Depois de altos e baixos entre os 54 e os 56 dólares nas últimas duas semanas, hoje o Brent de Londres abriu com o barril a valer menos que essa fasquia e por volta das 09:30 estava a ser vendido a 54,26, menos 74 cêntimos que aquilo que é o mínimo aceitável para o Executivo de João Lourenço antes de ter de pensar numa revisão do OGE.

Por detrás deste deslizar continuado do valor do petróleo - o WTI de Nova Iorque, o outro mercado de referência global, teve o mesmo comportamento, passando, em menos de um mês, dos 62,7 USD para os 52,4 - está uma quebra no vigor da economia chinesa, a segunda mais robusta do mundo e o maior importador de petróleo planetário, o que faz com que sempre que o gigante asiático consome menos crude, os mercados acentuam isso com um deslizamento nos preços do barril.

Uma das razões subjacentes à fragilidade actual da economia chinesa é a imparável epidemia pelo novo coronavírus que desde Dezembro, altura em que foi descoberto na cidade de Wuhan, está literalmente a fechar dezenas de cidades chinesas, colocadas em rígidas quarentenas pelo Governo dentro da estratégia desenhada para travar a progressão da doença que já fez mais de 900 mortos e 40 mil infectados em todo o mundo.

Este impacto traduz-se na diminuição das transacções económicas internas, numa quebra brutal das exportações devido ao encerramento preventivo de dezenas de fábricas de grandes marcas mundiais, como a Airbus ou a Apple, e ainda pela suspensão das rotas de e para a China por parte de um cada vez mais elevado número de companhias aéreas de todo o mundo, entre outras medidas drásticas.

Mas, agora, começam a surgir as primeiras vozes a defender que o vírus de Wuhan pode não estar a ter um impacto tão dramático como isso na fragilização da economia chinesa e que essa acentuada queda do seu vigor tem outras razões.

O Secretário de Estado da Energia dos EUA, Dan Brouillette, defendeu, em declarações à Reuters, que o coronavírus não é o principal responsável pelas quebras verificadas, mas admitiu que pode vir a sê-lo se se mantiver este crescendo da sua progressão geográfica e no número galopante de vítimas.

"Até agora, o impacto tem sido marginal", disse Brouillette, sem ir muito mais longe, embora contrariando informações repassadas por fontes anónimas do Governo de Pequim que na semana passada garantiram, citadas pelas agências e sites especializados, que a China, o maior importador planetário da matéria-prima, estava a observar uma quebra superior a 20 por cento nas suas importações de crude em comparação com o normal para esta altura do ano.

E isso, colocado em perspectiva, são mais de 3 milhões de barris por dia.

Este valor não é de todo irrelevante e isso pode ser demonstrado através de uma conta simples: 3 milhões de barris por dia é um valor 1,3 milhões de barris por dia acima dos cortes na produção em vigor pela OPEP e OPEP+ (membros do "cartel" mais a Rússia e outros 11 países produtores) que desde Janeiro do ano passado têm em progresso um corte de 1,7 milhões de barris por dia para impedir que o excesso de oferta leve a uma acentuada perda de valor do barril.

Perante este quadro, a OPEP+ vai voltar a reunir de emergência nas próximas semanas para definir um novo modelo de actuação e apostar, crê-se, em cortes mais vastos na produção para inverter este progressivo pântano em que o crude se está a enterrar desde o início do ano corrente.

Seja qual for o cenário com que os mercados se deparem, para Angola isso vai ser crucial, porque o crude ainda é responsável por mais de 90 por cento das exportações do país e a sua economia ainda é das mais dependentes dos rendimentos proporcionados pelo petróleo, apesar dos esforços que decorrem há vários anos para a diversificação da economia nacional.