Os mercados, tanto o Brent, determinante para as exportações angolanas, como o WTI, em Nova Iorque, estão a reflectir os efeitos do lento recuperar dos danos provocados pelo "ida" nas plataformas petrolíferas no Golfo do México, onde os EUA, o maior produtor de crude global, mas também o maior consumidor e a maior economia do mundo, têm quase 20% da sua produção diária, e o declínio nos stocks da maior economia global.
O Brent, no arranque da sessão de hoje, 09/09, perdia 0,04%, para os 72.57 USD por barril, perto das 09:30 de Luanda, e 0,22%, no WTI, para 69.15 USD, mesma hora. São ainda fruto dos ventos do "ida", mas é no Médio Oriente que está a ser gerada a tempestade perfeita para os interesses dos países cujas economias dependem da exportação de crude, como é o caso de Angola.
Isto, porque os dois grandes rivais e inimigos na permanentemente escaldante região do Médio Oriente, onde é produzido mais de 20% do petróleo extraído diariamente em todo o mundo, a Arábia Saudita e o Irão, estão num processo galopante de diminuição da tensão entre ambos através do esforço diplomático do Iraque e da França, com as conversas de Bagdad da semana passada a terem visto um "promissor" compromisso de serem retomadas, revigoradas, nos próximos dias.
Ficou, para já, claro que dificilmente ocorrerão episódios inamistosos entre as duas potências regionais, que, como lembram os analistas citados pelas agências e sites especializados, volta e meia fazem o barril inchar com ameaças e ataques a interesses estratégicos de ambos no Golfo Pérsico e no Mar Arábico.
E se forem concluídas com sucesso estas manobras diplomáticas, que levaram mesmo o Presidente francês, Emmanuel Macron, a Bagdad, em Agosto, então será extraído do palco global do negócio energético um dos seus pontos de maior fricção.
Num momento em que a pandemia da Covid-19, que nos últimos 18 meses foi o elefante na sala do negócio, parece contar cada vez menos para este jogo planetário, o dólar, o outro elemento sempre presente nesta equação, está a contribuir fortemente para uma diluição do ímpeto que se registava na valorização da matéria-prima nos últimos meses, porque, sendo a moeda corrente nas compras e vendas, sempre que valoriza sobe o custo para quem usa outras moedas - como está a ser o caso por estes dias -, e sempre que desvaloriza, o efeito é o inverso.
Ou seja, bem medidos e pesados os gráficos do Brent e do WTI, as duas maiores referências para este negócio em todo o mundo, o que se destaca é uma estagnação no valor do barril entre os 70 e os 72 USD há já pelo menos duas a três semanas.
Para isso tem contribuído igualmente a mais recente decisão da OPEP+, a organização que junta os Países Exportadores (OPEP) e os seus aliados, desde 2017, liderados pela Rússia, que passa por aumentar mensalmente 400 mil barris por dia à sua produção até ao final deste ano, numa demonstração de que o "cartel" não teme uma reviravolta de última hora na recuperação da economia mundial e, por inerência, do consumo de crude, que os analistas admitem estar a aproximar-se, como previsto, da produção pré-pandémica, na ordem dos 100 milhões de barris por dia (mbpd), depois desta ter diminuído, em determinados momentos, durante 2020, até 15 mbpd.
O Irão está quase a chegar e nada será como dantes
Mas, a jusante deste efeito calmante está ainda a "ameaça" do quase certo retomar da normalidade da exportação no Irão, um dos maiores, em potencial, exportadores da OPEP.
Isto, porque é esperado para breve que as negociações em curso sobre o acordo nuclear, envolvendo EUA, Rússia, China e UE, permitam a este gigante do crude mundial entrar de novo nos mercados internacionais pela porta grande, ou seja, voltar a abrir o "pipeline" por onde podem voltar ao negócio até, no limite máximo, 5 milhões de barris por dia, embora essa meta tenha como barreira a deterioração gerada pela inexistente manutenção na infra-estrutura produtiva iraniana nos últimos anos, o que deve levar quase uma década a realinhar a 100 por cento.
No entanto, esse espaço temporal deverá ser fortemente encurtado com a entrada em funcionamento do gigantesco campo petrolífero recentemente descoberto e baptizado de Karoun, cluster onde se estima existirem mais de 67 mil milhões de barris em depósito nos diversos campos, cada um deles com potencial acima de 670 milhões de barris, o que, no conjunto, vai permitir de imediato mais de 1 milhão de barris por dia (mbpd) a chegar ao mercado.
Este momento auspicioso para a indústria petrolífera iraniana acrescenta renovadas dificuldades para as economias mais dependentes da exportação de crude, como é o caso da angolana, considerando que, além de o aumento da oferta ter um impacto imediato no valor do barril, também é de enorme relevo o facto de, como sucede em quase todo o crude extraído no Médio Oriente e Golfo Pérsico, o breakeven por barril para os investidores é muito mais baixo que, por exemplo, no continente africano, em média.
Esse facto, tendencialmente, reduz o apetite para as majors olharem para África quando pensam em novos investimentos, o que é, dia após dia, mais rarefeito devido às exigências impostas pela urgente transição energética devido ao efeito da queima de crude nas alterações climáticas.
No entanto, as perspectivas dos técnicos da OPEP são de molde a dar lastro aos mercados, visto que um recente relatório do "cartel" aponta para que ao longo de 2022, mas com especial volume, até ao fim de 2021, o mercado seja dominado por um défice na oferta face ao aumento generalizado do lado da procura devido ao ressurgimento económico planetário no pós-covid.
Mas o senão está sempre ao virar da esquina e, face a este défice na oferta, os Estados Unidos, como nota a Reuters, estão a exercer uma forte pressão sobre a OPEP+ de forma a que o "cartel" aumente a produção além do que está previsto, considerando Washington que isso é fundamental para sustentar a retoma económica em todo o mundo.
Alias, o documento libertado pela organização onde esta estima a evolução do consumo até final de 2022, aponta para um aumento substancial face à anterior análise, com um aumento dos 3,3 mbpd em média durante o próximo ano, para os 4,2 mbpd.
Sendo Angola um dos países na linha da frente das repercussões do sobe e desce dos mercados petrolíferos, devido à sua dependência das exportações de crude para o equilíbrio das suas contas - o petróleo ainda é responsável por mais de 94% das exportações e mais de 60 por cento dos gastos do Executivo e acima de 50% do PIB.
Angola e o futuro breve
Este cenário de recuperação permite algum optimismo nas contas nacionais mas ainda longe de um regresso ao patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nunca visto até ali.
A produção actual, em constante declínio, está abaixo dos 1,2 mbpd devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016, bem como devido ao esgotamento/envelhecimento dos campos mais activos.
Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção demora a arrancar para os patamares mais próximos daqueles que se viram no passado, especialmente por causa da deterioração da infra-estrutura produtiva que desde 2014 viu os investimentos das "majors" descer, a fraca aposta na pesquisa por novas reservas e o envelhecimento de alguns dos mais importantes poços activos no offshore nacional.
Para já, com o barril acima dos 72 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de mais de 33 USD em cima dos 39 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.
E, no âmbito do esforço do Governo para que o País não deixe de estar no radar dos investidores, aprovou em Conselho de Ministros um diploma de define regras e procedimentos para a atribuição de concessões petrolíferas em Regime de Oferta Permanente.
Isto vai permitir a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados e, segundo o comunicado deste CM, o documento legal permitirá permanentemente "a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados, de áreas livres em blocos concessionados e de concessões atribuídas à Concessionária Nacional, para potencializar e atrair investimentos nas actividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, mediante o procedimento de concurso público".