Depois da inesperada queda do SVB, que levou ainda com ele dois pequenos bancos "viciados" em criptomoedas, o Signature e o Silvergate, a tempestade atravessou o Atlântico e ancorou em Zurique, afundando o Credit Suisse, um dos maiores bancos do mundo que só num dia perdeu 30% do seu valor em bolsa.

Já hoje, pela manhã, as coisas pareciam estar a estabilizar, com uma subida, embora ligeira, do petróleo nos mercados, depois de o Banco Nacional da Suíça ter anunciado um empréstimo de urgência ao Credit Suisse de mais de 50 mil milhões USD.

Mas só que não... foi sol que durou pouco e as nuvens negras voltaram a cobrir o negócio do crude, com o barril a voltar a rebolar gráfico abaixo, estando esta tarde de quinta-feira, 16, a valer, perto das 15:15, hora de Luanda, 72,50 USD, perdendo perto de 1,7% face ao fecho de quarta-feira.

Ao contrário do que se esperava, o Banco Central Europeu (BCE) voltou a anunciar uma subida de 0,50% nas taxas de juro, o que surge aparentemente contra-natura porque se sabe que foram as elevadas taxas de juro e os sucessivos aumentos da Reserva Federal, para aliviar a inflação, que levaram ao colapso em tão curto espaço de tempo o SVB devido à complexa mecânica dos produtos financeiros em que investiu os seus activos aavaliados em mais de 200 mil milhões USD.

O que está por detrás deste terramoto?

Este cenário é resultado de uma sucessão de dias em baixa, com quebras recorde de meses, que são consequência do colapso do Banco Silicon Valley, nos EUA, o 16º maior banco do país, mas com uma particularidade que lhe dobra a importância: era o banco das startups, o alicerce de centenas de empresas ligadas às novas tecnologias.

Apesar da forma acelerada como as autoridades norte-americanas reagiram (ver links em baixo nesta página), o contágio não foi contido integralmente, como o demonstra o mercado bolsista que está, tal como o petrolífero, a desmoronar-se.

O exemplo acabado da crise que se está a instalar no mercado bolsita é o Credit Suisse, um dos maiores bancos do mundo, que esta quarta-feira,15, perdia quase 30% em horas, sendo que alguns bancos foram retirados temporariamente de bolsa para controlar as quedas.

Esta queda do banco suíço, a maior de sempre num mesmo dia, resulta da recusa de um dos maiores accionistas, o Banco Nacional Saudita, da Arábia Saudita, em colocar mais dinheiro na instituição, depois de terem sido detectadas falhas clamorosas nos procedimentos de controlo interno, e no mesmo momento em que dos EUA chegaram as notícias do colapso dos três bancos, incluindo o Silicon Valley Bank.

E, para Angola...

... este cenário é especialmente preocupante porque, como se sabe, ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a divulgação em Novembro de 2022 de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.