O receio de entrar nessa fase de escassa procura para demasiada oferta foi despoletado pela nova política assumida pela OPEP+ em Maio deste ano, quando começou a aumentar gradualmente a produção, com 111 mil bpd para chegar aos 555 mil bpd em Outubro.

Essa percepção, mesmo sem se notar no sobe e desce dos gráficos nos mercados, começou a mudar no passado fim de semana, quando a OPEP+, contrariando as expectativas, que eram chegar além dos 600 mil bpd em Novembro em cima dos acertos anteriores, ficou muito longe disso.

E voltou mesmo quase aos valores decididos em Maio, quando este movimento contra-natura do cartel liderado por russos e sauditas, com "apenas" 137 mil bpd para o próximo mês, o que veio tirar pressão no lado da oferta porque afinal o gap face à procura não vai alargar indefinidamente.

Pelo contrário, segundo notam alguns analistas, começa a desenhar-se no horizonte mesmo uma escassez na produção, que não aconteceria seguramente se a OPEO+ não mudasse de azimute, o que aconteceu porque os preços estavam mesmo a descambar.

Com esse risco de excesso de produção diluído, os preços do barril começaram a alterar-se e no Brent, que é a referência mais relevante para as exportações nacionais, verificou-se mesmo uma evolução para o verde, chegando esta quarta-feira, 08, perto das 14:40, hora de Luanda, aos 66,11 USD, mais 1,01 por cento que no fecho anterior.

Apesar desta melhoria, embora isso já seja pouco relevante por se estar a caminhar rapidamente para o final do ano, o barril ainda está muito longe dos 70 USD em média com que foi desenhado o OGE 2025.

E, para ajudar a este esverdear dos mercados, como recorda a analista Svetlova Paraskova, do site OilPrice, a capacidade de gerar excedentes da OPEP+ está a desaparecer, como mostram os números oficiais do cartel.

Esta analista aponta mesmo como factor determinante para esta alteração de agulha na organização que responde por mais de 40% do crude que diariamente motoriza a economia global, a necessidade dos seus membros em proteger os preços e evitar que estes entrassem numa espiral descendente.

Isto, porque os seus especialistas sabem que esse risco aumenta sempre no final do Verão no Hemisfério Norte e este ano não vai ser diferente com uma redução acentuada do consumo, o que se revelou aconselhável não manter a robustez das anteriores correcções na produção.

Recorde-se que a OPEP+ eliminou mais de 6 mbpd aquando da crise da Covid-19 e manteve o aperto até este ano, embora alguns dos seus membros, como o Iraque raramente tenham cumprido com as quotas que lhe são atribuídas.

Alias, ainda segundo os analistas do OilPrice, a maior parte, excepto Arábia Saudita, EAU e Iraque, não possuem capacidade instalada para aumentar a produção se isso se vier a revelar necessário de um momento para o outro, o que é oficialmente visto como num prazo de 90 dias, e isso também está a ser equacionado pelos analistas.

Embora não faça já parte da OPEP, de onde saiu em finais de 2023, Angola não pode nem está alheia a este sobe e desce porque é uma das economias com maior dependência do sector petrolífero.

Angola não perde os mercados de vista

O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos por demais conhecidos imponderáveis.

Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.