Segundo uma nota de imprensa enviada ao Novo Jornal, esta descoberta, anunciada pouco depois de o PCA da petrolífera italiana, Claudio Descalzi, e o seu CEO do Upstream, Guido Brusco, terem estado, na manhã de terça-feira, na Cidade Alta para um encontro com o Presidente João Lourenço, resulta de uma perfuração na área de desenvolvimento de Cabaça, prospecto de exploração da Cuica.
Esta é já a segunda descoberta significativa, aponta ainda a mesma nota de imprensa da ENI, no interior da área de desenvolvimento de Cabaça, confirmando assim "o compromisso do grupo empreiteiro do Bloco 15/06 - que agrega a ENI e ainda a Sonangol P&P e a SSI Fifteen Limited - em alavancar o quadro jurídico favorável a actividades exploratórias adicionais dentro de áreas de desenvolvimento existentes, tal como promovido pelo Decretao Presidencial nº 5/18 de 2018".
A ENI sublinha ainda que esta descoberta vai traduzir-se rapidamente em produção porque a localização da cabeça do poço foi "intencionalmente" colocada nas imediações do FPSO (na foto - embarcação que serve para recolha e armazenamento e processamento de crude), do Polo Este, o que vai permitir uma "ligação rápida do poço de exploração à produção relevante".
Isso vai permitir a criação de "valor imediato" que se traduz num espaço temporal de até seis meses, avança ainda a petrolífera italiana, que enfatiza o facto de Cuica representar a primeira descoberta comercial no Bloco 15/06 depois do reinício da actividade no pós pandemia da Covid-19 e da queda do preço do petróleo.
A companhia reafirma ainda o seu compromisso em "descobrir mais valor na área por meio da eficácia das suas tecnologias e da capacidade de transformar rapidamente os recursos em produção".
Estas informações foram transmitidas pelos responsáveis da ENI no encontro de terça-feira com o Presidente da República, e a descoberta de um poço com reservas que podem chegar aos 250 milhões de barris, com produção que podem iniciar num máximo de seis meses, não deixa de ser um relevante alívio para a indústria petrolífera nacional que, nos últimos anos, tem vindo a observar um declínio acentuado na produção em resultado do desinvestimento das "majors" a operar no País devido à desavalorização da matéria-prima nos mercados internacionais.
Recorde-se que em cerca de uma década, a produção angolana passou de quase 1,9 milhões de barris por dia (mbpd) nos últimos anos da primeira década do século XXI para os actuais cerca de 1,3 mbpd, segundo dados da AIE e da OPEP, com alguns dados a apontarem para uma diminuição ainda mais vigorosa nos próximos anos.
A ENI estima, face aos dados recolhidos, que a quantidade de barris diários que esta descoberta poderá acrescentar quando iniciar a produção pode atingir diariamente os 10.000, o que vai ajudar, apesar de forma limitada, a reverter o quadro negativo em que a produção angolana se encontra actualmente, fruto de diversos factores, sendo um deles o desinvestimento, outro a Covid-19, com a queda acentuada do valor do crude como pano de fundo.
O encontro com o PR
E a disponibilidade da ENI para apoiar Angola a ultrapassar este contexto menos bom para a história da indústria petrolífera nacional foi o que esponsáveis da ENI, um dos gigantes a operar no offshore e onshore nacional, foram, na terça-feira, explicar ao Presidente da República, detalhando o estado da actividade da multinacional em Angola, com destaque para o bloco 15/06, de onde já foram extraídos, desde 2018, pelo menos 2 mil milhões de barris de crude.
Um ponto essencial foi o anúncio de que, até 2025, multinacional vai investir 7 mil milhões USD em Angola.
Claudio Descalzi, PCA da ENI, acompanhado de Guido Brusco, CEO do departamento de Upstream da multinacional italiana, foram dizer a João Lourenço que o desenvolvimento do bloco 15/06 foi "ultrarrapido" e foram dadas garantias ao Presidente da República sobre o desenvolvimento em curso, com conclusão para breve, de um novo polo de extracção neste bloco do campo Agogo, em águas profundas, localizado no norte do país.
Mas este encontro com o chefe do Executivo serviu ainda para actualizar o estado dos investimentos da multinacional italiana nas energias renováveis e no downstream (sector da refinação e distribuição dos produtos petrolíferos), tendo Descalzi, de acordo com o comunicado da petrolífera, informado que a Solenova, uma parceria ENI/Sonangol completou a primeira fase da central fotovoltaica de Caracujo, que deverá iniciar a produção em 2022.
No que diz respeito à actividade no downstream, a ENI informou Lourenço sobre o trabalho que está a ser desenvolvido na refinaria de Luanda com o objectivo de aumentar a capacidade desta antiga refinaria, erguida na década de 1950, em conjunto com a Sonangol, tendo sublinhado que "melhorou significativamente" a sua eficiência operacional nos últimos três anos, ou ainda o sucesso do programa de formação que levou cerca de 100 técnicos angolanos a Itália para fortificar o funcionamento desta refinaria e a redução das importações de combustíveis e outros refinados.
Esta conversa, de acordo com o comunicado, passou ainda pelo LNG (gás natural) e o desenvolvimento de campos e a produção de gás doméstico.
A ENI reafirmou ainda o papel "fundamental" que Angola tem na estratégia de crescimento orgânico da ENI, empresa que está no País desde 1980, em vários campos petrolíferos, seja offshore, seja onshore.
Entretanto, na página da Presidência, foi divulgado que a ENI pretende investir 7 mil milhões USD em Angola nos próximos quatro anos nas área da produção, pesquisa e refinação, ou ainda em energia solar.
O anúncio, ainda segundo a Presidência, foi feito à margem do encontro, em declarações à imprensa, por Guido Brusco.