Nos últimos anos, tenho-me dedicado à leitura de biografias de líderes verdadeiramente transformadores, de lideranças inspiracionais, capazes de serem elemento catalisador e aglutinador com vista a realização de um sonho. No decurso deste exercício de curiosidade e estímulo intelectual, deparei-me com uma afirmação muito interessante e de uma profundidade tumular do Sheik Mohammed Bin Rashid Al Maktoum, actualmente Vice-presidente dos Emiratos Árabes Unidos e primeiro-ministro do Dubai.
Ao fazer uma incursão sobre os grandes desafios da liderança no seu livro "My Vision. Challenges in the Race for Excellence", surpreende com a seguinte afirmação: (...) o maior obstáculo que me deparei na jornada de desenvolvimento do meu País foi perceber como passar a minha visão as equipas de cima para baixo e garantir que elas entendam com precisão o que elas têm de fazer (...). Garantir que a visão do líder seja entendida, sem distorções, desde o seu imediato interlocutor e chegue a base, passando pelas varias equipas intermedias, é definitivamente o maior desafio de qualquer liderança.
O 12.º título de Campeão Africano de Basketball e a inauguração da Refinaria de Cabinda, somente foram possíveis por dinâmicas de líderes que conseguiram ultrapassar o maior desafio da liderança com que se deparou o Sheik Mohammed Bin Rashid Al Maktoum, nomeadamente, ser entendido, sem distorções, pelo seus liderados do from the top to the bottom.
Ser campeão africano seniores masculinos de basketball 12 vezes, em 22 edições participadas, não é fruto do acaso. É resultado de muito trabalho, disciplina, organização, esforço, coragem e resiliência. Somente é possível com a força de bravos rapazes que apreenderam como se ganha uma bandeira e que sabem o quanto custou a liberdade. Sem desprimor dos demais líderes que passaram pela modalidade, a vários níveis, permitam-me prestar uma merecida homenagem a dois grandes líderes que influenciaram toda uma geração de praticantes desta modalidade: Victorino Cunha e Vladimiro Romero. A afirmação de Angola nos grandes areópagos desta modalidade a nível mundial deve-se, diga-se de passagem, ao legado e a capacidade de liderança transformacional destes dois grandes patriotas. Estes, certamente conseguiram vencer o grande desafio da liderança, na medida em que as visões dos mesmos trespassaram gerações e interpretadas sem distorções.
Por outro lado, criar condições políticas, regulatórias e económicas capaz de catalisar um investidor privado a construir a primeira Refinaria no País em 50 anos de independência e em mais de 100 anos de actividade exploração e produção de petróleo é um momento digno de registo. É um momento que devemos colocar os nossos egos e divisões politico-ideológicas de parte. Elogiar o esforço e trabalho dos outros é uma virtude que somente nos dignifica. Neste particular, impõe-se destacar a visão do Presidente João Lourenço que sempre manifestou o seu desejo em construir uma Refinaria em Cabinda e um Porto de Águas profundas em Cabinda. Primeiro objectivo cumprido. Vale igualmente destacar a resiliência e a combatividade do Ministro Diamantino Azevedo na condução política do processo e a grande capacidade de execução que as lideranças da Sonangol (a todos os níveis) revelaram neste processo. Cabinda agradece...
Atrair investimento privado para a construção de uma Refinaria em Angola é um processo que se revela desafiante, na medida em que o producto resultante do processo de refinação (output) tem um preço subvencionado e um único comprador, a Sonangol. Um investimento neste domínio, somente é possível quando se lança a mão a criatividade e a inovação no sentido de conferir um ambiente fiscal, cambial, aduaneiro, entre outros, capaz de tornar o projecto viável e rentável para qualquer investidor privado. É importante realçar que a jornada não termina com a inauguração. Esperamos que a operação do projecto não esbarre na nossa cronica burocracia e na fraca capacidade de diálogo interinstitucional. A este propósito, vale mais uma vez lembrar o Sheik Al Maktoum, quando afirma os "burocratas são os inimigos declarados da mudança, da criatividade e da capacidade de resolução dos problemas concretos (problem-solving approach). Note que Angola é apenas um dos vários países do mundo que um investidor privado pode alocar o seu capital. A este propósito, lembro-me da afirmação do meu professor de Física no curso de Ciências Exactas no PUNIV de Cabinda: ninguém retira benefícios de um "vácuo". Que tenhamos mais actores políticos e económicos capazes de transformar "vácuos" em realidades existentes, com verdadeiro significado económico e utilidade social. Seja bem-vinda Refinaria de Cabinda.
Penso que já me vou longo. Assim, despeço-me com elevado sentido de gratidão pelos dinamizadores destas duas conquistas e espero ter mais motivos para fazer gosto à minha pena, obviamente, desde que seja para celebrar.
*Jurista e gestor