Por detrás deste volumoso aumento do valor do petróleo nos mercados, tendo o WTI, em Nova Iorque, registado igual percurso para cima, atingindo, à mesma hora, os 97,91 USD, mais 6,21% que no fecho de quarta-feira, percentagem semelhante ao que sucedeu em Londres, com o Brent, está o risco sério de o mundo ser atingido por um novo "míssil" económico de largo espectro, quando está a ver-se livre da tempestade pandémica da Covid-19.

Em causa está a quase certa diminuição robusta da oferta tendo em conta que a Rússia é o segundo maior exportador mundial de crude e de gás natural e que as suas exportações são parte da lista das sanções que a União Europeia, os EUA e outros países já anunciaram que vão disparar contra Moscovo como retaliação por este avanço dos tanques sobre a Ucrânia.

Apesar de o Presidente russo ter sido célere a informar o mundo de que se trata de uma "operação militar especial" que não visa ocupar o país mas sim retirar poder militar a um governo de Kiev "tomado por forças nazis" com um "ódio visceral" à Rússia, os mercados não se mostraram sensíveis a este argumento e reagiram como era de esperar, com uma valorização que vai afectar fortemente as grandes economias mundiais.

Desde os primeiros meses de 2014 que o Brent não valia tanto, embora a última vez que o barril tenha estado acima desta fasquia tenha sido quando este já estava em forte queda e não como agora, que está num percurso claramente ascendente.

Os mercados petrolíferos são os mais sensíveis a este tipo de ameaça de disrupções, tendo reagido de imediato aos primeiros disparos da Rússia sobre alvos na Ucrânia, naquilo que Vladimir Putin apelou de "operação militar especial" e o Governo de Kiev disse tratar-se de uma Invasão em larga escala".

O cerne desta questão é que se o crude russo, mais de 10 milhões de barris por dia, bem como o seu gás natural, que é 40% do que consome a Europa, não vai poder ser substituído por outros porque, por exemplo, a OPEP+, que desde 2017 agrega os Países Exportadores (OPEP) e 10 desalinahados, com a Rússia na frente, nem sequer está, hoje, a conseguir cumprir integralmente com a quota dos 400 mil barris por dia mensais como está plasmado no programa de reposição da produção subtraída aos mercados no âmbito da pandemia.

Isto, porque, desde que a crise petrolífera explodiu em 2014, as grandes multinacionais do sector iniciaram uma forte redução dos investimentos em pesquisa e produção, que foi potenciada ainda mais pela emergência da transição energética imposta pelas alterações climáticas.