Há sete meses que Angola, apesar de ostentar um potencial produtivo bastante inferior , cerca de dois milhões de barris por dia (bdp), ao da Nigéria, superior a 3, 5 milhões bdp, liderava a lista de maiores produtores de petróleo em África, com cerca de 1,7 milhões bdp, tendo caído para os 1,58 milhões bpd em Outubro.

Ao passo que a Nigéria, graças à diminuição da violência no Delta do Niger (por razões que se explicam mais abaixo neste texto), não só manteve, como aumentou a sua produção de bpd em relação aos mínimos do ano, pouco mais de 1,4 milhões de bpd entre Maio e Junho.

Todavia, este sobe e desce na lista de maiores produtores, com Angola e a Nigéria sem concorrência, só tem relevância na medida em que, através dele pode-se averiguar a capacidade do Governo de Abuja em garantir a paz e a estabilidade no Delta do Níger e, por consequência, no mais populoso país de África, com cerca de 200 milhões de habitantes, cuja importância para a estabilidade do continente não tem paralelo, mesmo face à crise política que a RD Congo atravessa.

Apesar de ter pouca importância, os números de bpd avançados pela OPEP, voltam a colocar a Nigéria no topo, com 1,62 milhões bdp, contra os 1,58 milhões bpd de Angola.

Ainda com relevância na análise a estes números, segundo publicações especializadas, está o facto de a extracção de petróleo no Delta nigeriano ser mais barata que aquela que é feita em Angola, levando as petrolíferas a apostar mais nos "spots" onde mais facilmente alcançam o lucro.

A diferença é ligeira mas no computo anual assume importância. Em Angola, de acordo com contas da Ordem dos Engenheiros da Petrobras, a produção de um barril de petróleo custa em média 35 USD, face aos 32 na Nigéria, e, como comparação, muito longe dos oito a 10 USD nos países do Golfo.

Delta suspira de alívio... mais ou menos!

O Delta do Níger pôde suspirar temporariamente de alívio porque os ex-guerrilheiros voltaram a ser remunerados pelo calar das armas, mas as ameaças fazem adivinhar novas tormentas na maior região produtora de petróleo da Nigéria e os combates dos últimos dias podem fazer com que a região entre novamente no caos.

O Governo nigeriano reiniciou o pagamento dos subsídios acordados em 2009 com os guerrilheiros do Movimento de Emancipação do Delta do Níger (MEND), num acordo que permitiu o retomar da produção normal de petróleo nesta região, embora paulatinamente.

O Delta do Níger é a grande região produtora de petróleo da Nigéria, país que foi relegado para a segunda posição dos maiores produtores de petróleo na África subsaariana por Angola, depois de os movimentos de guerrilha terem iniciado ataques às infra-estruturas petrolíferas na região.

O MEND acabou por se auto-extinguir na sequência dos acordos com o Governo de Abuja, mas, ultimamente, um novo movimento de guerrilha surgiu por estar contra as tréguas assumidas pelo MEND a troco de chorudos subsídios.

Durante alguns meses o pagamento das verbas acordadas foi interrompido e, como por magia, surgiram os Vingadores do Delta do Níger (VDN), criando os mesmos problemas à estrutura produtiva do Delta, onde figuram as maiores petrolíferas mundiais, com sucessivos ataques aos oleodutos e às plataformas, com recurso a armamento de guerra, como os RPG e morteiros.

Perante este cenário, e com a produção a decair significativamente, a ponto de o país, com um potencial produtivo muito superior a Angola, ter estado durante seis meses consecutivos um lugar atrás na lista dos maiores produtores africanos, o executivo de Abuja foi forçado a retomar as transferências para os ex-guerrilheiros do MEND.

Mas a interrupção foi explicada com um eufemismo pelo porta-voz do programa que permitiu o fim das acções de guerrilha do MEND, Owei Lakenfa: "O Pagamento continua, apenas tivemos problemas logísticos". Cada guerrilheiro que renunciou às armas, cerca de 30 mil, está, desde então, a receber pouco mais de 200 dólares por mês.

Este problema, com a existência dos Vingadores do Delta do Níger em actividade e o MEND a demonstrar capacidade de retoma das acções de guerrilha, pode vir a ganhar intensidade porquanto o Governo de Muhammadu Buhari já afirmou que o programa/acordo de 2009 vai terminar em 2018. Alias, esse anúncio marcou o início da actividade guerrilheira dos VDN.

A génese programática dos guerrilheiros do Delta do Níger funda-se na ideia de que os povos da região estão a ser severamente prejudicados pela exploração petrolífera, com continuados derrames e outro tipo de poluição gerada pela extracção de crude, bem como a parca distribuição de riqueza proporcionada pelo Governo central numa região que é das mais empobrecidas do país, apesar das riquezas do seu subsolo.

Não menos importante é a exigência da auto-determinação da região feita pêlos Vingadores, ou a expulsão das companhias petrolíferas. No Delta estão algumas das "majors" do crude mundiais, como a Shell, a Chevron ou a Exxon.

Notícias dos últimos dois dias referem mesmo que os VDN voltaram a exigir ao Governo de Abuja que ordene a retirada das companhias multinacionais do Delta do Níger sob ameaça de que, findo o prazo de uma semana, os ataques serão retomados em larga escala.

Em causa está a possibilidade colocada pelo organismo estatal que enquadra os trabalhadores do sector de pedir a ex-guerrilheiros para assegurarem as infra-estruturas petrolíferas da região, deixando adivinhar uma nova escalada na violência e a possibilidade de Angola voltar ao topo da lista dos produtores.