Depois da abertura da época de caça de vida selvagem, brevemente poderemos estar perante uma nova modalidade desportiva nacional: a caça ao esqueleto. Não aos esqueletos comuns, desses que toda a gente tem no armário e que cheiram à mofo e à velhice. Aqui, desenterram-se esqueletos de plástico, com cheiro à infância e pintados de cores vivas. Quem tentar voos mais altos terá primeiramente de verificar que segredos esconde, pois, havendo acusações, falsas ou não, a sua imagem sairá beliscada, ou mesmo ferida, pois há muitos telhados de vidro.

A acusação que agora percorre os corredores do poder e os meandros das redes sociais é de uma grandeza tão ímproba, de uma dimensão tão colossalmente pequena, que só pode ser genial. Um homem, um cargo maior, uma ambição presidencial, e eis que a pá da moralidade atinge o baú do tesouro: um desvio de... brinquedos.

É irónico como objectos lúdicos, feitos de plástico, destinados a provocar sorrisos, terem-se transformado, de repente, numa arma letal escolhida para a batalha final. São sinais do tabuleiro político. É o jogar com todas as armas. Quando não se consegue derrotar um adversário com ideias, porque frequentemente elas são escassas de ambos os lados, ataca-se a sua persona. Só que o passado é uma mina inesgotável para quem quer hipotecar o futuro.

É uma estratégia perfeita: é impossível defender-se de uma acusação destas com dignidade. Se se defende a sério, fica ainda mais ridículo, pois está a debater-se com fantasmas de anos passados materializados em camiões de peluches. Se se ignora, parece conivente. O verdadeiro crime, no fundo, não é o alegado desvio. O verdadeiro crime é a infantilização da política, a redução de debates cruciais sobre o destino de um país a uma discussão sobre quem mexeu no mealheiro das guloseimas. E assuntos deste género ficarão mais doces com o aproximar das decisões, das eleições. No final do espectáculo, ficamos todos a olhar uns para os outros, sem saber se devemos rir ou chorar.

E o futuro, esse, fica à espera na esquina, a ver os adultos a brincar com os seus brinquedos avariados, à procura de quem o leve a sério. Todo o cuidado é pouco, pois pode surgir uma acusação de se brincar com coisa séria.