A fuga dos meios mais rurais do Kunene namibiano é a resposta à morte de milhares de cabeças de gado e à destruição de sucessivas colheitas devido à falta de chuvas, sendo esta uma das regiões do país vizinho onde o Governo decretou o estado de emergência.
A maior parte das pessoas que afluem à capital da província, Opuwo, é oriunda da região de Etanga, a cerca de 100 quilómetros de distância, e estão a ser instaladas em centros de acolhimento criados com apoio da igreja católica namibiana.
Relatos feitos por algumas pessoas que deixaram as aldeias mais afectadas pela prolongada seca à imprensa namibiana, dão conta de milhares de cabeças de gado mortas, o que significa que as comunidades que têm na pastorícia transumante o seu principal meio de subsistência deixaram de ter meios para viver.
Ao The Namibian, Karihihitua Ngombe, de 87 anos, explicou todas as suas 308 cabeças de gado pereceram, vendo-se este ancião obrigado a partir porque a sua família, mulher e filhos, abandonaram a casa porque ele deixou de ter condições de o sustentar.
O Kunene é a província mais pobre das 14 que existem na Namíbia e é conhecida como a terra dos Himba, um grupo étnico conhecido pela sua capacidade de viverem como caçadores colectores e da pastorícia.
A província deve o seu nome ao rio Kunene (Cunene), que delimita a fronteira a Norte, com Angola, e faz fronteira com as angolanas Namibe e Cunene.
Governo local sob pressão
Este fluxo inusitado de pessoas à cidade de Opuwo está a criar severos constrangimentos ao Governo local, que, segundo o jornal namibiano, já tem em marcha um plano de criação de pontos de água e outros serviços essenciais para receber as pessoas que fogem da severa seca e das suas consequências sobre o gado e a agricultura.
"Não podemos fazer de conta que não estamos a ver estas pessoas e as suas circunstâncias", disse o chefe do gabinete do executivo provincial, Alfons Tjitombo.
A seca nesta província namibiana tem como razão principal o comportamento do El Nino nos últimos anos. O El Nino é um fenómeno meteorológico que tem como palco as correntes marítimas do oceano Pacífico através da alteração da temperatura das águas, gerando secas ou inundações violentas em diversos pontos do mundo.
A África Austral é uma das regiões do globo mais afectadas, sendo já a actual seca considerada a mais violenta em 35 anos e, em alguns caso, como na África do Sul, mesmo em 100 anos, sendo já conhecido o seu impacto em vários países, incluindo Angola, com as situações mais sérias a terem lugar na Namíbia, Zimbabué, África do Sul e Botsuana, entre outros.
Nesta parte do mundo há já mais de 35 milhões de pessoas em risco de fome, tendo a situação de estado de emergência sido declarado em alguns países.
Em Angola, nas província do Sul, Huíla, Cunene e Namibe, há cerca de 800 mil pessoas a precisar de ajuda pela mesmas razões, segundo dados da ONU.