A economia chinesa já está a ressentir-se do que está em curso nas cidades de Xangai, onde só agora começa a ser aligeirado um confinamento gigantesco de 26 milhões de pessoas, e de Pequim, onde se teme que o mesmo venha a suceder aos seus 22 milhões de habitantes após a testagem em larga escala que está a ser feita.

Mas se este regresso ao medo do Sars CoV-2 está a gerar pânico nos mercados, os dados não enganam e como nota a Reuters, as compras de petróleo estão a abrandar no gigante asiático por causa do impacto na economia das restrições impostas por causa da Covid-19.

E é nesse contexto que o barril de Brent, que determina o valor médio das ramas exportadas por Angola, estava hoje a valer em Londres, perto das 09:30, hora de Luanda, 105,08 USD, menos 0,15% que o fecho de quarta-feira, enquanto em Nova Iorque, onde se balanceia sob os ventos que sopram da maior economia mundial, o barril tinha um registo ligeiramente melhor, subindo, à mesma hora, 0,003%, para os 101,92 USD.

A par dos constrangimentos gerados pelo regresso da pandemia como factor de condicionamento económico na China, os mercados globais de energia estão ainda atentos ao que sucede a partir do conflito na Ucrânia, sendo que, por estes dias, uma das assinaladas consequências é visível na Europa que luta internamente para decidir se continua a receber gás russo, pagando em rublos, a moeda nacional russa, como exige Moscovo, e como já aceitou a Áustria e a Hungria, e a Alemanha se prepara para aceitar, ou deixa de receber, como sucedeu com a Bulgária e a Polónia.

Para já, enquanto os 27 países que compõem o bloco europeu não se entendem, o preço do gás já subiu, em apenas 24 horas, perto de 25%, o que, segundo os analistas, poderá arrastar consigo o petróleo, embora isso possa ser aliviado porque a União Europeia tem uma, embora importante, menor dependência do crude russo que do seu gás natural, sendo este absolutamente vital para a economia europeia, desde logo das grandes economias como a alemã, italiana ou holandesa, entre outras...

Por outro lado, por perceber na totalidade está ainda o impacto da guerra que envolve a Rússia, um dos três maiores produtores de gás e de petróleo do mundo, e a Ucrânia, sendo que, até agora, as sanções impostas a Moscovo pelos Estados Unidos, União Europeia e, entre outros, o Reino Unido, não estão a limitar de forma pesada as exportações russas, a ponto de, por exemplo, Londres, que é uma das capitais da primeira linha dos defensores das sanções a Moscovo e mais belicista anti-Rússia, já gastou perto de 300 milhões de dólares em crude Made in Russia desde que o conflito teve início, a 24 de Fevereiro, com o avanço das forças do Kremlin sobre a Ucrânia.

Nos próximos dias, alem de se perceber o que vai acontecer em Pequim, se se repete ou não o confinamento geral como em Xangai, ainda o que vai ser decidido na próxima semana quando tiver lugar a reunião mensal da OPEP+, que agrega os 13 países da OPEP e os 10 não-alinhados que incluem a Rússia, sobre se alteram ou não o plano de reposição da produção perdida com a pandemia, logo no início de 2020, e ainda se a Líbia, que vive uma quase guerra civil, com perturbações importantes nos terminais de exportações de crude, resolve os problemas e volta a enviar os seus perto de 1 milhão de barris por dia.

E são estes os principais factores que vão determinar, nos próximos dias, o que valerá o barril de crude, o que, para a economia angolana, é fundamental porque as exportações de petróleo ainda representam 95% do global das exportações nacionais, perto de 35% do PIB e de 60% das despesas de funcionamento do Estado.

Para já, e isso mesmo veio dizer na segunda-feira a consultora Fitch Solutions, Angola é um dos países mais beneficiados com a subida dos preços do petróleo desde o princípio do ano, especialmente pelo impacto que teve na valorização da moeda nacional, que este ano ainda deve subir mais perto de 23 por cento.

Porém, aquilo que faz bem à economia angolana, faz mal à economia das grandes economias importadoras de crude, o que levou, em Março, os EUA e os seus aliados europeus, além do Japão e Coreia do Sul, a anunciarem o recurso às suas reservas estratégicas para controlar os preços, com só os EUA a anunciarem que vão injectar um milhão de barris por dia ao longo de seis meses.

Face a este cenário, o que vai fazer a OPEP+ na sua reunião prevista para o início do mês de Maio? Em cima da mesa está a possibilidade de rever os termos do actual acordo de produção, podendo, segundo os analistas, se a matéria-prima continuar fragilizada nos mercados, adiar o esperado aumento da produção, que está actualmente nos 400 mil barris/dia, por mês, desde Julho de 2021.

Tudo, porque a libertação das reservas estratégicas dos países ocidentais e a esperada redução dos volumes importados pela China, estão a reduzir a margem entre a oferta e a procura, sendo que, sempre que estas se aproximam do equilíbrio, o barril de crude inicia fortes descidas nos mercados.