No dia em que, mais uma vez, se reúne a OPEP+, a organização que desde 2017 agrega os 13 membros dos Países Exportadores (OPEP) e os 10 não-alinhados com a Rússia à cabeça, de forma a manter os mercados sob controlo no meio de sucessivas crises económicas globais, o barril de petróleo atingiu o seu valor mais alto em quase oito anos, tendo como impulso vital a guerra na Ucrânia que já dura há 7 dias e que começou com o avanço das forças militares de Moscovo sobre o vizinho.

Como pano de fundo para esta reunião da OPEP+, que os analistas, e os media especializados estão a confirmar através de fontes oficiais, está a periclitante situação da Rússia, que, se por um lado, é um dos principais produtores de crude e gás natural do mundo, com uma influência substantiva no desfecho destas reuniões, onde emparelha com a Arábia Saudita na condução dos seus destinos, por outro, Moscovo tem sobre a cabeça o risco de ser punida com a exclusão de uma parte substancial dos mercados no âmbito das sanções económicas aplicadas devido à invasão da Ucrânia.

Para já, em cima da mesa está a decisão de manter ou alterar o programa de reposição da produção diminuída para controlar os preços devido à crise pandémica da Covid-19, que, neste momento, e ao que tudo indica assim se manterá, está nos 400 mil barris/dia por mês, ou elevar a produção além desta fasquia.

Mantendo-se tudo como está previsto, mais 400 mil barris por dia em Abril, visto que para Março a decisão já foi tomada na reunião anterior, há um mês - estes encontros são, habitualmente, mensais -, não será a partir da produção do Cartel que o barril vai baixar nos mercados, mas o oposto é uma séria possibilidade, visto que a Rússia pode, de um momento para o outro, deixar de fornecer a sua produção ao negócio global da energia se a isso for obrigada.

Hoje, o barril de Brent, vendido em Londres, chegou aos 112 USD, logo no arranque das negociações, tendo, depois, estabilizado perto dos 110 USD por barril, mais 5,4% que no fecho da sessão de terça-feira, enquanto no WTI de Nova Iorque chegou aos 111 USD, regressando depois à fasquia dos 108, mesmo assim mais quase 5,3n por cento que no encerramento da sessão anterior.

Certo e seguro é que, neste momento, a evolução da matéria-prima nos mercados depende quase em exclusivo do que vier a suceder no conflito na Ucrânia, com a Rússia a manter sob cerco apertado as mais importantes cidades do país mas com a resistência ucraniana cada vez mais eficaz devido ao volumoso fornecimento de apoio militar letal e logístico de países como os EUA, a Alemanha ou a Austrália, entre outros.

A posição da China

A contrabalançar este terreno pantanoso em que se encontram os pés da indústria petrolífera russa está a China, a segunda maior potência económica mundial e o maior importador global de crude, que já fez saber que não vai alinhar com as potências ocidentais na aplicação de sanções económicas a Moscovo.

Esta informação, que já tinha sido admitida pelo Governo de Xi Jinping, foi confirmada já hoje pelo presidente do organismo regulador do sistema bancário chinês, Guo Shuging, garantindo que o país vai manter as transacções económicas e financeiras normais com a Rússia.

"Nós não aprovamos a aplicação de sanções, especialmente as que estão a ser aplicadas unilateralmente por não terem base legal sólida e não haver qualquer certeza de que estas podem ter uma influência substancial na resolução dos problemas", adiantou o responsável.

Este posicionamento da China permite um importante alívio nas restrições que a economia russa está a enfrentar devido ao volumoso caudal se sanções ocidentais devido à invasão da Ucrânia.

Os precedentes

A Rússia é o segundo maior produtor/exportador de petróleo do mundo, logo a seguir à Arábia Saudita, com quem partilha a liderança da OPEP+, a organização que desde 2017 procura equilibrar os mercados petrolíferos abrindo e fechando as torneiras em função das condições dos mercados, o que torna evidente que qualquer perturbação na sua infra-estrutura produtiva e exportadora vai gerar uma tempestade global, podendo atirar o preço do barril para valores nunca visto.

Segundo alguns analistas citados pelos media especializados no sector, os valores do crude registados hoje podem ainda subir de forma descontrolada nas próximas horas ou dias se, como avisou antes desta acção do Presidente russo o Presidente dos EUA, Joe Biden, o mundo decidir "castigar" a Rússia incidindo sobre a sua infra-estrutura produtiva no sector dos hidrocarbonetos, que é a grande indústria exportadora do país e a sua principal, de longe, fonte de receitas.

Todavia, o mundo pula e avança e não fica aparado a ver passar sanções e o efeito das sanções sobre a Rússia pode ser diluído com a entrada no mercado de outro dos grandes exportadores mundiais de crude, o Irão, que está há vários anos sob rígidas sanções norte-americanas devido ao acordo nuclear de 2015, depois do anterior Presidente dos EUA, Donald Trump, o ter unilateralmente abandonado, reimpondo as sanções às exportações de crude sobre Teerão que tinham sido levantadas pelo seu antecessor, Barck Obama.

O Irão, segundo o próprio Presidente dos EUA, está a um passo de voltar a ver levantadas as sanções no seguimento de negociações que já duram há mais de um ano, com Teerão a comprometer-se com o cumprimento do acordo de 2015, que determina, entre outras imposições, que este país abandone o processo de criação de urânio enriquecido, que permitirá, no limite, a criação de armas nucleares.

E se isso suceder, como se prevê, nas próximas semanas, o Irão, que acaba de anunciar ao mundo uma gigantesca descoberta de reservas de crude e de gás no sul do país, pode fazer entrar no mercado global, no imediato, entre 2 e 3 milhões de barris por dia, podendo esta cifra chegar aos 5 milhões no espaço de poucos anos, ou mesmo meses, devido à sua condição de 3º maior produtor da OPEP.

A título de exemplo, em 2019 Teerão anunciou ao mundo a descoberta de um gigantesco campo de petróleo com mais de 53 mil milhões de barris, na zona do Khuzestan, a apenas 80 metros de profundidade, o que significa que, além de vasto, este campo garante não só uma extraordinária facilidade de extracção como garante um breakeven de sonho para qualquer multinacional do sector.

Este campo iraniano só fica atrás da sua estrela da companhia, o campo de Ahvaz, que contém mais de 65 mil milhões de barris prontos a ser extraídos.

No entanto, para já, esta crise que escala dia após dia para novos patamares no leste europeu, é uma garantia de preços mais elevados nos mercados internacionais, o que faz com que Angola, mesmo que o País se debata há anos com quebras sucessivas na produção, estando agora em menos de 1,1 milhões de barris por dia, mesmo abaixo da quota atribuída no contexto da OPEP, tenha um momento de relativa bonança pela frente, considerando que o crude representa, ainda, 95% das suas exportações, é responsável por 35% do PIB e garante quase 60% dos gastos de funcionamento do Estado.