O barril de Brent, vendido em Londres, nos contratos para Março, estava hoje, perto das 10:50, hora de Luanda, a valer mais 1 % que no fecho de terça-feira, para os 88,62 USD, enquanto em Nova Iorque, o WTI, nos contratos para Fevereiro, estava a subir, à mesma hora, mais de 1,5%, para os 86,68 USD, ambas as referências a atingirem valores que não eram registados desde meados de 2014, o ano em que a crise se começou a instalar nos países com economias mais dependentes das exportações da matéria-prima.

Com estes valores, economias como a angolana, que são menos versáteis e, por isso, vêm mostrando, ao longo dos anos, menor capacidade para diversificar as suas fontes de rendimentos, mantendo uma perigosa dependência da exportação de crude - em Angola é superior a 90% do total das suas exportações - encontram-se com aquilo a que ciclicamente ocorre, que é um fluxo gigantesco de dinheiro fresco que, como todos os analistas referem amiúde, amolece o ímpeto de investir noutros sectores, mas que gera crescimentos grandes, mesmo a dois dígitos, como sucedeu no final da primeira década deste século no País.

Mas este momento maca ainda a transição, pelo menos por enquanto, de um contexto mundial em que era a pandemia da Covid-19 quem mais ordenava para outro tempo em que os altos e baixos nos mercados energéticos voltam a dançar ao ritmo das ameaças de conflito regionais ou ainda devido a disrupções no fornecimento por avarias ou atentados ou porque as organizações de produtores, como a agora denominada OPEP+, que junta a velha OPEP a 10 exportadores "desalinhados" liderados pela Rússia, estabelecem limites draconianos à oferta global.

E é assim que, por detrás desta recuperação extraordinária do crude - a meta dos 100 USD por barril, segundo a Goldman Sachs, deverá ser atingida ainda este ano -, depois de dois anos esmagado pelos efeitos pandémicos, está, além dos conflitos ou ameaça de conflito, como é o caso da ameaça de invasão da Ucrânia pela Rússia, apesar do Kremlin negar tal pretensão, a produção que continua sob fortes restrições decididas pela OPEP+, a organização que desde 2017 junta os 13 Países Exportadores (OPEP) e 10 independentes agora liderados pela Rússia, e o fade out que se verifica no impacto da pandemia da Covid-19 na economia global.

A Reuters coloca ainda como factor determinante a aposta dos investidores no sector em como a oferta vai permanecer por um período largo de tempo abaixo da procura, agora que o mundo vê a economia a desembaraçar-se das restrições pandémicas e a esperança a regressar às grandes economias planetárias, com a Europa a retirar os espartilhos, a China a divulgar dados crescentes sobre a sua actividade exportadora e os EUA claramente a deixarem para trás os efeitos do Sars CoV-2 sobre a confiança em dias melhores, apesar do céu cinzento gerado pela subida da inflação e da ameaça da subida das taxas de juros, como sucede no resto do mundo.

Com estes dados, recorde-se, o Executivo de João Lourenço tem uma crescente capacidade de gerar receitas para lidar com a grave crise que Angola atravessa, porque, como se sabe, o crude ainda é responsável por 95% das exportações nacionais, mais de 35% do PIB e além dos 60% dos fundos com que o Governo gere as suas despesas.

Isto, tendo ainda como pano de fundo o vigoroso superavit gerado pelo facto de o Orçamento Geral do Estado 2022 ter sido elaborado com o barril a ter um valor médio esperado de 59 USD ao longo do ano.

Com essa marca, e por estes dias, o País conta com um extra relevante de mais de 27 USD por barril exportado, embora o contraste esteja a ser pesado, visto que a produção nacional tem vindo a degradar-se de forma significativa, estando, actualmente, abaixo dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd).

O que compara mal com os mais de 1,7 mbpd de há cerca de uma década, muito porque ocorreu um forte desinvestimento, especialmente desde 2014, quando o crude caiu de mais de 100 USD para pouco mais de 30 em 2016, na produção e na pesquisa, e o mundo começou a acordar para a urgência da transição energética de forma a combater as alterações climáticas.