O que o Presidente ucraniano quer quando propõe, e já viajou mesmo para a Turquia para isso, um tête-à-tête com o Presidente russo, em Istambul, nesta quinta-feira, 15, é que um acordo de paz seja negociado de imediato, o que seria um fenómeno histórico nunca visto.

Porém, na cabeça de Vladimir Putin, quando propôs o recomeço das negociações directas com os ucranianos, era que estas tivessem lugar entre delegações dos dois países, sendo que a comitiva russa teria à frente o ministro Sergei Lavrov, que é quem chefia a diplomacia russa.

Só que Volodymyr Zelensky, assessorado e orientado pelos seus aliados europeus, França, Alemanha, Polónia e Reino Unido, depois de um encontro este Sábado, 10, em Kiev, com Emmanuel Macron, Friedrich Merz, Donald Tusk e Keir Starmer, não quer negociar, quer impor um cessar-fogo de 30 dias a Moscovo antes de mais nada.

O que, para o Kremlin, como Putin disse quando, já na madrugada de Sábado para Domingo, lançou a proposta de retoma das negociações directas e sem condições, em Istambul, referia-se ao continuar das conversas no ponto em que estas estava, em Abril de 2022.

Em princípio, à mesa com Lavrov e restante comitiva russa, em Istambul estaria o nº2 de Zelensky, Andrii Yermak, o que pressuporia um longo ciclo de encontros, sem que a guerra fosse interrompida antes de haver um entendimento sólido sobre as causas do conflito, como defende o Kremlin.

Mas a Ucrânia e os seus aliados europeus não tê tempo e, como é cada vez mais evidente, precisam de exigir um cessar-fogo prévio e incondicional aos russos para poderem ter não apenas uma vitória diplomática mas tempo para rearmar Kiev e permitir a reorganização das forças ucranianas.

É que este objectivo não é apenas apontado pelos russos, também o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, e a chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, defenderam recentemente em público que os aliados ocidentais de Kiev têm de fazer o que estiver ao seu alcance para dar condições a Volodymyr Zelensky para continuar a guerra com a Rússia de forma a obrigar Putin a ceder nas suas férreas condições para parar os combates.

Ou seja, o que Putin disse, segundo vários analistas, no Sábado, embora subtilmente, é que está consciente que Zelensky e os seus "parceiros" europeus estão a querer empurrar a Rússia para uma armadilha em que um cessar-fogo só teria como objectivo prolongar o conflito.

Esses 30 dias seriam usados por Kiev para aprofundar o recrutamento de forma a substituir as suas unidades exauridas na frente de mil kms de guerra, rearmar-se com o apoio alemão, francês e britânico, e voltar a exigir que os russos abandonem os territórios conquistados até agora.

Ora, esta "armadilha" só seria viável se o Presidente Donald Trump, como parecia ser o caso, tivesse assumido uma posição masi parecida com a do seu antecessor, Joe Biden, aumentando de forma robusta o apoio militar e financeiro a Kiev.

Só que, ao que tudo indica, Macron, Merz e Starmer contaram com Trump quando este já tinha voltado a mudar de ideias e, como o frisou numa publicação na sua rede social, Truth Social, voltou a exigir que Kiev se sente à mesa com os russos em Istambul, com ou sem a presença de Putin naquela cidade turca.

Depois de ter dito que ele próprio poderia ir a Istambul com Putin e Zelensky, embora depois tenha baixado o nível apontando para o seu secretário de Estado Marco Rubio, Donald Trump, que já disse concordar com a necessidade de falar das raízes e as causas profundas desta guerra, meteu de novo o dedo no olho de Zelensky.

Donald Trump, que até está actualmente no Médio Oriente e pode parar no leste europeu para um intrépido momento de grande diplomacia, como tanto gosta, disse que Kiev tem de aceitar negociar com os russos sem condições, como foi proposto pelo Kremlin, porque é uma oportunidade imperdível para parar o "banho de sangue" no leste europeu.

Amanhã, quinta-feira, 15, saber-se-á se Vladimir Putin vai ou não a Istambul, mas já se sabe que não haverá um cessar-fogo prévio e que os europeus, como o Presidente francês, Emmanuel Macron, avançou numa entrevista a uma TV francesa, vão aplicar novas sanções a Moscovo.

Depois de 16 pacotes de sanções, um 17º dificilmente poderá fazer encolher Putin, mas desta feita, segundo Macron, os alvos não serão directamente os russos mas sim os países e empresas terceiros que cm eles fazem negócios e lhes compram petróleo, gás e outras matérias-primas...

Sendo que, curiosamente, a União Europeia ainda adquire na Rússia perto de 20% do gás natural que consome e uma parte do crude queimado nas indústrias europeias também é russo embora comprado em países como a Índia, o que deixa Bruxelas com a missão difícil de executar a quadratura do círculo.

Até porque se não for conseguido um acordo de qualquer dimensão que permita parar as hostilidades, é já certo que, com a chegada do bom tempo ao leste europeu, a Rússia fará uma grande ofensiva em busca de conquistar os territórios que lhe faltam nas regiões de Kherson, Zaporizhia e Donetsk, anexadas formalmente em 2022.

Com a fragilidade reconhecida até pelos seus aliados, como Macron, que na mesma entrevista admitiu que Kiev não tem condições para reaver todos os territórios já perdidos para Moscovo, a Ucrânia poderá ver as forças russas chegarem a geografias indefesas na margem direita do Rio Dniepre, o que seria uma situação explosiva para toda a Europa...