Se esta trajectória se mantiver, o que parece ser o mais certo, face às dúvidas crescentes sobre o vigor da economia chinesa, o maior importador de petróleo do mundo, isso vai retirar, ao longo do próximo ano a folga que o Executivo de João Lourenço destina à consolidação e equilíbrio das contas públicas.

E tudo, porque, como nota a Reuters, os analistas esperam que a OPEP+ mostre uma menos optimista perspectiva no relatório que deve ser divulgado em breve enquanto da China chegam notícias que cimentam a ideia de que algo de preocupante começa a emergir no tecido financeiro e económico do gigante asiático.

É que, para ajudar à recuperação, o Governo de Pequim lançou, de novo, um ousado plano de estímulos à economia que, para já, pelo menos, não está a ter as consequências esperadas e desejadas.

Além disso, como tem sido notado e sublinhado no vasto noticiário sobre o sector petrolífero e os mercados globais da matéria-prima, começa a crescer o receio, entre os exportadores, onde Angola está entre os maiores em África, de que o mundo está a entrar numa espiral de excesso de oferta que nem os cortes da OPEP+ conseguem reequilibrar.

Este é o cenário que tem conduzido o preço do barril de Brent para a margem de 1 a 2 USD acima dos 70 dólares, o que é preocupante para Angola face à definição de 70 USD como preço médio no Orçamento Geral do Estado de 2025.

Esta terça-feira, 12, perto das 12:00, hora de Luanda, o barril de Brent estava a valer 72,21 USD, com uma ligeira recuperação de 0,60 % face ao fecho anterior, aliviado a regressão sentida na última semana, tendo chegado mesmo aos 71,45 USD a partir dos quase 76 de 06 de Novembro.

Em pano de fundo para este sentimento "negativo", na perspectiva dos produtores/exportadores, como é o caso de Angola, está a promessa repetidamente feita pelo Presidente-eleito dos EUA, Donald Trump, de uma aposta vigorosa na produção do país.

E isso mesmo fica claro desde que, nas últimas horas, se soube que Trump nomeou para liderar a agência de protecção ambiental (EPA) dos EUA o anti-ambientalista Lee Zeldin, que vai, com empenho, dar sequência à fórmula mágica do 47º Presidente: "Drill, baby, drill", que é o mesmo que dizer em português, "extrair a maior quantidade de petróleo que for possível e no mais curto espaço de tempo".

Este recuo na defesa do meio ambiente, perante o desastre das alterações climáticas, mesmo sendo os EUA um dos países mais fustigados por elas, vai levar, possivelmente, a que aquele que já é o maior produtor do mundo passe a ser igualmente um importante exportador, porque, actualmente, a quase totalidade do que produz é consumido internamente.

E, se tal acontecer, o problema do excesso de oferta vai claramente agudizar-se e os preços vão, tendencialmente, começar a cair.

Para as contas de Angola...

... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, este cenário pode indiciar um futuro difícil.

Mas, para já, ter o Brent quase nos 72 USD, claramente acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, mantém a capacidade para diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, embora o país enfrente também o problema da persistente redução da produção diária.

Cenário que será substancialmente alterado em Janeiro, quando entrar em vigor o OGE 2025, no qual o valor médio do barril foi definido nos 70 USD.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.