A guerra comercial, que começou com um aumento substancial das tarifas sobre os produtos importados pelos Estados Unidos da China, que teve como resposta o aumento dos impostos sobre produtos Made In USA que chegam à economia do gigante asiático, foi uma opção assumida por Donald Trump, que já em campanha eleitoral, acusava Pequim de roubar os norte-americanos há décadas, com políticas agressivas de apoio estatal às exportação e dificuldades estratégicas impostas às importações.
E esse batalhar constante acaba de sofrer mais um agravamento com a China a responder com uma desvalorização da sua moeda, o Yuan, para ganhar competitividade face ao aumento das taxas impostas por Washington, logo depois de Donald Trump, descontente com o impasse nas negociações, ter ameaçado com um aumento de 10% sobre 300 mil milhões USD de bens importados da China já a 01 de Setembro.
Os analistas norte-americanos, citados pelos media locais, admitem já que a China tem como estratégia não abrir as portas a um acordo com os EUA até às eleições de 2020, onde Trump joga o seu segunda mandato, estando claramente a apostar no confronto com a China, mas também com a União Europeia ou a Índia, entre outras frentes de batalha, como, por exemplo, a saída abrupta do acordo nuclear com o Irão, que levou a uma subida da tensão no Golfo Pérsico, região que gera 30% do petróleo consumido diariamente em todo o mundo.
Depois da reunião com o seu homólogo chines, Xi Jinping, em Osaka, no Japão, à margem da reunião do G20, que reúne os 20 países mais industrializados do mundo, Trump admitiu que um acordo estava mais perto que nunca porque a China, sublinhou, estava a "sofrer pesadamente com esta situação de impasse" e mostrava disponibilidade para aceitar as condições norte-americanas.
Actualmente, segundo os últimos relatos das agências internacionais, a situação resume-se a uma crescente tensão, com a China a reagir com a desvalorização do Yuan (Renmimbi) à ameaça de novas tarifas aplicadas ao bens Made in China e, já nas últimas horas, com a decisão de Pequim em não importar mais produtos agrícolas dos EUA, o que os analistas consideram ser uma perigosa escalada neste conflito comercial entre as duas maiores economias do mundo, cujos efeitos colaterais estão a ser absorvidos desde o mais pequeno país de África aos gigantes económicos europeus.
Angola, a grande vítima colateral
Mas, pelo meio, há outra vítimas, como, por exemplo, Angola, que vê, por causa deste conflito de titãs, o seu principal produto de exportação, o petróleo, cair quase 8 USD em menos de sete dias, o que levou o barril a aproximar-se perigosamente do valor considerado pelo Executivo para a elaboração do Orçamento Geral do Estado, que é, alias, já um preço revisto em baixa, depois de ter iniciado a sua execução com o barril nos 68 dólares como indicador médio.
E, olhando para os gráficos que hoje estão a ser disponibilizados pelos sites especializados, a tendência é claramente para uma acentuação em baixa, podendo mesmo ser observados "alguns indícios do que sucedeu no início de 2016", quando o barril descei abaixo da barreira dos 30 USD, gerando pânico em todas as economias dependentes das exportações de crude. Trump já disse num recente comentário colocado no Twitter onde garante que vai estar "ao lado dos agricultores" contra a agressão chinesa, sublinhando que Pequim "não vai conseguir atingir" os fazendeiros norte-americanos.
Nem que seja, porque, pelo menos até às próximas eleições, Trump já afirmou que não arredará pé da sua promessa da campanha de 2016, de que vai "derrotar a China", apesar dos riscos de provocar sérios danos à sua economia, como as bolsas já reagiram nesse sentido por diversas vezes ao longo das várias batalhas deste longa guerra comercial que Washington declarou a Pequim.
Na retórica com que Pequim reagiu a mais este avanço do "gladiador" da Casa Branca, o Banco Central da China veio a terreiro afirmar que os EUA são quem, no fim, mais vão sofrer com estes embates económicos.
Como aviso complementar, o Banco Central chinês alertou para o facto de esta atitide agressiva de Trump estar a conduzir o mundo para um estado de caos com a mais que provável derrocada nas bolsas mundiais, aconselhando, ao mesmo tempo, os EUA para "voltarem aos trilhos da normalidade negocial", considerando que "apenas a racionalidade e objectividade" poderão salvar o mundo de uma severa crise, cujos efeitos não podem ser neste momento antecipados.
Isso mesmo já está a acontecer, pelo menos em todas as economias dependentes da produção petrolífera, desde logo a angolana, que se vê perante uma diminuição aguda das suas receitas em contraponto com uma crescente dívida externa e a necessidade de cumprir com os requisitos impostos no acordo com o FMI, que podem gerar graves impactos sociais no país, como já foi admitido por vários organismos internacionais.
E se se confirmar que Pequim está a gerir este problema estrategicamente para uma solução a encontrar depois das eleições de 2020, mesmo com uma vitória de Trump para um segundo mandato, no qual não estará sobre a pressão de ter de se mostrar duro com a China, então é de aceitar como provável que, até lá, o barril da principal matéria-prima de exportação angolana venha ainda a sofrer pesadas perdas.