Numa investigação conduzida pela sua Unidade de Investigação, o jornal The Namibian revela que em causa estão dois ministros namibianos e um antigo ministro angolano, e ainda gestores do Investec Asset Management, uma firma multinacional que gere investimentos e fundos, e uma empresa namibiana, a National Fishing Corporation of Namibia (Fishcor) e associados.
Esta investigação desenvolve-se, segundo o jornal, em torno de um acordo que Angola e a Namíbia assinaram em 2014, e, alegadamente, esses políticos, com o envolvimento de cúmplices, ter-se-ão apossado dessas quotas de pesca com um valor de quase 10 milhões de dólares norte-americanos colocando-as à venda a valores do mercado internacional.
Os jornalistas que conduziram esta investigação dizem ainda que os dinheiros conseguidos com este esquema ilegal, onde em causa está a utilização criminosa de quotas de pesca que o Governo da Namíbia entregou ao Governo angolano, no âmbito de um acordo bilateral, foram escondidos em paraísos fiscais nas Maurícias e no Dubai.
Apesar de, nesta fase, estarem em causa "apenas" cerca de 150 milhões de dólares namibianos, ou 9,9 milhões USD, o total pode chegar aos 500 milhões dólares namibianos, ou cerca de 33 milhões USD.
O The Namibian avança que não foi possível, no decurso desta investigação, apurar as razões pelas quais o Governo de Windhoek entrega quotas de pesca a Angola, país com uma larga linha de costa e riqueza marinha comprovada, sendo essa uma das razões para que esta investigação, no âmbito da Comissão Anticorrupção da Namíbia, seja "muito sensível"
O director da ACC, Paulus Noa, apesar de não ter admitido formalmente que esta comissão está a investigar a ligação angolana a este caso, admite que a questão das quotas de pesca está a ser investigada.
E advertiu que, por norma, estes casos não abrangem apenas corrupção, estão normalmente ligados a evasão fiscal e branqueamento de capitais.
Recorde-se que o acordo em questão, assinado em 2014 entre a Namíbia e Angola tinha como uma das primeiras áreas de cooperação a formação de uma joint venture e a alocação de quotas de pescas nesta, que foi denominada Namgomar SA Pesca, e que teve como foco principal no início a pesa de espécies como o carapau, uma das espécies mais importantes para o sector angolano das pescas e de longe a espécie mais consumida pela população.
Dentro deste acordo estava a entrega pela Namíbia a Angola uma quota de 25 mil toneladas métricas de carapau, entre 2014 e 2016, que terão, segundo este investigação, total ou parcialmente, sido vendidas nos mercados a companhias de pesca privadas em benefício dos envolvidos, num valor estimado de 70 milhões de dólares namibianos. No período de 2016 a 2019, esse valor rondará os 150 milhões.