Volodymyr Zelensky, depois de receber uma chamada de Donald Trump, veio a público insistir que está disponível para um cessar-fogo "sem condições prévias", o próprio Presidente norte-americano, que tem dado sinais de estar cansado das "birras" de Kiev e de Moscovo, anunciou que vai continuar a conversar com ambos, mas exige indicações claras de boa-vontade.

Na condição da estrela maior da constelação de líderes mundiais que estão esta sexta-feira, 09, na Praça Vermelha, em Moscovo, para o 80º Dia da Vitória, o Presidente chinês deu um grande passo em frente na defesa das exigências russas para acabar com o conflito no leste europeu.

Xi Jinping, depois de um encontro com Vladimir Putin, na quinta-feira, 08, no Kremlin, dedendeu, segundo avançou aos jornalistas o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, que as "causas profundas" do conflito na Ucrânia devem ser resolvidas para que seja possível uma solução sustentável e duradoura.

Esta declaração do líder chinês, citada pela russa RT, aproxima ainda mais Pequim de Moscovo, na sua já bem conhecida "parceria sólida como uma rocha", porque Putin tem insistido ao longo dos anos de guerra que esta é resultado das ameaças existências à Federação como a aproximação de Kiev à NATO, e, entre outras, a defesa da dignidade e os interesses das populações russófonas e russófilas na Ucrânia.

Pouco interessado em dar lastro à questão das raízes onde estão as causas do conflito na Ucrânia, até porque os Estados Unidos fazem parte da história que gerou as ameaças existenciais à Federação Russa, nomeadamente o avanço da NATO para leste, para junto das suas fronteiras, desde a queda da URSS, em 1990, Donald Trump está mais focado num cessar-fogo prolongado para nele assentar negociações directas entre Moscovo e Kiev.

Isto, depois de Volodymyr Zelensky ter recusado liminarmente as tréguas de 72 horas propostas por Putin para coincidirem com as festividades do Dia da Vitória em Moscovo de forma a anular quaisquer perturbações para os seus 29 ilustres convidados.

Convidados esses que servem para Vladimir Putin enviar um recado sonoro ao mundo de que a Rússia não está isolada como, por exemplo, procuram os países da Europa ocidental e até há pouco tempo, os Estados Unidos, através dos sucessivos pacotes de sanções.

Alias, no discurso tradicional feito na Praça Vermelha, perante uma parada militar gigantesca, incluindo unidades enviadas por vários países, sendo a chinesa a mais robusta de todas, Putin disse que a Rússia vai continuar a "combater o nazismo (uma referência ao que diz o Kremlin ser o regime nazi de Kiev) o anti-semitismo e a russofobia".

O Presidente russo disse ainda que a Rússia "não esquece as lições da II Guerra Mundial" e não vai "permitir que o legado russo seja distorcido para apagar da História os verdadeiros vencedores" desse conflito global onde morreram mais de 60 milhões de pessoas, das quais 27 milhões de russos, incluindo soldados e civis.

Um dado claro que fica visível neste dia de festa em Moscovo, sendo que os aliados ocidentais que em 1945 estavam lado alado com os soviéticos no combate à Alemanha nazi, comemoram a Vitória um dia antes, é que Putin conseguiu juntar tanto líderes importantes do sul global, como Xi Jinping ou o brasileiro Lula da Silva, ou da Índia, no nível ministerial, mas também de países europeus, como o primeiro-ministro eslovaco Robert Fico ou o Presidente sérvio Aleksandar Vučić, entre outros ou os africanos Ibahim Traore, do Burkina Faso, ou o guineense Umaro Sissoco Embaló.

Com esta poderosa demonstração de força, tanto militar, na Parada da Praça Vermelha, como na bancada, com 29 líderes mundiais, além de dezenas que se fizeram representar através de ministros ou embaixadores, o chefe do Kremlin mostra aos aliados da Ucrânia que nem a Rússia está isolada nem parece ser possível que esse isolamento possa ser conseguido no futuro.

Se esta demonstração de força de Vladimir Putin permite o seu uso como um aviso à navegação do ocidente, ao mesmo tempo pode levar o Kremlin a aceitar sem risco de demonstrar fragilidade uma aproximação aos "parceiros" europeus, porque, como notam alguns analistas, "mais cedo ou mais tarde, a União Europeia terá de falar com Moscovo", porque nem durante a Guerra Frio isso deixou de acontecer.

E entre os europeus, face a essa mesma demonstração de sólida conexão da Rússia com grande parte do mundo, este momento pode conduzir, segundo alguns analistas, a uma reversão da estratégia de confronto total com Moscovo para um nível menos abrasivo, que é, como já é visível, o que fizeram os Estados Unidos da América.

E um dado importante para mostrar que algo pode mesmo estar a mudar é que as comemorações do Dia da Vitória em Moscovo está, esta sexta-feira, 09, a ter uma cobertura mediática na imprensa ocidental incomparavelmente maior que as festividades ocidentais de quinta-feira, 08.