Por causa da pandemia da Covid-19, como já é do conhecimento comum, o mundo assistiu à mais grave diminuição do consumo de energia em várias décadas, infligindo um duro golpe nas economias mais dependentes das exportações de crude, como é o caso de Angola, tendo agora a EIA ajustado essa queda para os 9%, colocando o consumo médio dos 12 meses de 2020 nos 92,2 milhões de barris por dia (mbpd), bastante menos que algumas estimativas que chegaram a apontar para quebras na ordem dos 20%.
Apesar deste ajuste em alta, a mais grave crise económica desde o crash bolsista de 1929 deixou o mundo de rastos e a recuperação vai levar entre dois a três anos nos países mais desenvolvidos enquanto nos países mais frágeis economicamente, essa recuperação para níveis pré-pandémicos pode levar até 10 anos.
Este relatório da EIA, referente a Janeiro, aponta para uma recuperação em torno dos 5,6 mbpd, o que compreende perto de 6% das perdas de 2020, estabelecendo 2022 como o ano em que o sector vai recuperar os restantes 3,3 mbpd, o que, a verificar-se, consolida a produção mundial em valores a aproximarem-se dos de Dezembro de 2019 (apenas menos 3%), antes de a pandemia iniciar a destruição da economia planetária em Janeiro de 2020.
Este estudo coloca os EUA, o maior consumidor mundial e um dos maiores produtores globais, a contribuir com 1,4 mbpd este ano, graças ao crescimento económico esperado sob o efeito das vacinas na pandemia e os estímulos financeiros na calha.
Valores que não são os mesmos que foram já apresentados pela OPEP, que aponta para uma recuperação vigorosa igualmente mas quase 5 mbpd abaixo em comparação com 2019, enquanto a Agência Internacional de Energia acrescenta 500 mil bpd, ligeiramente mais optimista.
O que há a concluir nas perspectivas da generalidade dos organismos que produzem estimativas, análises e projecções é que a recuperação em 2021 vai ser vigorosa, embora sujeita a ligeiras oscilações que resultam da maior ou menor demora no efeito positivo das campanhas de vacinação um pouco por todo o mundo.
Para já, hoje, o barril de Brent estava a subir, perto das 10:00 de Luanda, 1,14%, para os 55,67 USD, enquanto o WTI de Nova Iorque, à mesma hora, ganhava 0,90%, para os 52, 67 USD.
Para Angola...
Este cenário de recuperação permite algum optimismo nas contas nacionais mas ainda longe de um regresso ao patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nunca visto até ali.
A produção actual está abaixo dos 1,3 mbpd e em constante declínio devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016.
Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção demora a arrancar para os patamares mais próximos daqueles que se viram no passado.
Para já, com o barril acima dos 55 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de mais de 15 USD em cima dos 39 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.
O crude é ainda responsável por mais de 94% das exportações angolanas, mais de 50% do PIB e representa 60% das receitas do Executivo para poder gerir as necessidades da governação, o que, face a uma lenta e demorada diversificação da economia nacional, se traduz numa mais optimista entrada no novo ano e nova década do século XXI.