Tal aviso não é destinado a todos, é-o apenas para os países com economias dependentes das exportações petrolíferas, onde Angola se destaca como um dos mais expostos ao risco das oscilações dos mercados internacionais.

E porquê? Simples. Desde 2020, com o florescimento da pandemia da Covid-19 e do "shut down" do comércio global, que o mundo não mostrava sinais tão evidentes como em 2024 de um declínio acentuado na procura pela matéria-prima que, ainda, é o combustível do mundo.

É isso mesmo que a Reuters, depois de analisar os dados referentes a 2024 das cargas marítimas de crude, concluiu e noticiou esta terça-feira, 07, sendo ainda mais exaustiva a agência ao determinar que essa quebra foi de 2% nas exportações, passando de 42,51 mbpd para 41,68 mbpd.

A notícia menos má para as economias petrodependentes é que este declínio resultou, a par, é certo, das quebras na economia chinesa, o maior importador mundial, de problemas exóticos", como os ataques dos Houthis aos petroleiros ocidentais no Mar Vermelho, por exemplo.

Apesar desse cenário em fundo, é também certo que este início de 2025 tem mostrado ser promissor, porque o barril parece mostrar uma inesperada flutuabilidade no mar convulso que o mapa das guerras no planeta mostra, da Ucrânia ao Médio Oriente...

E é assim que, perto das 14:30 de hoje, hora de Luanda, o barril de Brent, que serve de referência principal às exportações nacionais, estava a valer 76,93 USD, uma subida 0,76% face ao fecho anterior, motorizado pela antecipação dos efeitos das novas sanções dos EUA e União Europeia sobre as exportações russas e do Irão.

Embora impotentes para sancionar directamente as indústrias petrolíferas russa e iraniana, o ocidente procura apontar baterias para as empresas dos países que com elas fazem negócios, especialmente a China e a Índia, o que, embora ligeiramente, começa a fazer efeito nos números globais das exportações daqueles produtores/exportadores.

Este cenário é claramente positivo para a economia angolana, que vê assim o valor do barril afastar-se benignamente do valor médio de 70 USD com que o Executivo elaborou o OGE 2025, permitindo alguma folga para tapar os buracos da severa crise que o país atravessa... com destaque para a da inflação galopante e cambial que parece não encontrar o fundo do poço para onde resvala a moeda nacional.

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional tende a manter os preços ligeiramente acima do valor médio estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.

Preços estes que ainda estão a grande distância dos que foram atingidos no pico do ano de 2024, que aconteceu em Abril, quando chegou perto dos 92 USD por barril, ou mesmo, mais recentemente, em Outubro, onde esteve nos 80 USD, quando as contas nacionais respiravam mais à-vontade.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.

No entanto, porque o OGE nacional elaborado para 2025 ter apostou nos 70 USD, o actual valor deixa as contas nacionais a balancear porque qualquer desequilíbrio pode afectar negativamente as contas nacionais.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.