... porque há muito que se sabe que o que importa não é a queda, o que tem mesmo impacto é a forma como se aterra... e nesta semana, está-se a ver como começa, mas ninguém pode dizer como vai acabar...
... porque não apenas a pressão Ocidental sobre a Rússia cresce, com o 19º pacote de sanções a caminho de Moscovo a partir de Bruxelas, ou o crescente vigor dos ataques ucranianos à infra-estrutura petrolífera da Federação Russa...
... mas também no Médio Oriente, onde a vaga de reconhecimentos do Estado da Palestina entre os países Ocidentais, incluindo europeus e a Austrália, está a fazer Telavive activar o modo de crise, com o primeiro-ministro Benjamin Netanyhau a garantir, custe o que custar, que não vai haver um Estado palestiniano.
E quando o Governo israelita diz que não há limites para o que promete, entre os analistas não há limites para as possibilidades das situações que podem vir a ter que analisar, incluindo o recomeço da guerra Israel-Irão, ou o alargamento do conflito aos países do Golfo Pérsico, onde cresce igualmente a pressão sobre o Ocidente para dar o passo histórico do reconhecimento do Estado palestiniano.
E se nesta geografia em chamas o sector petrolífero é sempre dos primeiros a arder, no Leste Europeu não é diferente, com a Rússia, um dos maiores produtores e exportadores do mundo, a entrar na zona de aperto com as garantias de Bruxelas sobre o fechar da torneira definitivo à energia Made in Russia.
Apesar deste cenário ter tudo o que se pode esperar que uma crise faça aos mercados, que seria um crescente e contínuo aumento dos preços, o contrário também é verdade e em Washington o Presidente Donald Trump, que precisa de crude barato para revigorar a sua economia em crise, já começou a reagir de forma a estancar a sangria...
Para já, prometeu ajudar os europeus a enfrentar os russos em caso de Moscovo atacar a Polónia ou os Países Bálticos, geografias marcadas nos últimos dias pela incursão de drones russos, que levaram mesmo ao activar do Art. 4º da NATO, que exige reuniões de urgência para analisar a situação entre os Estados-membros.
Mas então, o que pode reverter este optimismo nos mercados alimentado pelo pessimismo no que pode acontecer nos cenários internacionais referidos? Como sempre acontece e aconteceu, o esvaziar da pressão, como, de resto, aconteceu na semana que passou.
E eisso pode acontecer já nos próximos dias com o encontro, mais um, entre Trump e o Presidente Volodymyr Zelensky, depois de o americano ter afirmado de forma categórica que o ucraniano "tem de fazer um acordo" com os russos, num tom que os hermeneutas de serviço logo amplificaram com um "dê por onde der".
Outra razão é o que se começa a perceber sobre as economias europeias, como é o caso da alemã e da francesa, ambas com graves perturbações, que em muito são geradas pelo fim do acesso à energia barata russa, especialmente a indústria pesada e química da Alemanha, que, como motor da Europa, afunda todos os outros países nos seus problemas.
E com a pressão crescente interna do partido neo-nazi, a Alternativa para a Alemanha (AfD), que está a crescer nas sondagens dia após dia, alguns analistas admitem que em Berlim comece a engrossar a ideia de que é preciso aliviar a pressão sobre Moscovo, sob risco do regresso do nazismo ao poder no país.
A par da possibilidade do esvaziamento da pressão geoestratégica, dados já conhecidos, como a retoma paulatina mas sólida da produção no seio da OPEP+, incluindo russos e sauditas, e dos recentes números no Iraque, que indicam estar este país a ferver nos mercados, pode começar a fazer o verde reluzente "desmaiar" para um verde mais apagado nos mercados.
Além disso, tanto os EUA como a China, os dois maiores consumidores da matéria-prima no mundo, já viram melhores indicadores tanto para o presente como nas perspectivas para os próximos meses.
E é assim que o barril de Brent, a principal referência para Angola, estava a subir 0,70 %, para os 67 USD, perto das 09:30, hora de Luanda, um bom começo de semana, principalmente devido às derrapagens da que passou, mas, ainda assim, longe do necessário.
Pelo menos para chegar aos 70 USD, valor de referência média anual com que foi elaborado o OGE 2025.
Apesar da luz ao fundo do túnel, a economia nacional abana
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos imponderáveis, que incluem ainda o conflito tarifário de Donald Trump com China, Índia e Brasil...
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo, que pode ser obrigado em breve a avançar para uma revisão do OGE.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.