Por detrás desta derrocada da matéria-prima que sustém a economia angolana à tona da água face às tempestades que há anos varrem a economia mundial, está a vaga de protestos populares na China contra as medidas anti-Covid aplicadas pelo Governo de Pequim.
Em pano de fundo a este trambolhão no valor do barril de crude estão as imagens que atravessam o mundo nas televisões e nas páginas dos jornais com milhares de pessoas nas ruas das grandes cidades chinesas em raros episódios de protesto contra o Governo de Xi Jinping.
Com efeito, para dar seguimento à sua política de "Covid zero", as autoridades chinesas estão a aplicar medidas de restrição à mobilidade que, nalguns casos, levam a confinamentos agrestes como já não se viam desde o início de 2020, quando a pandemia apareceu, em Wuhan, cidade do centro da China, com a força de um tsunami global.
E se a segunda maior economia do mundo e o primeiro importador de petróleo planetário "confina", a procura desce e os preços acompanham com perda de valor, como é o caso actual, em que o barril de Brent estava esta manhã, perto das 09:20, hora de Luanda, a valer 81,24 USD, um valor que só se encontra viajando no tempo até aos primeiros dias de Janeiro deste ano.
Mas se a referência for o WTI, em Nova Iorque, então o valor a que a medida está a ser transaccionada hoje, só se repete no tempo em meados de Dezembro de 2021, quando o barril valia pouco mais de 73 USD, face aos 74,2 USD na manhã desta segunda-feira, 28.
Estes valores, como nota a Reuters, dão-nos ainda outra informação relevante, que é o facto de serem fruto de quase três semanas de sucessivas revisões em baixa, tendo a matéria-prima registado uma perda de 4,7% no final da semana passada, no que respeita ao WTI e de 4,6% no Brent, em Londres.
Mas as notícias para a economia angolana, que ainda tem no petróleo 95% das suas exportações globais, mais de 60% das receitas do Estado e cerca de 35% do seu PIB, não estancam aqui, porque os analistas citados hoje pelo sites e agências especializadas, apontam para que nos próximos dias, as baixam se mantem até menos 5 USD por barril, podendo mesmo aprofundar as perdas se, por exemplo, e como está a ser encarado como forte possibilidade, a guerra na Ucrânia termine com um acordo por definir entre Moscovo e Kiev.
Este dado, se se vier a confirmar, é de grande relevo porque a Rússia, que lidera a produção mundial com a Arábia Saudita e os EUA, equiparando-se apenas aos sauditas no que diz respeito às exportações, o que permitira a normalização do fluxo de energia nos mercados internacionais, com a incontornável normalização, também, dos preços.
Alias, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação a recente divulgação de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.
Isto, apesar de algumas notícias positivas, como a que chegou há semanas da petrolífera francesa TotalEnergies, que vai investir 3 mil milhões de dólares em projectos ligados a energias renováveis, nomeadamente parques solares, e exploração de petróleo em Angola.
Alias, este anúncio surgiu pouco depois de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) ter vindo advertir que o negócio mundial do petróleo precisa de um investimento de dezenas de biliões de dólares - em pesquisa, produção e manutenção - para que seja possível manter uma resposta à esperada crescente procura.
Isto apesar da urgência que o mundo vive para atacar com sucesso mínimo os efeitos das alterações climáticas através da transição energética que só será possível com uma redução gigantesca do consumo de crude, carvão e de gás natural, os grandes emissores dos gases com efeito de estufa que estão a sufocar o planeta.
A transição energética é uma das razões de fundo para o forte impacto da crise que o sector vive em Angola e que começou em 2014, com um subsequente desinvestimento na pesquisa e na manutenção da infra-estrutura produtiva nacional, cujo declínio já é impossível de negar, estando a sua produção muito perto de 1 mbpd, muito longe do máximo histórico atingido em meados de 2008, quando se aproximou dos 1,9 mbpd.