Estas palavras de José de Lima Massano foram ditas no discurso proferido no Fórum de Economia e Finanças que decorreu em Luanda, organizado pela Associação de Bancos Angolanos (ABANC), onde explicou, de forma detalhada, o "framework" legislativo que coloca Angola no quadro dos países com garantias legais "robustas" que respondem de forma adequada "à sustentabilidade do sector" financeiro.

Nesse conjunto legislativo, Massano destacou as três leis basilares do sistema financeiro angolano, nomeadamente, a Lei do Banco Nacional de Angola, a Lei do Regime Geral das Instituições Financeiras e a Lei dos Sistemas de Pagamento de Angola, todas publicadas nos últimos 12 meses.

Mas foi com os olhos postos no advir que José de Lima Massano abordou um dos temas mais delicados na actualidade para a economia nacional, que é a urgência da diversificação da economia, que vem sendo procurada há mais de uma década mas que, agora, com o advento das alterações climáticas e com a inerente urgência de reduzir drasticamente as emissões poluentes, onde o petróleo assume relevo de primeira linha, ganha especial relevância.

O governador do BNA admitiu que ao olhar para o futuro, vê-se "um grande desafio" para Angola, que são "as alterações climáticas que estão a afectar de forma significativa o mundo", e que têm implicações relevantes para a economia nacional.

"O tema não é novo, mas nos últimos anos tem vindo a ganhar maior protagonismo, e hoje, as alterações climáticas e ambientais, e a promoção do desenvolvimento sustentável bem como a protecção do ambiente são questões de importância incontestável na agenda dos governos, empresas, instituições, organizações, decisores, entre outros", apontou.

Lima Massano sublinhou, nesta sua intervenção de abertura do fórum organizado pela ABANC, que os bancos centrais e supervisores dos sistemas financeiros têm e vão ter ainda mais um papel relevante "no desenvolvimento económico pelos riscos que as alterações (climáticas) trazem para a resiliência dessas instituições e consequentemente a estabilidade do sistema financeiro".

O que o governador do BNA, em síntese, explicaria de seguida é que as novas exigências ambientais vão obrigar os países produtores de crude a mudar a bússula das suas economias, por duas razões essenciais: a perda de receitas devido ao menor consumo de combustíveis fósseis; e as questões resultantes das alterações climáticas, como as secas mais prolongadas e as cheias mais frequentes e ou, entre outros, a subida dramática do nível do mar.

Entre os riscos inerentes à transição energética dos fósseis par as energias verdes, Massano destacou as perdas financeiras que podem resultar "do processo de ajustamento para uma economia mais sustentável em termos climáticos e ambientais".

"Este risco pode ser desencadeado, por exemplo, por uma adopção relativamente abrupta de políticas climáticas e ambientais, pelo progresso tecnológico ou por mudanças do sentimento e das preferências do mercado", acrescentou.

No capítulo financeiro destacou a questões dos novos riscos e a incontornável questão dos "requisitos de capital para cobertura dos riscos climáticos e ambientais nas carteiras de crédito das instituições financeiras, como o fazem para todos os outros riscos".

Ou seja, "as instituições financeiras vão necessariamente ter um papel muito importante no desenvolvimento sustentável, pela necessidade que vão ter de gerir os riscos financeiros originados pelas alterações climáticas e ambientais e consequentemente os seus requisitos de capital, o que irá resultar no direccionamento do financiamento para as actividades que promovem um desenvolvimento sustentável".

E o que se espera, como já é sabido, e como o Novo Jornal tem sublinhado nos últimos anos (em notícias que podem ser revisitadas nos links colocados no fundo desta página), msmo que existam entendimentos distintos, é que as instituições financeiras internacionais "estarão submetidas a pressão crescente" para deixarem de financiar o sector petrolífero.

"Aliás, existem já várias instituições financeiras e investidores muito relevantes, incluindo fundos de investimento, que não financiam nem investem no sector petrolífero. Assim, este contexto serve também para reforçar a necessidade de diversificação da nossa economia, e no mais curto espaço de tempo possível", apontou.