O Novo Jornal efectuou uma ronda por alguns mercados na cidade de Luanda, e constatou que os preços dos produtos da cesta básica não sofreram nenhuma alteração, apesar de a sua suspensão temporária já estar em vigor deste 02 de Setembro, praticamente há duas semanas.

O Arroz, a carne de frango, de porco, a farinha de milho, o óleo alimentar... "tudo na mesma, está tudo caro como antes", repetem um após outro, seja cliente, seja vendedor, com quem o Novo Jornal falou neste périplo pelos principais locais de abastecimento da população da capital.

E isso ficou claro durante uma conversa que o Novo Jornal manteve com Teresa José, de 63 anos, residente no bairro do Golfe 1, e vendedora há mais de 34 anos no mercado do bairro Popular, em Luanda.

Desconhece esta veterana do negócio a suspensão temporária dos direitos aduaneiros, mas sabe de caras que não houve redução dos preços nos últimos tempos e que as queixas dos clientes continuam as mesmas de sempre.

"Os preços não mudaram, continuamos a comprar e vender os produtos da cesta básica com os mesmos preços de sempre", disse, salientando que o mercado do bairro Popular ficou "às moscas por causa da fraca aderência de clientes e pelo facto dos preços se manterem altos".

Julieta Calunga, de 53 anos, comerciante de manteiga, açúcar e sabão, disse ao Novo Jornal que os preços nos armazéns não sofrerem nenhuma alteração, mesmo depois de o Governo ter abdicado das taxas aduaneiras nas importações de bens deste pacote dos principais alimentos da população angolana.

Então, porquê?

A principal razão, como percebeu o Novo Jornal ao falar com um conjunto de economistas, é que os bens que estão a ser vendidos actualmente ainda foram importados antes da entrada em vigor desta medida de aligeiramento dos preços e a medida não impõe efeitos retroactivos.

Ou seja, provavelmente, embora esse prazo seja difícil de marcar no calendário com precisão, os efeitos da medida de 02 de Setembro só serão sentidos pelos consumidores quando nas bancas dos mercados e nos armazéns de venda a grosso estiverem produtos importados depois da entrada em vigor da nova regra, da suspensão temporária da cobrança dos direitos aduaneiros.

Mas mesmo depois disso, como percebeu o Novo Jornal nestes contactos com economistas, vai ser reduzido o impacto nos preços sentido pelos consumidores porque, essencialmente, a economia angolana assenta muito na especulação, masmo na presença de uma particular incidência de preços tabelados ou vigiados.

Além disso, a fraca capacidade de fiscalização, excepto no contexto de grandes operações desencadeadas pelos organismos responsáveis por ela, permite aos intervenientes no negócio, aos protagonistas da fileira das importações, contornar as normas vigentes e colocar os bens em questão a preços inflacionados nos mercados de forma a obterem ganhos avultados rapidamente.

Isto, porque existe um pequeno número de empresas por detrás da importação da esmagadora maioria dos bens constantes da cesta básica sujeitos à medida avançada pelo Executivo a 02 de Setembro por decreto Presidencial.

No entanto, pôde ainda perceber o Novo Jornal, se a fiscalização for eficaz, visível e permanente, a medida terá seguramente efeitos na diluição dos preços nos mercados, mas, provavelmente, inferiores ao que foi sugerido pela comunicação institucional sobre esta medida.

Os meses de Novembro e Dezembro são aqueles onde o impacto da subtracção da cobrança dos direitos aduaneiros poderão começar a ser sentidos pelas famílias, o que pode vir mesmo a calhar... em cima do Natal.

Mas o previsto aumento da inflacção pode ser ainda um obstáculo a eventuais descidas no preço destes produtos.