Isso mesmo foi dito na capital chinesa pelo ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, quando recebia uma delegação brasileira liderada pelo chefe de gabinete da presidência brasileira, Rui Costa, na qual os dois gigantes da Ásia e da América Latina se esforçam para consolidar.
De acordo com a Lusa, após o encontro, o ministério liderado por Wang Yi emitiu um comunicado onde Pequim enfatiza a ideia de que as economias dos dois países são "altamente complementares, com estratégias de desenvolvimento alinhadas".
Isto acontece a cerca de uma semana da Cimeira dos BRICS e Kazan, na Rússia, onde este bloco económico que já ultrapassou o grupo das sete maiores economias do ocidente, o G7, em PIB PPC, ou Produto Interno Bruto em Paridade de Poder de Compra, se prepara para integrar mais cinco membros, incluindo os africanos Egipto e Etiópia, a Arábia Saudita, o Irão e os EAU.
Alguns analistas notam que a Cimeira dos BRIOCS na Rússia, de 22 a 24 de Outubro está a ser desenhada para ser um ponto de viragem naquilo que foi até agora uma organização de entendimentos ad hoc para passar a ser um bloco alicerçado na economia com a premissa de reduzir a influência hegemónica ocidental com a sua Ordem Mundial baseada nas regras impostas pelos EUA a seguir à II Guerra Mundial.
Apresentando-se como uma plataforma de defesa do Sul Global, os BRICS, apesar das suas discrepâncias estratégicas internas, tendem a coincidir na ideia de que a actual Ordem Mundial, como o primeiro-ministro indiano já disse sem rodeios, não serve os interesses de nenhum país, excepto os países ocidentais ou aqueles que estão alinhados com os EUA, como o Japão ou a Austrália fora da Europa Ocidental e da América do Norte.
Para os EUA, esta Cimeira de Kazan é um desafio porque a organização inicialmente criada por Brasil, Rússia, Índia e Rússia, em 2009, a que dois anos depois de juntou a África do Sul, e que agora alarga as suas fronteiras geográficas e económicas de uma forma que passa a ombrear globalmente com o G7, o grupo dos sete países mais ricos do ocidente - EUA, Alemanha, Japão, França, Itália, Reino Unido e Canadá - sairá da Rússia na condição de plataforma de influência geoestratégica mais robusta do mundo.
Senão vejamos esta realidade em construção em números compilados pelo filósofo e professor universitário português Viriato Soromenho Marques, na sua coluna de opinião no jornal português Diário de Notícias.
Comparando o peso do G7 e dos BRICS no PIB mundial (por paridade do poder de compra - PPC), Soromenho Marques concluiu que ocorreu uma mudança dramática entre 2000 e 2024, com o G7 a passar de 43,28% do PIB PPC global para 29,64%, enquanto os BRICS, no mesmo período, subiam dos 21, 37% para 35,43%, passando de forma acelerada os mais ricos ocidentais.
Alias, toda a retórica de afirmação dos BRICS é, ou quase toda, sustentada na ideia de que esta organização representa os mais pobres ou em via de desenvolvimento do "Sul Global" contra a hegemonia elitista e privilegiada do "Ocidente Alargado" que impede a ascensão do "Hemisfério desprotegido".
Mas não apenas nos números esta realidade ganha peso e sustentabilidade, porque, como nota Soromenho Marques, no plano mais fino da ciência e tecnologia (C&T), os resultados são ainda mais surpreendentes, como o demonstra um estudo do Australian Strategic Policy Institute, um think-tank ligado ao governo de Camberra.
Alteração fica claro quando se analisam os países que lideram a C&T em 64 áreas críticas para o futuro: a defesa, o espaço, a energia, o ambiente, a inteligência artificial (IA), biotecnologia, robótica, cibernética, computação, materiais avançados e áreas-chave da tecnologia quântica.
Ou seja, em 2003, os EUA lideravam em 60 das 64 tecnologias, mas em 2023, lideram apenas em sete, quando a China, pelo contrário, passou do lugar da frente em três tecnologias (2003) para 57 das 64 tecnologias em 2023 e outros países dos BRICS têm lugar destacado: a Índia está entre os cinco primeiros países em 45 das 64 tecnologias, o Irão em oito, a Arábia Saudita em quatro...
Para os EUA e a Europa Ocidental esta Cimeira de Kazan é um desafio porque a organização inicialmente criada por Brasil, Rússia, Índia e Rússia, em 2009, a que dois anos depois de juntou a África do Sul, e que agora alarga as suas fronteiras geográficas e económicas de uma forma que supera claramente o G7, o grupo dos sete países mais ricos do ocidente - EUA, Alemanha, Japão, França, Itália, Reino Unido e Canadá - e sairá da Rússia, se não acontecer um cataclismo geoestratégico global, na condição de plataforma de influência geoestratégica mais robusta do mundo.
E uma das medidas em cima da mesa dos BRICS é destronar o dólar norte-americano (ver links em baixo) como moeda franca global, passando a transaccionar entre eles nas suas moedas nacionais, para já, e a prazo criando uma moeda para servir de pagamento entre os 10 membros da organização que poderá vir a chamar-se BRICSZ, com o "Z", a última letra do alfabeto a simbolizar a sua nova e vasta abrangência geográfica.