O petróleo é a matéria-prima mais afectada pelo evoluir das conversações entre os dois "elefantes", porque os Estados Unidos da América (EUA) e a China são as duas maiores economias do Planeta e, por isso, as grandes dinamizadoras da economia mundial, que, como se sabe, se estiver pujante consome mais petróleo, se estiver atrofiada, consome menos, porque este ainda é o principal combustível que impulsiona a actividade económica global.
Angola está entre os países que são o "capim" da metáfora inserida no ditado popular porque a sua economia ainda é claramente dependente do valor do crude, a sua grande, quase única, fonte de receitas no sector exportador e se a economia global estiver pujante, o preço do barril sobe, se estiver fragilizada, como é o caso, por causa da guerra comercial EUA/China, o seu valor desce.
Esta disputa entre Pequim e Washington, como o NJOnline tem acompanhado de perto, emergiu com a chegada ao poder de Donald Trump nos Estados Unidos, que, logo na campanha eleitoral, escolheu a China como o inimigo de estimação, acusando este país e o seu Governo de "roubo" à economia norte-americana no valor de 500 mil milhões de dólares por ano, que é o valor médio das exportações Made in China para os EUA.
Isto, porque, não se cansa de dizer Trump, o Governo comunista de Pequim financia "ilegalmente", de acordo com as normas da Organização Mundial do Comércio (OMS), as empresas privadas que exportam para os EUA, fornecendo-lhes competitividade extra, face às empresas norte-americanas, ao mesmo tempo que mantém uma política proteccionista quanto aos bens Made in USA.
A isto, acresce ainda a suspeita de que a China utiliza a sua produção de tecnologias das comunicações para "espiar" os norte-americanos e "roubar" tecnologia norte-americana.
Vai daí, Trump mandou aplicar tarifas de 15 e 25 por cento extra sobre 300 mil milhões de produtos oriundos da China, ameaçando chegar ao total dos 500 mil milhões, ao que a China ripostou aplicando tarifas de valor semelhante a mais de 100 mil milhões de importações Made in USA, sempre com a ameaça pendente de aumentar este volume.
Como, para além do "capim", também os elefantes que lutam se aleijam, decorrem há meses intensas negociações entre Pequim e Washington para elaborar um acordo de paz que permita acabar com esta "guerra" e soltar todo o potencial de crescimento económico nos dois gigantes mundiais e, por arrasto, também no resto do mundo.
E entre recuos e avanços, assim se comportam os gráficos dos mercados petrolíferos mundiais, com dois claros exemplos: há três semanas, Trump veio a terreiro, que é como quem diz, à rede social Twitter, dizer que agora é que a paz estava garantida, porque as negociações entre as duas equipas negociais estavam a correr maravilhosamente, faltando apenas o aperto de mão entre ele e o seu homólogo chinês, Xi Jinping.
Os EUA iam acabar com as tarifas por fases e a China ia comprar mais produtos agrícolas norte-americanos. O petróleo deu um pulo de mais de dois dólares no mercado de Londres, logo a seguir, o mesmo Trump deu o dito por não dito, que não ia, afinal, retirar as tarifas se a China não cedesse noras áreas que a mera compra de mais produtos agrícolas Made in USA. E o barril de crude... deu um trambolhão de quase dois dólares.
Hoje, quase em exclusivo por causa destas notícias, o barril de Brent, vendido em Londres, onde é definido o valor médio das exportações nacionais, estava a perder 0,83%, para 61,92 USD, face ao fecho de segunda-feira.
Ora, para Angola, e o restante "capim", este sobe e desce é vital para a sua economia, porque, como esta contemplado no Orçamento Geral do Estado (OGE) deste ano, e para o de 2020, que hoje, terça-feira, está a ser votado no Parlamento, o barril de petróleo tem como preço de de referência os 55 USD, mas é o que se mantém acima deste valor que permite às contas públicas respirar melhor ou pior.
E os indicadoras oriundos das negociações entre Pequim e Washington não são bons, porque nas últimas horas, o Governo chinês fez saber, através do canal de notícias norte-americano, CNBC, e depois replicado noutros media, que Xi Jinping não está optimista para um desfecho célere e promissor nesta guerra comercial. Tudo, porque Donald Trump veio, de forma inusitada, dar o dito por não dito sobre a promessa de retirar as tarifas.
Uma das razões para este comportamento, que não é novo em Donald Trump, segundo vários analistas hoje citados pelos media internacionais, é o sufoco em que o Presidente dos EUA se encontra, a um ano de eleições presidenciais e no meio de um processo de destituição - impeachment - por suspeita de chantagem sobre o Presidente da Ucrânia, necessitando de uma distracção para a opinião pública.
Mas, para além do impacto directo que tem sobre as economias petrodependentes, esta situação está ainda, mesmo não sendo a única, por detrás do pessimismo mostrado por organismos como o FMI para a economia global.