Os CFB, construídos em 1903 por uma joint-venture entre Portugal, Bélgica e Reino Unido, foram, durante décadas, a porta de saída para o mar, via Porto do Lobito, do manganês explorado nas minas de Kisenge, mas essa porta foi fechada definitivamente em 1992 devido à destruição causada pela guerra nos anos de 1980 e início da década de 1990.

Com o encerramento em 1992 da linha férrea dos CFB, que ligam o Porto do Lobito à fronteira do Luau (Moxico), com a RDC, onde se unem aos SNCC (Sociedade Nacional dos Caminhos-de-Ferro do Congo), a produção de manganês nas minas do Kisenge, parou pouco depois, em 1993.

O Kisenge integra a vasta plataforma mineira do Katanga, especialmente produtora de cobre, e que se prolonga na forma de "copperbelt" para a Zâmbia e, como demonstrado pelo Plano Nacional de Geologia (Planageo), também para Angola, numa extensão superior a 100 mil quilómetros quadrados.

A paragem da extracção aconteceu porque a saída para o mar por comboio via Lobito era o meio que permitia rentabilizar a extracção deste minério que, à época, não tinha a importância estratégica que tem hoje, onde é especialmente importante para a produção de ligas de aço e para a produção de baterias.

Mas, com a reabertura total da linha dos CFB entre o Porto do Lobito e o Luau, em 2013, e a resolução dos problemas de conexão com os SNCC, vitais para o transporte até à fronteira com Angola a partir de Kisenge, as empresas mineiras congolesas que operam na vasta área extractiva do Katanga viram uma oportunidade para despachar as mais de 10 mil toneladas de manganês que foram extraídas antes do fecho da linha e ficaram "entaladas" com o fecho desta pela destruição causada pela guerra.

A partir de 1993, apenas os cerca de 30 quilómetros entre o Lobito e Benguela, de um toral de 1 340, permaneceram sempre operacionais, havendo um período em que os 340 quilómetros entre Benguela e o Huambo estiveram intermitentemente a funcionar.

Apesar de este serviço estar a escassos milímetros vistos num mapa de poder ser realizado, ficando, desde 2013, por realizar pequenas operações na zona transfronteiriça do Luau, a verdade é que só este mês foi possível ver os primeiros de milhares de contentores com manganês atravessar o vasto território angolano desde a vizinha RDC para entrarem directamente nos cargueiros que levarão este minério potencialmente para as indústrias europeias, asiáticas e americanas.

A "Minière de Kisenge Manganèse", empresa que detém os direitos de exploração do manganês na região de Kisenge, tem à volta de 540 mil toneladas de manganês na forma de carbonato de manganês para exportar, sendo que é grande a possibilidade de o Porto do Lobito se revelar a forma mais economicamente aconselhável de o fazer.

Os depósitos de manganês do Kisenge, na RDC, foram descobertos em 1927, mas a sua exploração raramente foi considerada, nesta área, viável de per si, sendo, sim, aproveitado como produto secundário de outras explorações, como a do cobre, não sendo o Katanga, ao contrário do que acontece com o cobre, um dos mais importantes depósitos de manganês do mundo, estando esses concentrados na África do Sul, Austrália, Brasil, Ucrânia, Índia e China.