Na semana que passou, e onde o barril escorregou dos 95 USD a 27 de Setembro e os 85 no arranque da sessão desta quinta-feira, 05 de Outubro, os mercados e os especuladores estavam com um olho nos gráficos e outro nos bastidores da reunião da OPEP+ marcada para esta quarta-feira.

Se os indicadores globais, como a produção industrial chinesa, a produção real de crude no mundo e as altas taxas de juro nos EUA, empurravam o barril cada vez mais para baixo da fasquia respirável dos 90 USD para as economias petrodependentes, como a angolana, o risco de o "cartel" liderado pela Arábia Saudita e a Rússia poder surgir com uma surpresa - maid cortes ou o prolongamento destes - manteve o dedo afastado do gatilho das vendas em desespero.

Esse equilíbrio foi difícil e a verdade é que acabou por, nesta semana, ser a pressão em baixa a tirar dólares à medida universal... até que, já na quarta-feira, a maré mudou ligeiramente, quando os membros da OPEP+, após a reunião em Viena de Áustria, terem vindo a público garantir que os cortes se vão manter, assim como o olhar afinado sobre os mercados de forma a garantir que o espaço entre a oferta e a procura se manterá estreito.

Com estas garantias dadas pela organização que desde 2017 agrega os Países Exportadores (OPEP) e um grupo de desalinhados encabeçado pela Rússia, os mercados perceberam o recado e o barril começou de novo a inchar, ligeiramente, mas as vendas desesperadas foram interrompidas porque os investidores voltaram a acreditar na matéria-prima como investimento seguro. Pelo menos para já...

E foi assim que perto das 09:30, nos contratos para Dezembro, o barril de Brent estava a valer 85,9 USD, com uma ligeira subida de 0,13% face ao fecho de quarta-feira.

Tudo, depois de o painel interministerial da OPEP+ ter optado por manter inalterado o seu programa de cortes na produção, da qual é responsável por 50% de todo o crude extraído no planeta.

Desde 2022 que a OPEP+ mantém a produção abaixo do seu potencial actual em 3,6 milhões de barris por dia (mbpd), 2 mbpd no ano passado e 1,6 mbpd já este ano, além do 1,3 mbpd cortados de motu proprio pelos sauditas e russos, 1 mpd os primeiros e 300 mbp os segundos, até ao fim do ao corrente.

Porém, os riscos estão ao virar da equina, desde logo na China, onde o gigante asiático parece estar em dificuldades para sair do pântano dos últimos dois anos, com a produção industrial a oscilar entre altos e baixos, mas com uma crise no imobiliário que tarda em deixar de assustar, não só Pequim mas também o resto do mundo.

Na Europa Ocidental, as coisas vão de mal a pior, com os efeitos catastróficos da guerra na Ucrânia a fazerem-se sentir com mais e mais intensidade, a ponto de o motor da economia europeia, a Alemanha, estar a atravessar uma crise histórica e em recessão que ameaça prolongar-se. E, como se sabe, se a economia alemã tropeça, a europeia cai mesmo... como é o caso actual, com o consumo em queda livre desde o início do ano.

Também os EUA, muito pelas mesmas razões, ou seja, sem conseguir sair do buraco criado no início de 2022 com o conflito na Ucrânia, as altas taxas de juro, a inflação tórrida e a queda substantiva do consumo, estão a criar problemas... e a esvaziar os stocks de crude da maior economia mundial e o maior consumidor de crude...

Contas nacionais

Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, manter o Brent acima dos 90 USD - apesar da turbulência visível nesta semana ameaçar o cenário positivo -, é uma necessidade evidente, porque permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e gera superavit relevante face ao valor de 75 USD por barril com que foi elaborado o OGE 2023.

Apesar desse cenário ser agora mais difícil de se verificar, ainda é positivo porque o sector petrolífero continua a gerar superavit que serve ao Governo que tem o seu mapa de gastos, o OGE 2023, desenhado a partir dos 75 USD por barril, ou seja, cerca de 10 USD abaixo do que vale hoje, 05 de Outubro.

O petróleo representa hoje mais de 90% das suas exportações, corresponde até 35% do PIB e garante cerca de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.