A Goldman Sachs, olhando para a importância da China e dos EUA na economia mundial, que ultrapassam, em conjunto, os 22% do comércio planetário, sendo as duas, de longe, maiores potências globais, e os efeitos da guerra das tarifas sobre estas, aponta agora para os 63 USD como preço médio do barril de Brent para o resto do ano de 2025.
O que em Angola tem como resultado, se se confirmar a previsão deste que é um dos oráculos mais importantes da economia mundial, a necessidade de reajustar o OGE 2025, que foi elaborado com o barril de Brent nos 70 dólares de valor de transacção médio anual.
Além disso, a OPEP, na sua extensão enquanto OPEP+, que agrega a Rússia e outros produtores desalinhados ao "cartel", também está a rever negativamente o seu Outlook para o que resta do ano, apontando agora para menos consumo, um efeito directo da guerra comercial de Trump.
E alguns analistas admitem que os recuos sucessivos do Presidente norte-americano, primeiro ao suspender as tarifas por 90 dias para um conjunto de 75 países, todos os que não retaliaram, depois criando excepções para diversos componentes electrónicos no mapa das economias que se mantiveram tarifadas, que já tiveram como consequências a recuperação dos mercados petrolífero e bolsista, pode ser de efeito de curta duração.
Ainda assim, se os 63 USD admitidos como valor médio pela Goldman Sachs já são preocupantes para o equilíbrio das contas nacionais angolanas, e para os outros exportadores africanos, como a Nigéria ou a Líbia, a casa financeira norte-americana sublinha que esse valor pode não ser mantido se os EUA entrarem em recessão, como muitos analistas antecipam.
É que a economia dos EUA foi onde os efeitos negativos da guerra mundial de tarifas declarada por Trump mais se fizeram sentir, não apenas pelas gigantescas perdas bolsistas, como por causa da inflação e o aumento das taxas de juro provocadas pelo conjunto das medidas retaliatórias chinesas, desde logo a venda de uma pequena parte - 50 mil milhões USD - da sua colossal dívida pública dos EUA, que abeira os 800 mil milhões USD.
Como é claro, quando estes dois elefantes lutam, o capim é quem sofre, porque crises económicas em gigantes mundiais podem ser danosos mas mais tarde ou mais cedo, recuperam... já os efeitos nas economias mais débeis e, muitas das vezes, como a angolana, muito dependentes da exportação de crude, os efeitos nefastos podem ser de longa duração e não raro, perdurar por décadas...
Apesar deste cenário pouco sorridente, o barril de Brent, a referência principal para as ramas exportadas por Angola, estava esta manhã de terça-feira, 15, perto das 09:30, hora de Luanda, nos 63,89 USD, uma perda muito ligeira de menos de 0,1 %, mas com um persistente sobe e desce da fasquia dos 64 dólares.
Esta ligeira passagem pelo verde deveu-se precisamente às excepções criadas por Donald Trump para o universo dos aparelhos electrónicos, como os telemóveis e computadores, principalmente da China, que já vem de sexta-feira.
E, além disso, de em Março, um sinal de que sem a esdrúxula medida do Presidente dos EUA o gigante asiático estava a começar a desfraldar as velas, os dados mostram uma recuperação das importações da matéria-prima na China, depois postas em causa com a guerra das tarifas declarada por Trump já com Abril a deslizar pelo calendário das incertezas globais.
Estes pequenos balões de oxigénio, importantes para os países mais petrodependentes ou mais colados às exportações para os EUA, não apagam o facto de desde que foi declarada a guerra comercial pela Casa Branca, o barril de Brent ter resvalado mais de 10 USD, de mais de 74 USD a 02 de Abril, para os actuais cerca de 64 USD.
Para os analistas, este momento de relativa estabilização dos preços da energia, como os dados das importações chinesas, que vinham de antes da guerra comercial, pode significar que a Casa Branca foi, por estes dias, um campo de batalha entre os conselheiros e assessores de Trump que defendem e que discordam da medida.
E que, provavelmente, esta guerra comercial de muito complexa justificação, como o mostra os recuos e os discursos incongruentes do Presidente dos EUA, pode estar a encaminhar-se para o fim.
Sendo uma análise psicológica aceitável entender que quando Trump diz que "eles", quase sempre referindo-se à China, querem acordos com os EUA mas não sabem como fazer para aceitarem a humilhação e a derrota nesta guerra de tarifas, está a dizer que é ele que está a recuar e de uma forma atabalhoada por não saber como fazê-lo de forma coerente e racional.
Depois de suspender tarifas para mais de 70 países, incluindo a União Europeia, de recuar nas taxas aplicadas a componentes e aparelhos electrónicos da China, Trump procura mascarar a sua derrota com o barulho de novas ameaças de mais tarifas, desta feita abrangendo produtos farmacêuticos...
Alguns analistas notam que pode ser apenas Donald Trump a criar ruído para não se "ver" a sua rendição para uma guerra que o próprio iniciou, até porque da China foi-lhe dito logo nas primeiras horas que não haveria recuo e que a luta seria "até ao fim"...
O quer quer, ou queria, Trump?
Embora não exista uma lógica solidamente descortinada pelos economistas para esta guerra de tarifas do Presidente norte-americano, na sua versão simples, Trump quer fortalecer o consumo de bens Made in USA em detrimento dos importados, que ficam agora mais caros.
Além disso, Trump pode estar a contar com a deslocalização de fábricas que estão actualmente no resto do mundo, especialmente na China, para os EUA de forma a evitas estas taxas, perseguindo a sua velha ideia de reindustrializar o país para "fazer a América grande de novo".
Mas os mais reputados economistas duvidam desta mecânica simples, antecipando ao invés uma generalizada crescente inflação e uma recessão a prazo garantida dentro dos Estados Unidos, no imediato, e no resto do mundo ao virar da esquina do tempo.
Como Luanda olha para este cenário global?
O actual cenário internacional, que não era tão dramático há anos, desde a pandemia da Covid 19, tende a manter os preços ainda longe do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.