O bairro possui ruas maioritariamente suburbanas, entre residências modernas e velhas moradias, e tem uma população estimada em cerca de 852 mil habitantes. Existem no bairro infraestruturas comercias, desportivas e religiosas.
O acesso ao interior do Rocha Pinto faz-se pelas estradas da Samba e 21 de Janeiro, nos dois sentidos. o NJOnline percorreu o bairro e conversou com vários moradores.
Entre as muitas lamentações, como, por exemplo, o nível de delinquência que faz parte da vida quotidiana da população, os moradores contaram que nunca viram canalizações na zona, tendo de recorrer à água dos camiões cisternas ou dos "kupapatas" há já vários anos.
A forma como transportam a água é indiferente: pode ser em carros de mão, em baldes e bidões transportados à cabeça por jovens, crianças e adultos, tanto faz, o importante é que chegue aos lares de cada um, constatou o NJOnline no local.
Dona Guida, moradora na rua "Monte Sinai", no Rocha Pinto, há 36 anos, disse que em sua casa vivem muitas pessoas e que tem gasto muito dinheiro para o consumo diário, comprando cada bidon a 70 kwanzas e por dia e gastando mais de oito bidões.
"No vizinho bairro do Morro da Luz, no sector 1, já há canalização desde 2016, e nós ainda não temos, vivemos comprando água e essa é a nossa luta diariamente", contou.
Fátima Afonso e Miguel Luís, dois moradores que se juntaram à conversa, disseram que têm comprado a água em camiões cisterna a 20 mil kz, mas que essa água não tem qualidade para consumo.
"A água tem sido muito turva e não dá para usá-la para o consumo, às vezes temos mesmo que fervê-la ou desinfectá-la se for para beber", explicaram.
Margarida João, que vive há 20 anos na zona, tem um tanque de 20 mil litros no seu quintal, onde comercializa cada bidão e banheira entre 50 e 80 kwanzas, mas lamenta pela qualidade da água.
"A minha casa é grande, tem dois quartos de banho, e compro 12 bidões de água por dia, pois as sanitas requerem muita água e 12 bidões é quase nada", disse Marisa Francisco, outra moradora.
Marisa diz que encontra muitas dificuldades para a lavagem da roupa da família, ao fim-de-semana, em que chega a gastar entre quatro a cinco mil kwanzas.
"Aqui no Rocha Pinto nunca tivemos água, nunca nos fizeram canalização, sempre vivemos a comprar a água nos tanques, camiões cisternas e em kupapatas", disse David Mário, ancião de 86 anos, que vive na zona há 38.
"Ficámos a saber, em 2012, que a EPAL já esteve aqui a ver a situação da população, mas até agora nada fez para melhorar a vida da população que vive sem água", referiu o ancião.
Os residentes do Rocha Pinto lamentaram profundamente o tempo de abandono, por partes das autoridades competentes, visto que o bairro está muito próximo da zona baixa da cidade de Luanda.
"Se existe o projecto "água para todos" em vários bairros, então que chegue também aqui ao nosso bairro porque isto é demais. Por favor!", lamentaram os moradores ao NJOnline.
No Rocha Pinto, a população residente vive sem saber o que é uma torneira com água corrente há mais de 40 anos por isso queixa-se da falta do bem precioso e dos elevados gastos que os munícipes do bairro têm feito para adquirir água. A venda de água no bairro é antiga, dada a sua carência.
A cada minuto, motos de três rodas, os chamados "kupapatas", passam a comercializar a água nas ruas, o que é característico naquela zona. Ao longo das estradas da Samba e 21 de Janeiro podem ser vistos camiões cisternas de água e "kupapatas" à espera de compradores.
No bairro do Rocha Pinto, periferia que se encontra perto do centro da capital, a auto-construção anárquica e a falta de saneamento básico são notórios em quase toda à sua extensão. Os habitantes disseram ao NJOnline que já apresentaram as preocupações à administração do distrito do Maianga, muitas vezes, mas nunca obtiveram respostas, apelando assim ao Executivo de João Lourenço para que olhe para o sofrimento em que vivem.
Sobre o assunto, o NJOnline contactou a administradora do bairro do Rocha Pinto, Eurídice Rodrigues da Conceição, para alguns esclarecimentos necessários, mas esta não aceitou prestar declarações.
Vladimir Bernardo, chefe do departamento de comunicação institucional e porta-voz da Empresa Pública de Águas de Luanda (EPAL), contactado pelo NJOnline, explicou que no bairro apenas na zona do campo do Interclube, (Estádio 22 de Junho) há água canalizada a correr nas torneiras.
"Parte do bairro Rocha Pinto, zona do campo do Inter até à Gamek à direita, tem rede de distribuição e corre água oriunda do centro de distribuição da Maianga ", disse o porta-voz.
Vladimir Bernardo reconheceu que na zona da "Paviterra", (sentido Gamek à direita), foram efectuadas cerca de 7.897 ligações domiciliares, mas até ao momento não recebem água.
"Esta área está a aguardar a conclusão das obras do novo Centro de Distribuição de Água do Aeroporto (Cabeceira do Aeroporto) que servirá de reforço para esta zona", referiu.
Nesta altura, conta o porta-voz da EPAL, as obras do centro Cabeceira do Aeroporto estão concluídas, e decorrem os ensaios da rede.
O chefe do Departamento de Comunicação Institucional da Empresa Pública de Águas de Luanda disse que a parte do bairro Rocha Pinto que não tem rede de distribuição de água não foi contemplada no projecto de ligações domiciliares devido à descaracterização arquitectónica (estreitamento de ruas, moradias sem quintais) do bairro.
Segundo Vladimir Bernardo, para atenuar a carência de água, no bairro do Rocha Pinto a EPAL prevê lançar em breve uma rede de fontanários.
"Já foi feito um levantamento em conjunto com a administração local e o empreiteiro e indicados já alguns pontos. A fase seguinte será a de elaboração do projecto para o lançamento da referida rede", explicou.