e da paragem das "rapas" (chatas), e a partir de Maio, avisam, o Governo vai proibir a captura da sardinha.

Entretanto, o Novo Jornal apurou que devido à falta de sardinha do mercado muitas famílias dizem ter de comprar outras espécies mais caras, o que não tem sido nada fácil para elas.

António Gama reconhece que a pesca das "rapas" é a que mais ajudava as famílias angolanas, pois saía sempre mais barato pois as embarcações são de poucos custos.

Segundo o vice-presidente da APASIL, essas embarcações empregam muitas pessoas e vendem o peixe a bom preço.

As "rapas" são conhecidas pelos pescadores como o táxi "azul e branco" do mar e a sua proibição pelo Ministério das Pesca afecta muitas famílias.

A Associação de Pesca Artesanal, Semi-Industrial e Industrial de Luanda é de opinião que o Governo acautele essa questão, porque no mês de Maio vai proibir a captura da sardinha, e em Junho a de outras espécie, entre elas o carapau.

A sardinha, a par do carapau, é o peixe mais apreciado e consumido pela população e também o mais barato.

Em função disso, a APASIL assegura que o País terá dias difíceis devido ao período de veda até ao mês de Setembro.

Conforme a APASIL, é necessário o Governo olhar para estas empresas e cooperativas de armadores que estão a ser muito afectadas pela medida e deixaram de trabalhar, ou então reverem estas medidas.

Durante a ronda, o Novo Jornal constatou que o mercado do peixe está a ser muito abastecido pelo peixe kimbumbu e espada.