Com quase um mês de confinamento geral em cidades como Xangai, com perto de 27 milhões de habitantes, onde só agora começa a ser aligeirado, e com o mesmo a poder acontecer em Pequim, com mais de 22 milhões de pessoas, a China é actualmente o ponto focal dos receios sentidos pelos mercados petrolíferos, influenciando o seu sobe e desce ainda mais que a guerra na Ucrânia.
A semana, por isso, começou mal, na perspectiva dos países exportadores, com uma descida substancial de quase 3% na segunda-feira e, já hoje, terça, 03, de perto de 2%, para os 106,24 USD, isto no Brent, em Londres, enquanto em Nova Iorque, o WTI perdia 1,14%, para os 103,88 USD, ambos os preços verificados perto das 11:00, hora de Luanda.
Este cenário levou a um enfraquecimento dos dados económicos provenientes da China, o que, a consolidar-se nos próximos dias, levará a, como sempre acontece, um diluir do volume das importações chinesas e ao subsequente aligeirar do valor do barril, como está já a suceder.
Isto, com um "fermento" adicional que é a União Europeia estar por estes dias a equacionar declarar, por causa da guerra na Ucrânia, incluído num novo pacote de sanções, um boicote ao petróleo da Rússia que é um dos três maiores produtores do mundo e o segundo maior exportador planetário - fornece mais de 1/4 do crude consumido na Europa, perto de 2,5 milhões de barris por dia - o que, a acontecer, levará inevitavelmente a um excedente imediato na oferta, mesmo que por pouco tempo.
E a razão é que se Bruxelas não comprar o petróleo de que carece a Moscovo não terá facilidade em adquiri-lo em mercados alternativos devido à incapacidade que existe actualmente de produzir mais crude ou porque a OPEP+, organização que agrega os 13 membros da OPEP e o grupo de 10 desalinhados que inclui a Rússia, e que desde 2017 se associaram para manter os mercados em equilíbrio, não parece estar disponível para alterar em alta o actual plano de aumento da produção em vigor desde Julho de 2021.
Porém, essa decisão, apesar de os media especializados estarem a avançar que o "cartel" não vai proceder a alterações na sua reunião mensal, que este mês de Maio vai ter lugar a 04, quarta-feira, isso só poderá ser confirmado no comunicado final que é normalmente emitido pela organização que também integra Angola, um dos países mais interessados em observar esta evolução devido ao forte impacto que o sobe e desce do crude nos mercados tem na sua economia.
O que fica bem evidente quando se sabe que o petróleo ainda representa 95% do total das suas exportações, mais de 35% do seu PIB e perto de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.
Nos próximos dias, alem de se perceber o que vai acontecer em Pequim, se se repete ou não o confinamento geral como em Xangai, ou o que vai ser decidido na quarta-feira, quando tiver lugar a reunião mensal da OPEP+, vai ainda ser relevante saber se a Líbia, que vive uma quase guerra civil, com perturbações importantes nos terminais de exportações de crude, resolve os problemas e volta a enviar os seus perto de 1 milhão de barris por dia.
E são estes os principais factores que vão determinar, nos próximos dias, o que valerá o barril de crude, o que, para a economia angolana, é fundamental, como veio lembrar na passada semana a consultora Fitch Solutions, dizendo que Angola é um dos países mais beneficiados com a subida dos preços do petróleo desde o princípio do ano, especialmente pelo impacto que teve na valorização da moeda nacional, que este ano ainda deve subir mais perto de 23 por cento.
Porém, aquilo que faz bem à economia angolana, faz mal à economia das grandes economias importadoras de crude, o que levou, em Março, os EUA e os seus aliados europeus, além do Japão e Coreia do Sul, a anunciarem o recurso às suas reservas estratégicas para controlar os preços, com só os EUA a anunciarem que vão injectar um milhão de barris por dia ao longo de seis meses.
Face a este cenário, o que vai fazer a OPEP+? Em cima da mesa está a possibilidade de rever os termos do actual acordo de produção, podendo, segundo os analistas, se a matéria-prima continuar fragilizada nos mercados, embora esse cenário seja o menos esperado, adiar o protelar o aumento da produção, que está actualmente nos 400 mil barris/dia, por mês...
Tudo, porque a libertação das reservas estratégicas dos países ocidentais e a esperada redução dos volumes importados pela China, estão a reduzir a margem entre a oferta e a procura, sendo que, sempre que estas se aproximam do equilíbrio, o barril de crude inicia fortes descidas nos mercados.