Por detrás deste novo impulso no negócio do crude está o anúncio do Governo russo sobre uma interrupção total do oleoduto de Druzhba que atravessa a Ucrânia para fornecer a Europa ocidental.
Esta nota agora divulgada por Moscovo trouxe para a linha da frente, de novo, as preocupações dos mercados sobre um afunilamento da disponibilidade da matéria-prima nos mercados quando as grandes economias mundiais começam a dar sinais de recuperação, com realce para os dados da China, que apontam para um reforço das importações de crude.
De acordo com a estatal Transneft, a empresa russa que detém o monopólio deste tipo de transporte de crude na região, a interrupção partiu de uma imposição ucraniana porque as sanções ocidentais estão a impedir que Moscovo pague o uso do território ucraniano para a passagem do seu petróleo em direcção à Europa ocidental.
Segundo os especialistas, este oleoduto, em particular, não representa um sério problema, mas deixam em destaque a questão do permanente aperto que existe quanto à oferta, que há muitos meses se encontra dentro de uma banda muito estreita e pouco versátil para responder a problemas inesperados.
O Brent estava hoje, perto das 15:00, hora de Luanda, a valer 97,50 USD, mais 0,88% que no fecho de segunda-feira, sendo semelhante o desempenho do WTI de Nova Iorque, que, à mesma hora, estava a valer 91,71 USD, mais 1,06%, mas claramente a caminho de emergir à tona da fasquia dos 100 USD, como admitem os analistas, empurrado tanto por esta "advertência" como, especialmente, pelos dados positivos que chegam das maiores economias do mundo, a chinesa e a dos EUA.
Pela frente, os mercados têm, no entanto, ainda um risco prevalecente de recessão nos Estados Unidos e nas principais economias europeias, onde a inflação galga terreno e parece imparável, tal como o desemprego, que foram, de facto, as razões para a queda recorde verificada na passada sexta-feira, chegando o barril a valores de Fevereiro deste ano, antes do início da guerra na Ucrânia.
O sobe e desce nos mercados petrolíferos são importantes para Angola porque o País tem no petróleo perto de 95% do total das suas exportações, vale cerca de 35% do PIB e equivale a 60% das suas receitas fiscais.
Estes números garantem que o Executivo que vier no pós-eleições de 24 de Agosto a governar o País vai olhar com preocupação para os gráficos que medem a "temperatura" ao negócio global da matéria-prima.
Em pano de fundo para os dias "negros" da passada semana para o negócio do crude, estiveram os dados da economia global a mostrarem o enfraquecimento da procura, levando à queda no valor da principal matéria-prima de exportação em Angola, embora alguns analistas admitam que isso se deva à manipulação de dados por parte das potências económicas ocidentais que estão num acalorado processo de pressão sobre os países da OPEP+ para aumentarem a produção de forma a baixar os preços, sem sucesso.
Numa semana, segundo os sites da especialidade, o petróleo Brent caiu perto de 14%, um recorde desde Abril de 2020, momento em que a pandemia da Covid-19 caiu que nem uma bomba na economia global, enquanto no WTI o tombo foi de quase 10%.
Com os actuais números espelhados nos gráficos que medem o negócio do crude em todo o mundo, os ganhos avultados conseguidos pelos países exportadores claramente evaporaram, o que permite adivinhar que a OPEP+, na sua próxima reunião, possa alterar os planos, optando por uma recuperação da produção menos efusiva que aquilo que está previsto para Setembro.
As melhorias verificadas nas economias dos EUA e da China, os dois maiores consumidores do mundo, e a duas maiores economias do Planeta, podem vir a alterar este quadro negativo, mas, para já, países como Angola, cujas economias dependem fortemente das exportações de energia, vão enfrentar problemas.