Não foi revelado o que existe actualmente em relação ao milho, arroz, trigo, feijão e soja, a maior parte dos produtos que compõem a plano estratégico da Carrinho para até 2030, mas o dado a reter, conforme o consultor Martins Correia, é que o País terá de crescer 12,5 % anualmente.

"O crescimento dos últimos anos foi de 5,4 por cento", assinalou o especialista da Deloitte, realçando que os compromissos internacionais assumidos por Angola devem servir de catalisador.

Ao falar de combinação de factores, indicou que a agricultura familiar, muito ligada à subsistência, deve melhorar as técnicas de produção, ao passo que o sector empresarial terá de fazer muito mais nesta luta pela autossuficiência alimentar.

No acompanhamento do plano da Carrinho tendente ao fomento à produção interna nos próximos sete anos, orçado em 8 mil milhões de dólares, a Deloitte prevê ganhos em matéria de distribuição de insumos agrícolas, escoamento, armazenamento e secagem de produtos.

"Tudo isto pode ajudar a reduzir as importações, mantendo no País as divisas, diversificar a economia, criar mais empregos e estimular um rápido crescimento industrial", resume Martins Correia.

O consultor refere que, no processo produtivo, os constrangimentos de hoje são, em resumo, a fraca adesão aos seguros agrícolas e deficiências na gestão dos solos.

O óleo de palma e o algodão são, para lá das proteínas bovina, avícola e suína, outros produtos inscritos nas fileiras da Carrinho Empreendimentos, que tenciona apoiar dois milhões de fornecedores (produtores familiares), contra os 65 mil actuais.

Já o economista Alves da Rocha, director do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica, instituição que também acompanha esta iniciativa privada, destaca o facto de o grupo efectuar a avaliação do impacto daquilo que faz.

"O País tem, desde a Independência Nacional, vários programas, incluindo públicos, mas nunca faz avaliações, nunca são conhecidos os desfechos, por isso devemos enaltecer este gesto", refere o académico.

Graça Machel quer mulheres angolanasna agro-indústria

Se a Carrinho Empreendimentos, no quadro da responsabilidade social, serve diariamente 244 mil refeições em várias escolas, tem capacidade para impulsionar a presença de mulheres no mundo da agro-indústria.

Não foi propriamente com estas palavras, mas foi este o repto lançado, também hoje, pela política e activista moçambicana Graça Machel, que falou de liderança feminina e segurança alimentar e nutricional.

"Fui convidada pela Carrinho para abordar este tema, muito importante porque milhares de pessoas no mundo não comem, mas aproveito para deixar esta proposta, e vocês podem induzir, podem incentivar", ressaltou Machel, integrante de uma instituição detentora de uma rede de mulheres empresárias no ramo agro-industrial.

A activista dos direitos humanos espera que a Carrinho crie um fundo que permita facilitar a integração desta franja no mundo produtivo.

"Angola precisa disto, precisa de todos, tem níveis de pobreza inaceitáveis", resumiu, antes de ter realçado que algumas mulheres ficam na produção, outras na distribuição e outras ainda na conservação.

"Haverá trabalho para todas, podem contar com a minha experiência. Pode ser até 2040, aumentei dez anos ao vosso plano estratégico", assegurou a antiga Primeira-dama de Moçambique.

Em resposta, o presidente do Conselho de Administração da Carrinho Empreendimentos, Nelson Carrinho, afirmou que "aceitamos este desafio, contamos com o apoio do Banco de Comércio e Indústria".